Movimento das Palavras Armadas: Cal, solidão e orgulho

10-10-2009
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O sol incendeia a cal e esmaga-se na nudez alva das paredes. As casas estão assolapadas contra o solo. Recolhidas umas às outras como rebanho pela frega da calma. Tudo no Alentejo é horizontal: a terra, o montado de sobro e azinho, as searas, os montes, as aldeias, as vilas. Tudo. Só os homens são verticais, como as faias e os eucaliptos. Solitariamente altivos e graves. De uma gravidade olímpica.Verticais e inteiros no modo de tratar o sol por tu. De lidar com ele como quem lida com a mulher e os filhos. O alentejano acende cigarros nos dedos do sol. O mesmo sol que para lá da penumbra de um postigo se passeia no largo da vila, tão livre, tão livre, como só um rei sem trono pode ser.Rei sem trono é o alentejano. Tal qual o sol: a pagar em solidão o que em altivez lhe sobra.Cada alentejano tem um eremita dentro de si. É uma natureza fechada. Orgulhosa. O silêncio esmaga gritos dentro do peito escancarados. Um ser sóbrio, altivo e solitário carregando aos ombros toda a tragédia que o mundo pode ter. É assim o fruto humano desta "charneca rude" que Florbela cantou. Dono de si próprio.Alentejano: expressão concentrada de todas as matrizes que a solidão pode ter. Toda ela, toda a solidão do mundo, inteirinha no coração de um homem só, riscando nos descampados veredas que nenhum deus guiou. “Olhai o vagabundo que nada tem e leva o sol na algibeira!”, escreveu Manuel da Fonseca.Pedro Ferro, Descubra Portugal. foto alfa, “A caminho de Vila Alva…”


O sol incendeia a cal e esmaga-se na nudez alva das paredes. As casas estão assolapadas contra o solo. Recolhidas umas às outras como rebanho pela frega da calma. Tudo no Alentejo é horizontal: a terra, o montado de sobro e azinho, as searas, os montes, as aldeias, as vilas. Tudo. Só os homens são verticais, como as faias e os eucaliptos. Solitariamente altivos e graves. De uma gravidade olímpica.Verticais e inteiros no modo de tratar o sol por tu. De lidar com ele como quem lida com a mulher e os filhos. O alentejano acende cigarros nos dedos do sol. O mesmo sol que para lá da penumbra de um postigo se passeia no largo da vila, tão livre, tão livre, como só um rei sem trono pode ser.Rei sem trono é o alentejano. Tal qual o sol: a pagar em solidão o que em altivez lhe sobra.Cada alentejano tem um eremita dentro de si. É uma natureza fechada. Orgulhosa. O silêncio esmaga gritos dentro do peito escancarados. Um ser sóbrio, altivo e solitário carregando aos ombros toda a tragédia que o mundo pode ter. É assim o fruto humano desta "charneca rude" que Florbela cantou. Dono de si próprio.Alentejano: expressão concentrada de todas as matrizes que a solidão pode ter. Toda ela, toda a solidão do mundo, inteirinha no coração de um homem só, riscando nos descampados veredas que nenhum deus guiou. “Olhai o vagabundo que nada tem e leva o sol na algibeira!”, escreveu Manuel da Fonseca.Pedro Ferro, Descubra Portugal. foto alfa, “A caminho de Vila Alva…”

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