Todos os Fogos o Fogo: Mudanças em Cuba (ou a falta delas...)

06-10-2009
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Raúl Castro já está no poder há quase três anos e após tímidas medidas liberalizantes, realizou sua primeira reforma de vulto: afastou 11 ministros, incluindo alguns dos principais colaboradores do irmão, como Carlos Lage e Felipe Pérez-Roque (foto). Ambos são jovens para os padrões da liderança cubana, fazem parte da geração que nasceu após a Revolução de 1959 e têm formação profissional mais tecnocrática. É a maior reestruturação já ocorrida na cúpula do regime cubano. Uma das interpretações é que Raúl está substituindo os favoritos de Fidel por seus próprios apadrinhados, sobretudo militares que serviram com ele na guerrilha de Sierra Maestra ou durante as longas décadas em que comandou as Forças Armadas. Nesse sentido, parece mais o retorno da velha guarda do que renovação generacional. Os ministros afastados por Raúl pertenciam ao chamado Grupo de Apoio, uma espécie de Estado-Maior de Fidel. Lage, por exemplo, foi o principal articulador das reformas de abertura econômica durante o “período especial” que se seguiu ao colapso da União Soviética, e era o vice-presidente. Pérez-Roque liderou os esforços diplomáticos da ilha durante dez anos, conseguindo ganhos notáveis como a aproximação com a União Européia, China e Venezuela. Os irmãos Castro são sempre extremamente cuidadosos em se mostrar publicamente de acordo um com ou outro. Fidel deu declarações bombásticas apoiando Raúl e esculhambando com os antigos colaboradores. Eles, no estilo clássico da burocracia comunista, publicaram cartas de arrependimento e auto-crítica, pedindo desculpas por terem falhado com a Revolução. Como Cuba não é a URSS de Stálin, não irão para a Sibéria, mas provavelmente curtirão o tédio (relativo) de uma aposentadoria à beira do Caribe. Há destinos piores.O ritmo das reformas de Raúl já estava lento antes das demissões em massa. Penso que com o afastamento do ministério o atual chefe do governo cubano quis dar um recado: o de que ele é quem decide a velocidade e profundidade das mudanças. Que cedo ou tarde, terão que acontecer. Mas o perfil ideológico e biográfico de Raúl e de seus companheiros aponta para uma postura muito, muito restrita diante de qualquer transformação de maior vulto. Será uma pena se isso significar a perda da oportunidade histórica de abertura com os Estados Unidos, como tem indicado o governo Obama.


Raúl Castro já está no poder há quase três anos e após tímidas medidas liberalizantes, realizou sua primeira reforma de vulto: afastou 11 ministros, incluindo alguns dos principais colaboradores do irmão, como Carlos Lage e Felipe Pérez-Roque (foto). Ambos são jovens para os padrões da liderança cubana, fazem parte da geração que nasceu após a Revolução de 1959 e têm formação profissional mais tecnocrática. É a maior reestruturação já ocorrida na cúpula do regime cubano. Uma das interpretações é que Raúl está substituindo os favoritos de Fidel por seus próprios apadrinhados, sobretudo militares que serviram com ele na guerrilha de Sierra Maestra ou durante as longas décadas em que comandou as Forças Armadas. Nesse sentido, parece mais o retorno da velha guarda do que renovação generacional. Os ministros afastados por Raúl pertenciam ao chamado Grupo de Apoio, uma espécie de Estado-Maior de Fidel. Lage, por exemplo, foi o principal articulador das reformas de abertura econômica durante o “período especial” que se seguiu ao colapso da União Soviética, e era o vice-presidente. Pérez-Roque liderou os esforços diplomáticos da ilha durante dez anos, conseguindo ganhos notáveis como a aproximação com a União Européia, China e Venezuela. Os irmãos Castro são sempre extremamente cuidadosos em se mostrar publicamente de acordo um com ou outro. Fidel deu declarações bombásticas apoiando Raúl e esculhambando com os antigos colaboradores. Eles, no estilo clássico da burocracia comunista, publicaram cartas de arrependimento e auto-crítica, pedindo desculpas por terem falhado com a Revolução. Como Cuba não é a URSS de Stálin, não irão para a Sibéria, mas provavelmente curtirão o tédio (relativo) de uma aposentadoria à beira do Caribe. Há destinos piores.O ritmo das reformas de Raúl já estava lento antes das demissões em massa. Penso que com o afastamento do ministério o atual chefe do governo cubano quis dar um recado: o de que ele é quem decide a velocidade e profundidade das mudanças. Que cedo ou tarde, terão que acontecer. Mas o perfil ideológico e biográfico de Raúl e de seus companheiros aponta para uma postura muito, muito restrita diante de qualquer transformação de maior vulto. Será uma pena se isso significar a perda da oportunidade histórica de abertura com os Estados Unidos, como tem indicado o governo Obama.

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