Centúria Leonina: Plano de Reestruturação Financeira

26-06-2009
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Foram revelados os detalhes do plano de reestruturação financeira do Sporting Clube de Portugal. O plano aparenta ter 3 partes:1º Parte - Renegociação do Project Finance Com esta renegociação, o Sporting baixa consideravelmente a taxa de juro de 6,3% para 4,7%. As taxas de comissionamento baixam também de 300 mil €/ano para 100 mil €/ano. Existe ainda uma diminuição dos montantes exigidos de amortização da dívida bancária de 175 M€ para 109 M€ em 5 anos, o que representa uma poupança considerável de 66 M€. Fala-se que haverá um dilatamento do prazo total de pagamento (não confirmado), o que pode obviamente onerar a operação global. É o preço a pagar pelo alívio imediato, como tantos Portugueses hoje são obrigados a fazer, aumentando o prazo dos seus créditos à habitação de modo a reduzirem a prestação mensal da casa e aliviarem os seus orçamentos familiares.Todas elas eram medidas reclamadas há muito pelos Sportinguistas. Várias têm sido as opiniões de que os nossos credores não nos podem continuar a asfixiar, e que o Sporting devia procurar outras soluções de financiamento a outros consórcios bancários, que permitissem uma redução da taxa de juro e o dilatamento do prazo. Pois bem, tudo isto é conseguido com este plano. Mais importante ainda, é a desobrigação de canalizar as vendas de passes de jogadores para pagamento da dívida, ficando apenas a obrigação de pagar 20% do produto destas vendas. Melhor que a desobrigação, fica o mérito de ser possível reinvestir os restantes 80% no fenómeno desportivo, o que é obviamente positivo. Esta era também uma medida há muito reclamada. Porém, os críticos dizem hoje que a medida é má, pois se o Sporting vender muitos activos, o valor correspondente aos 20% será muito superior ao anterior serviço da dívida e portanto beneficia os credores (como se isso fosse errado). Considero este argumento anacrónico, pois aqueles que o defendem são os mesmo que dizem que o Sporting não deve vender nenhuma das suas jóias, pelo que o argumento cai pela base.2º Parte – Amortização de passivo em 5 anos O plano prevê a amortização de 115,5 M€ em 5 anos. Este pagamento tem como objectivo colocar o passivo em cerca de 139,5 M€, findo este período. O actual presidente do Sporting sempre disse que com o passivo bancário abaixo dos 150 M€ o Clube era governável e competitivo, pelo que a medida parece ser também meritória.Na minha opinião, esta medida tem outro objectivo não confessado. Destina-se a criar uma forte expectativa de recebimento dos credores dos tais 115,5 M€ em 5 anos, sem a qual provavelmente a renegociação do Project Finance não seria possível.A amortização de 115,5 M€ será feita da seguinte forma:60 M€ provenientes da emissão de VMOC;40,5 M€ provenientes da MDC, fruto da alienação dos terrenos do antigo estádio;15 M€ provenientes de saldos de exploração positivos da SAD. Aqui começam as dúvidas. A emissão de 60 M€ em obrigações levanta um sério problema: quem estará disponível para as subscrever, no actual panorama macroeconómico do nosso país? Para aumentar a sua atractividade, as obrigações serão convertidas em acções da SAD. Ainda assim, tal só será atractivo se a SAD se valorizar durante este período, pois cada acção terá tido um custo nominal de 2€ e poderá ser transaccionada no mercado a um valor superior, gerando mais valias aos seus compradores, o que do ponto de vista do Sporting é irrelevante. Já muitíssimo relevante será o facto de que a transformação de 60 M€ em capital social da SAD só ser possível por aumento de capital. Mesmo no caso de uma operação harmónio, as posições relativas dos actuais accionistas podem alterar-se, e até diluir-se. Mesmo aumentando a atractividade das obrigações, o Sporting precaveu-se da possibilidade de elas não serem subscritas na totalidade, e então elas terão tomada firme pelo consórcio bancário. Como não se percebe como é que um consórcio bancário é assim tão camarada quando lhes devemos tanta massa, presume-se que é aqui que os direitos desportivos de Miguel Veloso e João Moutinho entrem como garantia (facto não confirmado). Para terminar a explicação deste passo, convém referir que os 60 M€ provenientes das amortizações são passadas da SAD para o Clube por troca da sociedade Sporting Comércio e Serviços. Pequeno grande detalhe, o facto desta sociedade ser a detentora dos direitos publicitários e transmissões televisivas. Quer isto dizer que, ao se incorporar a SCS na SAD, o negócio da televisão fica totalmente nas mãos de uma sociedade onde existe também uma posição qualificada da Sportinveste (ou seja, Olivedesportos). Para ser mais claro, isto quer dizer que quem compra os direitos televisivos (por um valor vergonhosamente baixo) é também representante de quem o vende, gerando margens pornográficas, de acordo com o que se ouve no mercado. Não serei seguramente o único a detectar aqui um brutal conflito de interesses. 3º Passo – Passagem da Academia Sporting Puma para a SAD Chegamos ao ponto mais polémico. A passagem da Academia para a SAD por um valor não inferior a 22 M€ é justificada como necessária para viabilizar o projecto, ou seja, para valorizar a SAD e assim aumentar a atractividade das VMOC.Sou daqueles que não vê nenhum problema em passar a Academia para a SAD, da mesma forma como não vejo nenhum fantasma na possibilidade futura de o Clube não ser maioritário na SAD. Enquanto o Sporting Clube de Portugal for detentor de acções de classe A, terá sempre o controlo de gestão da SAD, o que é o mesmo que dizer que esta será governada pelos dirigentes do Clube, eleitos pelos sócios. Para mim, as SADs existem para servir os clubes, e dou como exemplo a fantástica conquista da Taça de Portugal no passado Domingo. Todos a festejamos como uma conquista do Sporting e não da SAD. Se algum dia houver a tendência para que o Clube vote a alienação definitiva da SAD cá estarei para dar luta a tal medida.O problema actual é que a Academia está hoje inserida numa zona de forte potencial de valorização. A sua passagem para a SAD pelos valores anunciados inviabiliza uma alienação futura a valores superiores, com a mais valia toda a poder vir a ser encaixada pela Clube e não a ser distribuída sob a forma de dividendos pelos accionistas da SAD (embora eu reconheça que tal nunca aconteceu antes). Não sei se a possibilidade existe, mas sei que esta medida é impopular, inoportuna e levanta fortes suspeitas que o mérito global do projecto não faz desvanecer. Dito isto, a minha apreciação global do plano é extremamente positiva no que diz respeito à renegociação do Project Finance, suportada pela redução prevista de passivo em 5 anos, incluindo a emissão das VMOC, e portanto colhe a minha total aprovação. Já não sou de todo favorável à passagem da Academia para a SAD no contexto actual. Até que demonstrem que tal é indispensável para o sucesso do restante plano, esta última medida não colhe a minha aprovação actual. Lamento portanto as notícias que vieram a público de que a votação dos 3 pontos da próxima Assembleia-geral se farão em conjunto.Termino referindo que subsistem alguns pontos importantes por esclarecer:Depois de ter sido anunciado que a venda de património imobiliário renderia 70M, sabe-se agora que foram apenas 40M. Como se explica esta diferença?Sendo a posição inicial do passivo bancário (tal como tornada pública) de cerca de 270M no início do presente mandato do Conselho Directivo, sabe-se agora que vale 234M+20M. Esperar-se-ia que com 40M de mais valias da alienação de imobiliário a somar às mais valias geradas pela SAD nos últimos dois exercícios esse valor fosse menor. A subida das taxas de juro não explica tudo.Qual foi afinal o valor do negócio com a MDC. Falou-se em 30M + 15M, depois em 27,5M + 17,5M e agora diz-se que será 40,5M. Porque não se negoceiam estes valores, que tanto quanto se sabe foram estabelecidos em 1998 a valores muito abaixo dos valores de mercado?Por último, considero que estas medidas, apesar de estruturantes e necessárias, envolvem uma intervenção no Clube muito para lá do mandato dos actuais corpos sociais. Mereciam portanto um amplo debate público que não foi possível fazer e, no limite, mereciam que fossem sufragadas em eleições, quanto mais não fosse pela necessidade de explicar a passagem de activos do Clube para a SAD, já para não falar da possibilidade de surgirem outras opções alternativas que desta forma não poderão vir a ser consideradas.


Foram revelados os detalhes do plano de reestruturação financeira do Sporting Clube de Portugal. O plano aparenta ter 3 partes:1º Parte - Renegociação do Project Finance Com esta renegociação, o Sporting baixa consideravelmente a taxa de juro de 6,3% para 4,7%. As taxas de comissionamento baixam também de 300 mil €/ano para 100 mil €/ano. Existe ainda uma diminuição dos montantes exigidos de amortização da dívida bancária de 175 M€ para 109 M€ em 5 anos, o que representa uma poupança considerável de 66 M€. Fala-se que haverá um dilatamento do prazo total de pagamento (não confirmado), o que pode obviamente onerar a operação global. É o preço a pagar pelo alívio imediato, como tantos Portugueses hoje são obrigados a fazer, aumentando o prazo dos seus créditos à habitação de modo a reduzirem a prestação mensal da casa e aliviarem os seus orçamentos familiares.Todas elas eram medidas reclamadas há muito pelos Sportinguistas. Várias têm sido as opiniões de que os nossos credores não nos podem continuar a asfixiar, e que o Sporting devia procurar outras soluções de financiamento a outros consórcios bancários, que permitissem uma redução da taxa de juro e o dilatamento do prazo. Pois bem, tudo isto é conseguido com este plano. Mais importante ainda, é a desobrigação de canalizar as vendas de passes de jogadores para pagamento da dívida, ficando apenas a obrigação de pagar 20% do produto destas vendas. Melhor que a desobrigação, fica o mérito de ser possível reinvestir os restantes 80% no fenómeno desportivo, o que é obviamente positivo. Esta era também uma medida há muito reclamada. Porém, os críticos dizem hoje que a medida é má, pois se o Sporting vender muitos activos, o valor correspondente aos 20% será muito superior ao anterior serviço da dívida e portanto beneficia os credores (como se isso fosse errado). Considero este argumento anacrónico, pois aqueles que o defendem são os mesmo que dizem que o Sporting não deve vender nenhuma das suas jóias, pelo que o argumento cai pela base.2º Parte – Amortização de passivo em 5 anos O plano prevê a amortização de 115,5 M€ em 5 anos. Este pagamento tem como objectivo colocar o passivo em cerca de 139,5 M€, findo este período. O actual presidente do Sporting sempre disse que com o passivo bancário abaixo dos 150 M€ o Clube era governável e competitivo, pelo que a medida parece ser também meritória.Na minha opinião, esta medida tem outro objectivo não confessado. Destina-se a criar uma forte expectativa de recebimento dos credores dos tais 115,5 M€ em 5 anos, sem a qual provavelmente a renegociação do Project Finance não seria possível.A amortização de 115,5 M€ será feita da seguinte forma:60 M€ provenientes da emissão de VMOC;40,5 M€ provenientes da MDC, fruto da alienação dos terrenos do antigo estádio;15 M€ provenientes de saldos de exploração positivos da SAD. Aqui começam as dúvidas. A emissão de 60 M€ em obrigações levanta um sério problema: quem estará disponível para as subscrever, no actual panorama macroeconómico do nosso país? Para aumentar a sua atractividade, as obrigações serão convertidas em acções da SAD. Ainda assim, tal só será atractivo se a SAD se valorizar durante este período, pois cada acção terá tido um custo nominal de 2€ e poderá ser transaccionada no mercado a um valor superior, gerando mais valias aos seus compradores, o que do ponto de vista do Sporting é irrelevante. Já muitíssimo relevante será o facto de que a transformação de 60 M€ em capital social da SAD só ser possível por aumento de capital. Mesmo no caso de uma operação harmónio, as posições relativas dos actuais accionistas podem alterar-se, e até diluir-se. Mesmo aumentando a atractividade das obrigações, o Sporting precaveu-se da possibilidade de elas não serem subscritas na totalidade, e então elas terão tomada firme pelo consórcio bancário. Como não se percebe como é que um consórcio bancário é assim tão camarada quando lhes devemos tanta massa, presume-se que é aqui que os direitos desportivos de Miguel Veloso e João Moutinho entrem como garantia (facto não confirmado). Para terminar a explicação deste passo, convém referir que os 60 M€ provenientes das amortizações são passadas da SAD para o Clube por troca da sociedade Sporting Comércio e Serviços. Pequeno grande detalhe, o facto desta sociedade ser a detentora dos direitos publicitários e transmissões televisivas. Quer isto dizer que, ao se incorporar a SCS na SAD, o negócio da televisão fica totalmente nas mãos de uma sociedade onde existe também uma posição qualificada da Sportinveste (ou seja, Olivedesportos). Para ser mais claro, isto quer dizer que quem compra os direitos televisivos (por um valor vergonhosamente baixo) é também representante de quem o vende, gerando margens pornográficas, de acordo com o que se ouve no mercado. Não serei seguramente o único a detectar aqui um brutal conflito de interesses. 3º Passo – Passagem da Academia Sporting Puma para a SAD Chegamos ao ponto mais polémico. A passagem da Academia para a SAD por um valor não inferior a 22 M€ é justificada como necessária para viabilizar o projecto, ou seja, para valorizar a SAD e assim aumentar a atractividade das VMOC.Sou daqueles que não vê nenhum problema em passar a Academia para a SAD, da mesma forma como não vejo nenhum fantasma na possibilidade futura de o Clube não ser maioritário na SAD. Enquanto o Sporting Clube de Portugal for detentor de acções de classe A, terá sempre o controlo de gestão da SAD, o que é o mesmo que dizer que esta será governada pelos dirigentes do Clube, eleitos pelos sócios. Para mim, as SADs existem para servir os clubes, e dou como exemplo a fantástica conquista da Taça de Portugal no passado Domingo. Todos a festejamos como uma conquista do Sporting e não da SAD. Se algum dia houver a tendência para que o Clube vote a alienação definitiva da SAD cá estarei para dar luta a tal medida.O problema actual é que a Academia está hoje inserida numa zona de forte potencial de valorização. A sua passagem para a SAD pelos valores anunciados inviabiliza uma alienação futura a valores superiores, com a mais valia toda a poder vir a ser encaixada pela Clube e não a ser distribuída sob a forma de dividendos pelos accionistas da SAD (embora eu reconheça que tal nunca aconteceu antes). Não sei se a possibilidade existe, mas sei que esta medida é impopular, inoportuna e levanta fortes suspeitas que o mérito global do projecto não faz desvanecer. Dito isto, a minha apreciação global do plano é extremamente positiva no que diz respeito à renegociação do Project Finance, suportada pela redução prevista de passivo em 5 anos, incluindo a emissão das VMOC, e portanto colhe a minha total aprovação. Já não sou de todo favorável à passagem da Academia para a SAD no contexto actual. Até que demonstrem que tal é indispensável para o sucesso do restante plano, esta última medida não colhe a minha aprovação actual. Lamento portanto as notícias que vieram a público de que a votação dos 3 pontos da próxima Assembleia-geral se farão em conjunto.Termino referindo que subsistem alguns pontos importantes por esclarecer:Depois de ter sido anunciado que a venda de património imobiliário renderia 70M, sabe-se agora que foram apenas 40M. Como se explica esta diferença?Sendo a posição inicial do passivo bancário (tal como tornada pública) de cerca de 270M no início do presente mandato do Conselho Directivo, sabe-se agora que vale 234M+20M. Esperar-se-ia que com 40M de mais valias da alienação de imobiliário a somar às mais valias geradas pela SAD nos últimos dois exercícios esse valor fosse menor. A subida das taxas de juro não explica tudo.Qual foi afinal o valor do negócio com a MDC. Falou-se em 30M + 15M, depois em 27,5M + 17,5M e agora diz-se que será 40,5M. Porque não se negoceiam estes valores, que tanto quanto se sabe foram estabelecidos em 1998 a valores muito abaixo dos valores de mercado?Por último, considero que estas medidas, apesar de estruturantes e necessárias, envolvem uma intervenção no Clube muito para lá do mandato dos actuais corpos sociais. Mereciam portanto um amplo debate público que não foi possível fazer e, no limite, mereciam que fossem sufragadas em eleições, quanto mais não fosse pela necessidade de explicar a passagem de activos do Clube para a SAD, já para não falar da possibilidade de surgirem outras opções alternativas que desta forma não poderão vir a ser consideradas.

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