Jazzseen: Quinteto Fantástico

24-07-2009
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O período de uma década parece ter sido insuficiente para aqueles que viveram intensamente os anos setenta. Nunca, em igual período da história recente tantas regras, normas e hábitos foram modificados, substituídos ou mesmo rompidos de forma tão brusca. Na moda, o homem recebeu coleções especificas das grandes grifes a custa da "barra boca de sino na calça xadrez" ou dos horripilantes paletós jeans. Assumiu - sem constrangimento de sua masculinidade - a bolsa a tiracolo como acessório diário repousando-a sobre o ombro ou presa ao pulso numa versão que se convencionou chamar de "capanga". A mulher, diante da variedade de métodos contraceptivos pactuou convivência intima com seu parceiro pelo espaço de horas apenas sem vestígio de culpa alguma ou obrigação de prolongar esse afeto pelo dia seguinte. Nova Iorque sofre blecaute de mais de 12 horas e transformava a longa noite de 12 de julho de 1977 numa sucessão interminável de atos de selvageria e vandalismo que à aproximaram da era pré-histórica onde inexistia - de fato - a luz. Na música se jorrava dinheiro de forma perdulária. Músicos de rock - num exercício de megalomania - compravam jatos comerciais e cruzavam o território americano em turnês de mais 365 dias. Por seu lado, o jazz vivia a melancólica experiência Fusion. Pela primeira vez o estilo definido nas enciclopédias como original e transformador sofria a submissão na mistura com algo que ninguém com pleno uso de sua capacidade mental poderia classificar. Afinal, era um excesso de artifícios eletrônicos, percussivos , teclados , sopros e pedais distorcivos onde até mesmo a voz humana era mecanicamente modificada. Provocando mais surpresas, ruídos e sustos do que simplesmente a sensação de bem-estar. Imerso nessa controversa corrente fusion "até o pescoço" - seja por oportunismo comercial ou por atender um lado mais "experimentalista" - Herbie Hancock (p) sente necessidade em auxiliar o jazz a retomar um "bom caminho", levando seu grandioso legado às novas gerações. Recruta para essa tarefa seus companheiros Ron Carter (b ac), Tony Williams (bat), Wayne Shorter(saxes) e Freddie Hubbard (tromp e flughel) pra formarem um quinteto de nome bem apropriado nessa verdadeira cruzada combativa em 1977. V.S.O.P. (very special old product - tradução livre: produto muito especial envelhecido). Essa abreviação de letras, identificável nos rótulos dos melhores conhaques, endossa procedência e origem num produto de absoluta qualidade. Poderia soar algo como bastante esnobe tamanha ousadia. Porém, os cinco eram músicos devidamente experimentados sendo o mais "caçula" deles - Tony Williams - com 31 anos na época - e Shorter o mais "sênior", com 43 anos. Examinando de forma breve seus currículos se percebia que eles não estavam pra brincadeira. Todos, excetuando Hubbard - por motivos óbvios, fizeram parte do segundo quinteto destacado de Miles Davis em meados dos anos sessenta. Williams, moleque de 17 anos na entrada do grupo, atreveu-se afirmar ainda - quando o grupo foi "desmontado" - que: "Miles aprendeu que não deveria atrapalhar demais as performances dos colegas". Hubbard , definido pelo também trompetista Dave Douglas - por ocasião de sua morte no final de dezembro de 2008 - como um desafiador da lei da física na facilidade e velocidade como alterava e desenvolvia os tempos melódicos e dos próprios limites da harmonia pela simplicidade com que brincava com as notas, já tinha passado pelo teste admissional prévio na melhor formação do Art Blakey and The Jazz Messengers na companhia do próprio Shorter em 1961. Dessa combinação de talentos e virtuosidade formou-se uma entidade coletiva sem espaço para uma batalha de egos ou reinvidicação por maiores cachês individuais. Era apenas o empenho e esforço de músicos extraordinários cientes que dando o melhor de si nessa causa quem ganharia - antes de tudo - era a própria sobrevida do jazz. O resultado dessa, infelizmente, curta experiência pode ser avaliado em dois lps duplos ( The Quintet e Tempest in the Colosseum ambos de 1977 pelo selo Columbia) que saíram em forma de cds em anos distintos. O primeiro, em 1989 e o segundo somente em 2004 para o mercado americano. São dois registros quase brutos (sem praticamente uso ou alteração de efeitos ou correções de estúdio) de concertos gravados ao vivo - para o primeiro disco - respectivamente no auditório da Universidade de Berkeley e no Centro Cívico de São Francisco. O segundo álbum, durante o Festival de Jazz de Tókio, para uma platéia quase contemplativa de mais 10 000 espectadores "hipnotizados" pela exuberância da sonoridade acústica. Se uma corrente de economistas brasileiros defende a tese que a década de 80 foi a desperdiçada, nos anos setenta - por interferência, em parte, desses músicos - no que se refere ao jazz se evitou igual destino. Para os visitantes fica a faixa Byrdlike , do primeiro cd. msn orkut facebook


O período de uma década parece ter sido insuficiente para aqueles que viveram intensamente os anos setenta. Nunca, em igual período da história recente tantas regras, normas e hábitos foram modificados, substituídos ou mesmo rompidos de forma tão brusca. Na moda, o homem recebeu coleções especificas das grandes grifes a custa da "barra boca de sino na calça xadrez" ou dos horripilantes paletós jeans. Assumiu - sem constrangimento de sua masculinidade - a bolsa a tiracolo como acessório diário repousando-a sobre o ombro ou presa ao pulso numa versão que se convencionou chamar de "capanga". A mulher, diante da variedade de métodos contraceptivos pactuou convivência intima com seu parceiro pelo espaço de horas apenas sem vestígio de culpa alguma ou obrigação de prolongar esse afeto pelo dia seguinte. Nova Iorque sofre blecaute de mais de 12 horas e transformava a longa noite de 12 de julho de 1977 numa sucessão interminável de atos de selvageria e vandalismo que à aproximaram da era pré-histórica onde inexistia - de fato - a luz. Na música se jorrava dinheiro de forma perdulária. Músicos de rock - num exercício de megalomania - compravam jatos comerciais e cruzavam o território americano em turnês de mais 365 dias. Por seu lado, o jazz vivia a melancólica experiência Fusion. Pela primeira vez o estilo definido nas enciclopédias como original e transformador sofria a submissão na mistura com algo que ninguém com pleno uso de sua capacidade mental poderia classificar. Afinal, era um excesso de artifícios eletrônicos, percussivos , teclados , sopros e pedais distorcivos onde até mesmo a voz humana era mecanicamente modificada. Provocando mais surpresas, ruídos e sustos do que simplesmente a sensação de bem-estar. Imerso nessa controversa corrente fusion "até o pescoço" - seja por oportunismo comercial ou por atender um lado mais "experimentalista" - Herbie Hancock (p) sente necessidade em auxiliar o jazz a retomar um "bom caminho", levando seu grandioso legado às novas gerações. Recruta para essa tarefa seus companheiros Ron Carter (b ac), Tony Williams (bat), Wayne Shorter(saxes) e Freddie Hubbard (tromp e flughel) pra formarem um quinteto de nome bem apropriado nessa verdadeira cruzada combativa em 1977. V.S.O.P. (very special old product - tradução livre: produto muito especial envelhecido). Essa abreviação de letras, identificável nos rótulos dos melhores conhaques, endossa procedência e origem num produto de absoluta qualidade. Poderia soar algo como bastante esnobe tamanha ousadia. Porém, os cinco eram músicos devidamente experimentados sendo o mais "caçula" deles - Tony Williams - com 31 anos na época - e Shorter o mais "sênior", com 43 anos. Examinando de forma breve seus currículos se percebia que eles não estavam pra brincadeira. Todos, excetuando Hubbard - por motivos óbvios, fizeram parte do segundo quinteto destacado de Miles Davis em meados dos anos sessenta. Williams, moleque de 17 anos na entrada do grupo, atreveu-se afirmar ainda - quando o grupo foi "desmontado" - que: "Miles aprendeu que não deveria atrapalhar demais as performances dos colegas". Hubbard , definido pelo também trompetista Dave Douglas - por ocasião de sua morte no final de dezembro de 2008 - como um desafiador da lei da física na facilidade e velocidade como alterava e desenvolvia os tempos melódicos e dos próprios limites da harmonia pela simplicidade com que brincava com as notas, já tinha passado pelo teste admissional prévio na melhor formação do Art Blakey and The Jazz Messengers na companhia do próprio Shorter em 1961. Dessa combinação de talentos e virtuosidade formou-se uma entidade coletiva sem espaço para uma batalha de egos ou reinvidicação por maiores cachês individuais. Era apenas o empenho e esforço de músicos extraordinários cientes que dando o melhor de si nessa causa quem ganharia - antes de tudo - era a própria sobrevida do jazz. O resultado dessa, infelizmente, curta experiência pode ser avaliado em dois lps duplos ( The Quintet e Tempest in the Colosseum ambos de 1977 pelo selo Columbia) que saíram em forma de cds em anos distintos. O primeiro, em 1989 e o segundo somente em 2004 para o mercado americano. São dois registros quase brutos (sem praticamente uso ou alteração de efeitos ou correções de estúdio) de concertos gravados ao vivo - para o primeiro disco - respectivamente no auditório da Universidade de Berkeley e no Centro Cívico de São Francisco. O segundo álbum, durante o Festival de Jazz de Tókio, para uma platéia quase contemplativa de mais 10 000 espectadores "hipnotizados" pela exuberância da sonoridade acústica. Se uma corrente de economistas brasileiros defende a tese que a década de 80 foi a desperdiçada, nos anos setenta - por interferência, em parte, desses músicos - no que se refere ao jazz se evitou igual destino. Para os visitantes fica a faixa Byrdlike , do primeiro cd. msn orkut facebook

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