Split Screen: Milk, por Carlos Antunes

06-10-2009
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Título original: Milk Realização: Gus Van Sant Argumento: Dustin Lance Black Elenco: Sean Penn, Emile Hirsch, Josh Brolin, Diego Luna e James Franco O último plano de Milk é da longa procissão de velas que ocorreu em memória de Harvey Milk.
É um plano fácil para quem pretende arrancar emoções ao público, mas é também muitas vezes imerecido pelo filme que acabámos de ver (e logo à mente me vem Pay it Forward, só para dar um exemplo fora do espectro dos telefilmes que a TVI gosta de passar).
Mas em Milk não há outro plano a fazer mais sentido do que aquele, não há filme com mais mérito de comover assim o espectador!
Tudo antes foi tão profundamente sóbrio, inteligente, carinhoso, sem um grão de manipulação que chegados ali temos a certeza de que não há nada mais lógico do que aquela cena, que está para lá do Cinema, está mesmo para lá da Vida que foi a de Harvey Milk.
Um defensor dos direitos civis e, por força maior, dos direitos dos homossexuais, Harvey Milk levou uma vida de valor maior para a nossa concepção de Humanidade e, certamente, para a nossa concepção de Cinema.
A sensibilidade de Gus Van Sant (sensibilidade artística, entenda-se, pois não pretendo entrar no facilitismo intelectual de aproximar a homossexualidade de personagem e realizador) a par do perfeito (e não uso a palavra de ânimo leve) argumento de Dustin Lance Black que tornam a vida deste homem no eixo central das transformações sociopolíticas da São Francisco da década de 1970 ao mesmo tempo que isso afecta a sua vida privada de forma absolutamente intensa.
A forma como lidam com o turbilhão que foi Harvey Milk e a sua vida tem uma simplicidade quase naturalista, de observação, de quem vê uma vida à sua frente e a admira.
Não há aqui heroísmos vagos, mas sim um homem com capacidade de se rir de si mesmo enquanto guarda a sua raiva para a batalha política que, mais do que anunciada, ele tem de induzir e chamar a si!
Um homem que por iludir os outros a rirem-se de si mesmo os vence nessa raiva de brilhante lucidez!
Este é uma personagem de corpo inteiro.
Graças, também, a Sean Penn, claro.
Sean Penn é Harvey Milk e se me mostrarem imagens originais direi que é falso aquele que ali se apresenta!
Não se trata de criar um uma figura radical superando os acontecimentos, mas antes de criar um homem de total evidência, com quem todos podem criar a dose certa de empatia.
Sean Penn é – mais uma vez – brilhante, numa interpretação que por si só valeria todo o filme.
Felizmente, está devidamente acompanhado pelos mais talentosos artesãos, Van Sant e Lance Black.
Um trio que sente verdadeiramente Harvey Milk e o significado extraordinário da sua vida, com toda a desarmante admiração, apreço e carinho que se poderiam pedir de um projecto assim.
(Foto retirada do San Francisco Sentinel) No final, conhecemos uma década imensa de um homem e de uma cidade que não voltarão a entrar na nossa memória e na nossa visão da mesma forma.
Harvey Milk tocou-me e quem me dera ter podido participar naquela procissão de velas, que só ele e este filme poderiam merecer!


Título original: Milk Realização: Gus Van Sant Argumento: Dustin Lance Black Elenco: Sean Penn, Emile Hirsch, Josh Brolin, Diego Luna e James Franco O último plano de Milk é da longa procissão de velas que ocorreu em memória de Harvey Milk.
É um plano fácil para quem pretende arrancar emoções ao público, mas é também muitas vezes imerecido pelo filme que acabámos de ver (e logo à mente me vem Pay it Forward, só para dar um exemplo fora do espectro dos telefilmes que a TVI gosta de passar).
Mas em Milk não há outro plano a fazer mais sentido do que aquele, não há filme com mais mérito de comover assim o espectador!
Tudo antes foi tão profundamente sóbrio, inteligente, carinhoso, sem um grão de manipulação que chegados ali temos a certeza de que não há nada mais lógico do que aquela cena, que está para lá do Cinema, está mesmo para lá da Vida que foi a de Harvey Milk.
Um defensor dos direitos civis e, por força maior, dos direitos dos homossexuais, Harvey Milk levou uma vida de valor maior para a nossa concepção de Humanidade e, certamente, para a nossa concepção de Cinema.
A sensibilidade de Gus Van Sant (sensibilidade artística, entenda-se, pois não pretendo entrar no facilitismo intelectual de aproximar a homossexualidade de personagem e realizador) a par do perfeito (e não uso a palavra de ânimo leve) argumento de Dustin Lance Black que tornam a vida deste homem no eixo central das transformações sociopolíticas da São Francisco da década de 1970 ao mesmo tempo que isso afecta a sua vida privada de forma absolutamente intensa.
A forma como lidam com o turbilhão que foi Harvey Milk e a sua vida tem uma simplicidade quase naturalista, de observação, de quem vê uma vida à sua frente e a admira.
Não há aqui heroísmos vagos, mas sim um homem com capacidade de se rir de si mesmo enquanto guarda a sua raiva para a batalha política que, mais do que anunciada, ele tem de induzir e chamar a si!
Um homem que por iludir os outros a rirem-se de si mesmo os vence nessa raiva de brilhante lucidez!
Este é uma personagem de corpo inteiro.
Graças, também, a Sean Penn, claro.
Sean Penn é Harvey Milk e se me mostrarem imagens originais direi que é falso aquele que ali se apresenta!
Não se trata de criar um uma figura radical superando os acontecimentos, mas antes de criar um homem de total evidência, com quem todos podem criar a dose certa de empatia.
Sean Penn é – mais uma vez – brilhante, numa interpretação que por si só valeria todo o filme.
Felizmente, está devidamente acompanhado pelos mais talentosos artesãos, Van Sant e Lance Black.
Um trio que sente verdadeiramente Harvey Milk e o significado extraordinário da sua vida, com toda a desarmante admiração, apreço e carinho que se poderiam pedir de um projecto assim.
(Foto retirada do San Francisco Sentinel) No final, conhecemos uma década imensa de um homem e de uma cidade que não voltarão a entrar na nossa memória e na nossa visão da mesma forma.
Harvey Milk tocou-me e quem me dera ter podido participar naquela procissão de velas, que só ele e este filme poderiam merecer!

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