Sacanas e Sentimentais: ode para um zé pires qualquer (poema)

02-10-2009
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nasci lá nos barrocaise o mê nome é zé piresfui pastor e fui ganhãopalmilhei o alentejobotei filhos em mulherese nos alcanchais perdinoutes fugindo da leiera eu mui novo entãomondava os campos de trigopruma jorna de misériaquando o galo do ti pedroadregava amanhecerjá me pusera à margiaqu’era longe o mê patrãolá pró meio do caminhoencontrava a rosa amado-uma poldra redondinha - que se mordia aluadae comigo chafurdounos lamaçais da herdadepus-lhes os tampos numa fonae a melra pôs-se a bradarqu’eu a tinha desgraçadovai daí o velho amado-que m’engula o infernos’isto que digo é mentira- agarrou na de dois canose antes que lhe aprouvesseromper-me a pele com elabotei-lhe as tripas ao sole rais parta a minha sortemais a minha sevilhanaele esticou o pernilprantou-se a justiça a mime que remédio senhoressem arreceber a jornacom um pão sem condutofez-se o zé pires maltêsninguém chorou qu’eu cá moçaera arranjo que nã tinhaparentes nã conheciaem riba da porca terraa nha mãe - que me desseram -era uma bonitezatratava do manualdo mê pai silvestre piresele qu’era môraldas vacas do unha grandepra nã pagar o trabalho-um dia oito mil réise azête prá semana-apalavrou-se com eladepois dos pregões botadoslá se casaram os doisveio um padre da cedadee um coxo sacristãofoi festa rija senhoreso povo sempre a bailarp’la noute toda adiante um dia - p’lo s. joão -chegaram prá acêfaratinhos mal-encaradosos patrões - essa canalha -deu-lhes o faro - a tantos passosfedia a fome desses beirões -e vá d’abaxar o preçocom que pagavam ganhõesos homens cá da nha terraque os têm no lugarbotaram-se a caminhodo monte do unha grandedeitaram palavra rijaque um homemsó s’agacha pra cagarmas ele largou-lhe os cãese a guarda qu’é brutapra quem nã tem massarocaprendeu os chefes e deu-lesporrada plo dia inteirodepois foram pra lisboap’ra outra polícia que quisca modos fossem polítecose os deixou lá dois anoso mê pai estava com eles quando voltou p’rá viladisse-lhe o bento - ó silvestreum dos ratinhos - daqueles -armou-te em chavelhudofoi o mê pai encontradona nora velha do picoé por isso que o zé piresjá nã tem ninguém no mundodepois d’andar a monte-prás bandas de montemor - seis meses e cinco diasprantei-me a dormir ao soldebaxo dumas sobrêrasduas pegas estrangeradasqu’eu enxerguei pela falasentaram-se ao pé do zéeu cá nã nas percebiadezia a tudo que simderam-me galinha e cigarrose mais outras porcariasa fome era tão grandequ’eu tudo botava abaxocalculem que depoiselas inté me despirameram duas e só euarrimei-lhe a conta delas“ nã há nada mais prefêtodo cum homem satesfêto”foram tempos assenteios anos iam passandoo corpo já nã queriapassar a noute ó relentobotei o alforge no chãoperguntei ao lagariçose precisavam dum moçop’rá altura da debulhaempreguê-me na herdadearranjei mulher e filhose nas noutes de invernosentado junto ao madêrojá sonhava ver os netosem riba dos mês joelhosmas nesta vida senhoresnã se pode sossegarmandei prá escola o miúdoe ele já nã quer pararse vou dezer ao patrãoco denhero nã m’achegaele é capaz de largaros guardas e cães a mime lá começa de novo o gaiato a maltezar eu em lisboa a penara moenga nã tem fim


nasci lá nos barrocaise o mê nome é zé piresfui pastor e fui ganhãopalmilhei o alentejobotei filhos em mulherese nos alcanchais perdinoutes fugindo da leiera eu mui novo entãomondava os campos de trigopruma jorna de misériaquando o galo do ti pedroadregava amanhecerjá me pusera à margiaqu’era longe o mê patrãolá pró meio do caminhoencontrava a rosa amado-uma poldra redondinha - que se mordia aluadae comigo chafurdounos lamaçais da herdadepus-lhes os tampos numa fonae a melra pôs-se a bradarqu’eu a tinha desgraçadovai daí o velho amado-que m’engula o infernos’isto que digo é mentira- agarrou na de dois canose antes que lhe aprouvesseromper-me a pele com elabotei-lhe as tripas ao sole rais parta a minha sortemais a minha sevilhanaele esticou o pernilprantou-se a justiça a mime que remédio senhoressem arreceber a jornacom um pão sem condutofez-se o zé pires maltêsninguém chorou qu’eu cá moçaera arranjo que nã tinhaparentes nã conheciaem riba da porca terraa nha mãe - que me desseram -era uma bonitezatratava do manualdo mê pai silvestre piresele qu’era môraldas vacas do unha grandepra nã pagar o trabalho-um dia oito mil réise azête prá semana-apalavrou-se com eladepois dos pregões botadoslá se casaram os doisveio um padre da cedadee um coxo sacristãofoi festa rija senhoreso povo sempre a bailarp’la noute toda adiante um dia - p’lo s. joão -chegaram prá acêfaratinhos mal-encaradosos patrões - essa canalha -deu-lhes o faro - a tantos passosfedia a fome desses beirões -e vá d’abaxar o preçocom que pagavam ganhõesos homens cá da nha terraque os têm no lugarbotaram-se a caminhodo monte do unha grandedeitaram palavra rijaque um homemsó s’agacha pra cagarmas ele largou-lhe os cãese a guarda qu’é brutapra quem nã tem massarocaprendeu os chefes e deu-lesporrada plo dia inteirodepois foram pra lisboap’ra outra polícia que quisca modos fossem polítecose os deixou lá dois anoso mê pai estava com eles quando voltou p’rá viladisse-lhe o bento - ó silvestreum dos ratinhos - daqueles -armou-te em chavelhudofoi o mê pai encontradona nora velha do picoé por isso que o zé piresjá nã tem ninguém no mundodepois d’andar a monte-prás bandas de montemor - seis meses e cinco diasprantei-me a dormir ao soldebaxo dumas sobrêrasduas pegas estrangeradasqu’eu enxerguei pela falasentaram-se ao pé do zéeu cá nã nas percebiadezia a tudo que simderam-me galinha e cigarrose mais outras porcariasa fome era tão grandequ’eu tudo botava abaxocalculem que depoiselas inté me despirameram duas e só euarrimei-lhe a conta delas“ nã há nada mais prefêtodo cum homem satesfêto”foram tempos assenteios anos iam passandoo corpo já nã queriapassar a noute ó relentobotei o alforge no chãoperguntei ao lagariçose precisavam dum moçop’rá altura da debulhaempreguê-me na herdadearranjei mulher e filhose nas noutes de invernosentado junto ao madêrojá sonhava ver os netosem riba dos mês joelhosmas nesta vida senhoresnã se pode sossegarmandei prá escola o miúdoe ele já nã quer pararse vou dezer ao patrãoco denhero nã m’achegaele é capaz de largaros guardas e cães a mime lá começa de novo o gaiato a maltezar eu em lisboa a penara moenga nã tem fim

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