Sacanas e Sentimentais: A minha mulher anda cinzentinha

01-10-2009
marcar artigo


Duvidar e agir, agir e perguntar, eis o meu lema. Na vida e na escrita.Duvidar e Agir, Arte de Marear, Manuel AlegreAndo a ficar basto desconfortável. Por causa da cor da minha mulher.Eu conto. Sempre foi radiosa e brilhante. Inteligente e activa não parava um momento. Gostava do seu trabalho e entregava-se a ele com devoção diária e sem ligar a tempos nem horários.Achava que mais que uma profissão tinha uma missão. Por isso preteriu propostas de emprego mais bem remuneradas e aparentemente mais prestigiosas. Mas não! Era aquilo que ela queria e nada mais a motivava.Por vezes, pensava eu, e ainda penso, era de mais! No meu materialismo rasteiro não compreendia a sua entrega total a um trabalho tão mal pago e com tantas e tantas horas doadas, nem sequer reconhecidas como tal. Mas ela não se importava, continuava a pensar que o seu trabalho era importante e dele dependeria, de alguma forma, o futuro de todos nós.Todos os anos fazíamos projectos de fins-de-semana magníficos. Todos os anos, em quase todos os fins de semana, adiávamos para o fim-de-semana seguinte o magnífico projecto, porque um trabalho, uma pesquisa, uma actualização ou uma proposta nova – entre tantas outras coisas – vinha impossibilitar a realização do programa desejado.Então projectava-se uma mais comezinha ida ao cinema, a um concerto, ao teatro e… não íamos porque algo se tinha complicado e era preciso mais tempo, mais estudo, mais trabalho.E o dinheiro gasto em livros para actualização? E o tempo para pesquisar em bibliotecas e livrarias?Incontáveis, meus senhores! Tudo a suas expensas em horas e dinheiros!!...Mas, apesar disso, a minha mulher continuava luminosa e activa a destilar espírito de missão.Só que, há uns tempos para trás, começou a acinzentar. Arrasta-se, parece deprimida e olha para as coisas, que tanto a entusiasmaram, com um “olhar distanciado” entre o baço e o displicente.Cheio de desespero e de frustração perguntei-lhe se a podia ajudar? De que sofria? Respondeu-me, desalentadamente, que a não poderia auxiliar e pensava mesmo que ninguém, a curto prazo, o poderia fazer.Sofre, confessou-me com alguma vergonha, de ser professora do ensino secundário!Dei-lhe toda a razão! Este mal, nestes tempos, não tem mesmo remédio nenhum.


Duvidar e agir, agir e perguntar, eis o meu lema. Na vida e na escrita.Duvidar e Agir, Arte de Marear, Manuel AlegreAndo a ficar basto desconfortável. Por causa da cor da minha mulher.Eu conto. Sempre foi radiosa e brilhante. Inteligente e activa não parava um momento. Gostava do seu trabalho e entregava-se a ele com devoção diária e sem ligar a tempos nem horários.Achava que mais que uma profissão tinha uma missão. Por isso preteriu propostas de emprego mais bem remuneradas e aparentemente mais prestigiosas. Mas não! Era aquilo que ela queria e nada mais a motivava.Por vezes, pensava eu, e ainda penso, era de mais! No meu materialismo rasteiro não compreendia a sua entrega total a um trabalho tão mal pago e com tantas e tantas horas doadas, nem sequer reconhecidas como tal. Mas ela não se importava, continuava a pensar que o seu trabalho era importante e dele dependeria, de alguma forma, o futuro de todos nós.Todos os anos fazíamos projectos de fins-de-semana magníficos. Todos os anos, em quase todos os fins de semana, adiávamos para o fim-de-semana seguinte o magnífico projecto, porque um trabalho, uma pesquisa, uma actualização ou uma proposta nova – entre tantas outras coisas – vinha impossibilitar a realização do programa desejado.Então projectava-se uma mais comezinha ida ao cinema, a um concerto, ao teatro e… não íamos porque algo se tinha complicado e era preciso mais tempo, mais estudo, mais trabalho.E o dinheiro gasto em livros para actualização? E o tempo para pesquisar em bibliotecas e livrarias?Incontáveis, meus senhores! Tudo a suas expensas em horas e dinheiros!!...Mas, apesar disso, a minha mulher continuava luminosa e activa a destilar espírito de missão.Só que, há uns tempos para trás, começou a acinzentar. Arrasta-se, parece deprimida e olha para as coisas, que tanto a entusiasmaram, com um “olhar distanciado” entre o baço e o displicente.Cheio de desespero e de frustração perguntei-lhe se a podia ajudar? De que sofria? Respondeu-me, desalentadamente, que a não poderia auxiliar e pensava mesmo que ninguém, a curto prazo, o poderia fazer.Sofre, confessou-me com alguma vergonha, de ser professora do ensino secundário!Dei-lhe toda a razão! Este mal, nestes tempos, não tem mesmo remédio nenhum.

marcar artigo