Sacanas e Sentimentais: habitualmente zeloso e cumpridor (poema)

02-10-2009
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Iestás tramado meu lírico burocratade empresa quase falida neste tempo de terceiro-mundoem vésperas de europaestás bem lixado com tudo quanto inopinado sobre ti desabae te afugenta as sonhadas planícies do lazerseguidas até ao servilismolá se vai o teu sossegado apartamento entranhadode pequenas cobardias apenas choradas quandoas tuas asas de anjo cumpridor se abatemna imagem de eunuco pálido habilmente alimentado a restosde ilusão por imagens coloridas tala superfície fria e inabitável por detrás da luzefémera com absolutos sentimentos de realidadevultejando no horizonte de uma chuva de jardimespalhando outonos e restos de jornaisadivinhas no passado o trânsito onde foste transviadoe te transformou nessa máquina de obrigações e ordensmineral que abdicou de si para naufragar noestrume colorido de uma hierarquia quepasseava o brilho da sua eternidade na sombra esmolerda tua sombra caverna degenerada de desejono todo circunspecto de quem sempre viu o que foi grandeo que foi belo o que foi tudofeito pelos outros eapenas existia porque se enquadrava no sagrado organogramade um regime de uma empresa ou de um partidoIIImeu palerma em psicatto pústula de raiva que casaste com uma genovevacom paixão adquirida por empréstimo no coração do fastioque já dez dias antes do casamento te predispunhas ao sacrifícioe te quiseste heróico e aguentaste o patau pensando sobretudono que os outros diriam no momento em quepor te saberem tão naboalinhavam escárnios na tua frente e tuno estoicismo barato do teu comportamentotentavas a vingança dominando o espelho de tédionos olhos de uma prostituta quandoos americanos desciam na lua e acertavascom um doze no totobola acreditando queem nome da humanidadepousavas sobre o corpo de selene sondavas um discursoenquanto passeavas pelo vídeo a tua refeição de aparênciassorrindo com raivinhas fundas por um diapor qualquer distracção um qualquer jardineiro nem sequermal-intencionado terpodado a haste da vida que em ti cresciana verdade enquanto a vida perpassas linearoutros requerem o incómodo das coisas transgressorasdas iniquidades num interior de forçaprocurada nas origens do ribeiro que estáno outro lado da infância e aparentes e loucoscolocam todos os dias um padrão de fogono interior das estrelasIIInum destes dias pequenos e pacatosmeu cidadão do nada envolvido subtilmente nos brancosde um consórcio mantido à força de regulamentospor entre rendas e preceitos vigentesmorrerás coma) um padre à cabeceira da extrema-unçãob) o oficialmente incontrolável choro da tua viúva imersa nos tranquilizantes recomendados para situações congéneresc) inquietos no seu enquadramento os filhos e os netos buscadores de testamentos e legais benessesd) as flores os lutos as mulheres da casa preparando o momento do trespasse que se quer composto digno em família mas letalcontudo latente a intriga rodeia os herdeirosporquecá fora a vida segue noutras máquinascumpridoras zelosas e pacatasescondedoras do ódio que as consomeque já cobriram o espaço que deixastee arrastam o teu cadáver sem peso e sem remorsosaté ao dia em que súbito aos seus ouvidosalguém murmurar as insofridas palavras"estás tramado meu lírico burocrata"


Iestás tramado meu lírico burocratade empresa quase falida neste tempo de terceiro-mundoem vésperas de europaestás bem lixado com tudo quanto inopinado sobre ti desabae te afugenta as sonhadas planícies do lazerseguidas até ao servilismolá se vai o teu sossegado apartamento entranhadode pequenas cobardias apenas choradas quandoas tuas asas de anjo cumpridor se abatemna imagem de eunuco pálido habilmente alimentado a restosde ilusão por imagens coloridas tala superfície fria e inabitável por detrás da luzefémera com absolutos sentimentos de realidadevultejando no horizonte de uma chuva de jardimespalhando outonos e restos de jornaisadivinhas no passado o trânsito onde foste transviadoe te transformou nessa máquina de obrigações e ordensmineral que abdicou de si para naufragar noestrume colorido de uma hierarquia quepasseava o brilho da sua eternidade na sombra esmolerda tua sombra caverna degenerada de desejono todo circunspecto de quem sempre viu o que foi grandeo que foi belo o que foi tudofeito pelos outros eapenas existia porque se enquadrava no sagrado organogramade um regime de uma empresa ou de um partidoIIImeu palerma em psicatto pústula de raiva que casaste com uma genovevacom paixão adquirida por empréstimo no coração do fastioque já dez dias antes do casamento te predispunhas ao sacrifícioe te quiseste heróico e aguentaste o patau pensando sobretudono que os outros diriam no momento em quepor te saberem tão naboalinhavam escárnios na tua frente e tuno estoicismo barato do teu comportamentotentavas a vingança dominando o espelho de tédionos olhos de uma prostituta quandoos americanos desciam na lua e acertavascom um doze no totobola acreditando queem nome da humanidadepousavas sobre o corpo de selene sondavas um discursoenquanto passeavas pelo vídeo a tua refeição de aparênciassorrindo com raivinhas fundas por um diapor qualquer distracção um qualquer jardineiro nem sequermal-intencionado terpodado a haste da vida que em ti cresciana verdade enquanto a vida perpassas linearoutros requerem o incómodo das coisas transgressorasdas iniquidades num interior de forçaprocurada nas origens do ribeiro que estáno outro lado da infância e aparentes e loucoscolocam todos os dias um padrão de fogono interior das estrelasIIInum destes dias pequenos e pacatosmeu cidadão do nada envolvido subtilmente nos brancosde um consórcio mantido à força de regulamentospor entre rendas e preceitos vigentesmorrerás coma) um padre à cabeceira da extrema-unçãob) o oficialmente incontrolável choro da tua viúva imersa nos tranquilizantes recomendados para situações congéneresc) inquietos no seu enquadramento os filhos e os netos buscadores de testamentos e legais benessesd) as flores os lutos as mulheres da casa preparando o momento do trespasse que se quer composto digno em família mas letalcontudo latente a intriga rodeia os herdeirosporquecá fora a vida segue noutras máquinascumpridoras zelosas e pacatasescondedoras do ódio que as consomeque já cobriram o espaço que deixastee arrastam o teu cadáver sem peso e sem remorsosaté ao dia em que súbito aos seus ouvidosalguém murmurar as insofridas palavras"estás tramado meu lírico burocrata"

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