IDa explosão dos diasem fulgor rubrote falo euna curva verde da distância.O tempo parou-teno umbral.A fenda claraentrava mansamenteno obscuro domínio.Serenadormia a casa.Só tu de olhosclaros de luzcolhias a manhã inicial.Parada na porta.Mãos num gestode abraço,ouvindo a melodia da luztu bailavas ...quieta!Um pé teu avançou súbitopara o azul do voo.Mas recolheste,o movimentoainda com o corpo quenteda matinal luminosidade.IIEncostas a porta.Do jardim, chega-te o trinado dos melros.Sentes intenso o aroma das violetas.Por isso, fechas a portae devolves-te à sombra.Por ela te movescom a elegância segura e sinuosados cegos.Ecoa no teu corpoa memória do fulgor.Pegas na rotina espalhadapela cozinhae vais ordenando aquele mundo:as torradas para os miúdos,o chocolate,o sumo para o Zé-Tó ...e o aroma mágico do café,eficaz mensageiroque envias pela casa.Confirmas ... – as cortinas estãocorridas!São azuis e deixam-te uma nesga de horizonte,por onde teimosaentra a luz melodiosa.Saltam enérgicas as torradas!Fazes correr a manteiga pelo dorso do pão quente!E no centro da mesa,ternamente dispõesa fruta vermelha .Ao lado, no tabuleiroas chávenas para o café.Duas.Brancas. Com um pássaroazul,em voo.Esquecida da ruaadmiras o quadro composto...Perfeito!Nos tons,na harmonia entre as coisas.Nada esquecido. Nem o pannier de linho cru.Levantas-te precipitadamente:as cascas de laranjaperturbam-te.A faca tombada na bancadacomo gente sem rumoarrepia-te.Arrumas tudo.Estirada na cadeiralanças um olhar pela mesa– podia ser uma bela natureza morta! – pensas.Depois, esperas ...mordiscando uma torrada distraída.O café esquecido arrefece na chávena.Por isso te lembroa negada explosão dos diasrubros,únicos.A luz baçaazuladaalastra-se pela cozinhaembalando-te na espera.A quietude da casapermaneceintacta.É nesse instante,que fechas os olhos,e percorrendo sôfregaa sombraentregas o teu corpoao transe da luz amanhecida.
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IDa explosão dos diasem fulgor rubrote falo euna curva verde da distância.O tempo parou-teno umbral.A fenda claraentrava mansamenteno obscuro domínio.Serenadormia a casa.Só tu de olhosclaros de luzcolhias a manhã inicial.Parada na porta.Mãos num gestode abraço,ouvindo a melodia da luztu bailavas ...quieta!Um pé teu avançou súbitopara o azul do voo.Mas recolheste,o movimentoainda com o corpo quenteda matinal luminosidade.IIEncostas a porta.Do jardim, chega-te o trinado dos melros.Sentes intenso o aroma das violetas.Por isso, fechas a portae devolves-te à sombra.Por ela te movescom a elegância segura e sinuosados cegos.Ecoa no teu corpoa memória do fulgor.Pegas na rotina espalhadapela cozinhae vais ordenando aquele mundo:as torradas para os miúdos,o chocolate,o sumo para o Zé-Tó ...e o aroma mágico do café,eficaz mensageiroque envias pela casa.Confirmas ... – as cortinas estãocorridas!São azuis e deixam-te uma nesga de horizonte,por onde teimosaentra a luz melodiosa.Saltam enérgicas as torradas!Fazes correr a manteiga pelo dorso do pão quente!E no centro da mesa,ternamente dispõesa fruta vermelha .Ao lado, no tabuleiroas chávenas para o café.Duas.Brancas. Com um pássaroazul,em voo.Esquecida da ruaadmiras o quadro composto...Perfeito!Nos tons,na harmonia entre as coisas.Nada esquecido. Nem o pannier de linho cru.Levantas-te precipitadamente:as cascas de laranjaperturbam-te.A faca tombada na bancadacomo gente sem rumoarrepia-te.Arrumas tudo.Estirada na cadeiralanças um olhar pela mesa– podia ser uma bela natureza morta! – pensas.Depois, esperas ...mordiscando uma torrada distraída.O café esquecido arrefece na chávena.Por isso te lembroa negada explosão dos diasrubros,únicos.A luz baçaazuladaalastra-se pela cozinhaembalando-te na espera.A quietude da casapermaneceintacta.É nesse instante,que fechas os olhos,e percorrendo sôfregaa sombraentregas o teu corpoao transe da luz amanhecida.