DESCREDITO !: Lembrança de Muriel

21-05-2009
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Lembro-me agora que tenho de marcar umencontro contigo, num sítio em que ambosnos possamos falar, de facto, sem que nenhumadas ocorrências da vida venhainterferir no que temos para nos dizer. Muitasvezes me lembrei de que esse sítio podiaser, até, um lugar sem nada de especial,como um canto de café, em frente de um espelhoque podia servir de pretextopara reflectir a alma, a impressão da tarde,o último estertor do dia antes de nos despedirmos,quando é preciso encontrar uma fórmula quedisfarce o que, afinal, não conseguimos dizer.É que o amor nem sempre é uma palavra de uso,aquela que permite a passagem à comunicaçãomais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nósleve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprioser, como se uma troca de almas fosse possívelneste mundo. Então é natural que voltes atrás eme peças: Vem comigo!, e devo dizer-te que muitasvezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,isto é, a porta tinha-se fechado até outrodia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e entãoas palavras caem no vazio, como se nunca tivessemsido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcarum encontro contigo, sei que é irremediável o que temospara dizer um ao outro: a confissão mais exacta, queé também a mais absurda, de um sentimento; e, portrás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no diaseguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as coresdo céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamosencontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em queo vento poderá soprar do norte, como se fosse daíque viessem, nessa altura, as coisas mais preciosas,que são as nossas: o verde das folhas e o amarelodas pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.

Lembro-me agora que tenho de marcar umencontro contigo, num sítio em que ambosnos possamos falar, de facto, sem que nenhumadas ocorrências da vida venhainterferir no que temos para nos dizer. Muitasvezes me lembrei de que esse sítio podiaser, até, um lugar sem nada de especial,como um canto de café, em frente de um espelhoque podia servir de pretextopara reflectir a alma, a impressão da tarde,o último estertor do dia antes de nos despedirmos,quando é preciso encontrar uma fórmula quedisfarce o que, afinal, não conseguimos dizer.É que o amor nem sempre é uma palavra de uso,aquela que permite a passagem à comunicaçãomais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nósleve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprioser, como se uma troca de almas fosse possívelneste mundo. Então é natural que voltes atrás eme peças: Vem comigo!, e devo dizer-te que muitasvezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,isto é, a porta tinha-se fechado até outrodia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e entãoas palavras caem no vazio, como se nunca tivessemsido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcarum encontro contigo, sei que é irremediável o que temospara dizer um ao outro: a confissão mais exacta, queé também a mais absurda, de um sentimento; e, portrás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no diaseguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as coresdo céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamosencontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em queo vento poderá soprar do norte, como se fosse daíque viessem, nessa altura, as coisas mais preciosas,que são as nossas: o verde das folhas e o amarelodas pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.

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