Com tão raros milagres ou acasos felizes nos acidentes aéreos, como o da sobrevivente Baya Bakari, parece mesquinho relevar outra coisa qualquer. Nem tudo se resume aos argumentos tirados-do-cu-com-um-gancho que permitem inventar a acusação (que só pode ser jocosa para não passar por intelectualmente desonesta!) de ter havido qualquer espécie de diferenciação racística de tratamento entre os mais recentes acidentes aéreos, diferenciação reveladora e denunciadora da 'nossa' hipocrisia. Essa tese afirma que, por exemplo, o acidente da Air France foi coberto de modo exaustivo por jornais e blogues nacionais e ocidentais e que este, da Yemenia — Yemen Airways الخطوط الجوية اليمنية, não o foi do mesmo modo, bem pelo contrário. Enfim, concordando que ocorreu uma diferenciação de tratamento noticioso e comentarístico, parece notório que ela não se deu por razões de raça, mas de contexto geográfico e cultural. Afinidades culturais e nacionais não se discutem assim como a demanda dos públicos por informação a qual flutua em função de nada mais que de essa imensa ou escassa afinidade. As razões do acidente de mais um Airbus, matéria agora de importância maior, essas dizem-nos respeito a todos os que viajamos ou pretendemos viajar de avião. Releve-se, portanto, o milagre de Baya Bakari e aguarde-se pelo escrutínio das caixas negras já recuperadas sem precoceitos nem acusações artificiais à intensidade de cobertura mediática de acidentes aéreos: «Janeiro de 1985. Um rapaz de 17 anos é encontrado com vida entre os destroços da queda de avião da Galaxy Airlines, no Nevada, EUA. Agosto de 1987. Uma menina de quatro anos é a única sobrevivente da queda de um avião em Detroit. Março de 1995. Uma rapariga de 9 anos é a única sobrevivente da queda de um avião da Intercontinental que se despenha na Colômbia. Setembro de 1997. Um bebé com apenas um ano é o único sobrevivente da queda de um Tupolev da Vietnam Airlines no Cambodja. No dia 29, o milagre voltou a acontecer. Morreram 151 pessoas num voo da Yemenia Airlines a caminho das ilhas Comores. Só uma adolescente de 14 anos sobreviveu, mergulhada num mar de destroços e de forte ondulação, no negro da noite, em pleno oceano Índico. Chama-se Baya Bakari. Baya significa esperança.»
Categorias
Entidades
Com tão raros milagres ou acasos felizes nos acidentes aéreos, como o da sobrevivente Baya Bakari, parece mesquinho relevar outra coisa qualquer. Nem tudo se resume aos argumentos tirados-do-cu-com-um-gancho que permitem inventar a acusação (que só pode ser jocosa para não passar por intelectualmente desonesta!) de ter havido qualquer espécie de diferenciação racística de tratamento entre os mais recentes acidentes aéreos, diferenciação reveladora e denunciadora da 'nossa' hipocrisia. Essa tese afirma que, por exemplo, o acidente da Air France foi coberto de modo exaustivo por jornais e blogues nacionais e ocidentais e que este, da Yemenia — Yemen Airways الخطوط الجوية اليمنية, não o foi do mesmo modo, bem pelo contrário. Enfim, concordando que ocorreu uma diferenciação de tratamento noticioso e comentarístico, parece notório que ela não se deu por razões de raça, mas de contexto geográfico e cultural. Afinidades culturais e nacionais não se discutem assim como a demanda dos públicos por informação a qual flutua em função de nada mais que de essa imensa ou escassa afinidade. As razões do acidente de mais um Airbus, matéria agora de importância maior, essas dizem-nos respeito a todos os que viajamos ou pretendemos viajar de avião. Releve-se, portanto, o milagre de Baya Bakari e aguarde-se pelo escrutínio das caixas negras já recuperadas sem precoceitos nem acusações artificiais à intensidade de cobertura mediática de acidentes aéreos: «Janeiro de 1985. Um rapaz de 17 anos é encontrado com vida entre os destroços da queda de avião da Galaxy Airlines, no Nevada, EUA. Agosto de 1987. Uma menina de quatro anos é a única sobrevivente da queda de um avião em Detroit. Março de 1995. Uma rapariga de 9 anos é a única sobrevivente da queda de um avião da Intercontinental que se despenha na Colômbia. Setembro de 1997. Um bebé com apenas um ano é o único sobrevivente da queda de um Tupolev da Vietnam Airlines no Cambodja. No dia 29, o milagre voltou a acontecer. Morreram 151 pessoas num voo da Yemenia Airlines a caminho das ilhas Comores. Só uma adolescente de 14 anos sobreviveu, mergulhada num mar de destroços e de forte ondulação, no negro da noite, em pleno oceano Índico. Chama-se Baya Bakari. Baya significa esperança.»