Kant_O_XimPi: D'O Tempo das Cerejas

28-06-2009
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Combates da memória ( 19). * Victor Dias.in O Tempo das Cerejas.Os E.U.A. e o caminho da históriaRemetendo sempre para o que aqui escrevi sobre a minha atitude face aos EUA como país e jurando não querer estragar nenhuma festa, hoje não venho de facto discutir o que muitos outros andam legitimamente a discutir sobre as primárias das presidenciais norte-americanas..Não, não venho discutir se esta é a pré-campanha que já atesta o triunfo das «ideias» sobre as «imagens»..Não, não venho discutir a qualidade dos discursos dos candidatos ou os específicos méritos discursivos e poéticos de Barack Obama, não só porque em geral quer na Casa Branca quer nos «sttafs» dos candidatos sempre houve excelentes ghost writers mas também porque poucos discursos resistem à prova do tempo, dos factos e das políticas ( o discurso de Clinton sobre A Ponte para o Século XXI era belíssimo e quem se lembra dele hoje?)..Não, não venho discutir o sistema das primárias estaduais e dos «caucus» e muito menos a espantosa democraticidade daqueles (sobretudo republicanos) em que o «winner takes all»..Não, não venho lembrar as diferença que há entre discursos entre candidatos do mesmo partido nas primárias, depois entre os dois candidatos escolhidos na campanha e, por fim, a prática e a política do eleito na presidência..Não, não venho apostar, invocando décadas de experiência, que o candidato democrata, a partir da Convenção em que for eleito, logo começará a «recentrar» ou «endireitar» o discurso e os compromissos..Não, não venho lembrar que o insuspeito comentador Miguel Monjardino já nos disse na SIC Notícias que nem Hillary, nem Obama, nem Cain mudarão nada de significativo na política externa norte-americana, designadamente quanto ao Iraque.Não, não venho discutir as putativas boas intenções ou convicções de candidatos nem distingui-las das reais consequências do cilindro compressor do sistema ecónomico, político e institucional dos E.U.A..Não, não e não. Venho apenas lembrar que só há 43 anos, através do The Voting Rights Act de 1965, assinado pelo Presidente Lyndon Johnson, é que ficou final e razoavelmente garantido o direito de voto dos negros americanos, designadamente nos Estados do sul..Venho apenas lembrar que a grande alavanca para a real conquista desse direito fundamental foi a luta travada e organizada pelo CORE - Congress of Racial Equality - e pela determinação, coragem e audácia de milhares de activistas..Sim, como toda a gente diz ou reconhece, pela primeira vez é possível que os EUA possam vir a ter um Presidente negro. Não seria mau que muita gente soubesse que o alicerce mais fundo dessa possibilidade foi construido e amassado, entre 1961 e 1965, com o sacrifício de muitas vidas, com muito sangue, com muito e minucioso trabalho organizativo e com uma histórica valentia..Nas fotos que se seguem, todas da Agência Magnum (ver outras 14 fotos aqui), não há os confettis, os balões, as majorettes, a alegria ou os cartazes coloridos na base do azul e do vermelho das primárias ou da campanha eleitoral para a Presidência dos EUA. São, literal e substantivamente, fotos a preto e branco mas em que, também por isso, mais se respira a força da dignidade, a paixão dos combates justos e o caminho certo da história do nosso tempo. WASHINGTON, D.C.—Cidadãos negrosvotam pela primeira vez, em 1963. ©Leonard Freed / Magnum PhotosBATON ROUGE, Luisiana: olhada por um funcionário branco, uma cidadã negra treinada pelo COREdos trabalhadores do campo responde a umrigoroso questionário numa diligênciapara se registar para votar no«Verão da Liberdade», em 1964. © Bob Adelman / Magnum PhotosNEW YORK CITY—Ruby Dee, Ossie Davis e os seus filhos protestam durante uma manifestação pacífica, em 1962. © Bruce Davidson / Magnum PhotosRULEVILLE, Mississipi—Escolas da liberdade organizam aulas sobre literacia, história e recenseamento eleitoral nas cidades rurais em todo o Estado do Mississipi, no Verão de 1964. © Danny Lyon / Magnum Photos.in o tempo das cerejas* um blogue de esquerda em homenagem à Comuna de Paris


Combates da memória ( 19). * Victor Dias.in O Tempo das Cerejas.Os E.U.A. e o caminho da históriaRemetendo sempre para o que aqui escrevi sobre a minha atitude face aos EUA como país e jurando não querer estragar nenhuma festa, hoje não venho de facto discutir o que muitos outros andam legitimamente a discutir sobre as primárias das presidenciais norte-americanas..Não, não venho discutir se esta é a pré-campanha que já atesta o triunfo das «ideias» sobre as «imagens»..Não, não venho discutir a qualidade dos discursos dos candidatos ou os específicos méritos discursivos e poéticos de Barack Obama, não só porque em geral quer na Casa Branca quer nos «sttafs» dos candidatos sempre houve excelentes ghost writers mas também porque poucos discursos resistem à prova do tempo, dos factos e das políticas ( o discurso de Clinton sobre A Ponte para o Século XXI era belíssimo e quem se lembra dele hoje?)..Não, não venho discutir o sistema das primárias estaduais e dos «caucus» e muito menos a espantosa democraticidade daqueles (sobretudo republicanos) em que o «winner takes all»..Não, não venho lembrar as diferença que há entre discursos entre candidatos do mesmo partido nas primárias, depois entre os dois candidatos escolhidos na campanha e, por fim, a prática e a política do eleito na presidência..Não, não venho apostar, invocando décadas de experiência, que o candidato democrata, a partir da Convenção em que for eleito, logo começará a «recentrar» ou «endireitar» o discurso e os compromissos..Não, não venho lembrar que o insuspeito comentador Miguel Monjardino já nos disse na SIC Notícias que nem Hillary, nem Obama, nem Cain mudarão nada de significativo na política externa norte-americana, designadamente quanto ao Iraque.Não, não venho discutir as putativas boas intenções ou convicções de candidatos nem distingui-las das reais consequências do cilindro compressor do sistema ecónomico, político e institucional dos E.U.A..Não, não e não. Venho apenas lembrar que só há 43 anos, através do The Voting Rights Act de 1965, assinado pelo Presidente Lyndon Johnson, é que ficou final e razoavelmente garantido o direito de voto dos negros americanos, designadamente nos Estados do sul..Venho apenas lembrar que a grande alavanca para a real conquista desse direito fundamental foi a luta travada e organizada pelo CORE - Congress of Racial Equality - e pela determinação, coragem e audácia de milhares de activistas..Sim, como toda a gente diz ou reconhece, pela primeira vez é possível que os EUA possam vir a ter um Presidente negro. Não seria mau que muita gente soubesse que o alicerce mais fundo dessa possibilidade foi construido e amassado, entre 1961 e 1965, com o sacrifício de muitas vidas, com muito sangue, com muito e minucioso trabalho organizativo e com uma histórica valentia..Nas fotos que se seguem, todas da Agência Magnum (ver outras 14 fotos aqui), não há os confettis, os balões, as majorettes, a alegria ou os cartazes coloridos na base do azul e do vermelho das primárias ou da campanha eleitoral para a Presidência dos EUA. São, literal e substantivamente, fotos a preto e branco mas em que, também por isso, mais se respira a força da dignidade, a paixão dos combates justos e o caminho certo da história do nosso tempo. WASHINGTON, D.C.—Cidadãos negrosvotam pela primeira vez, em 1963. ©Leonard Freed / Magnum PhotosBATON ROUGE, Luisiana: olhada por um funcionário branco, uma cidadã negra treinada pelo COREdos trabalhadores do campo responde a umrigoroso questionário numa diligênciapara se registar para votar no«Verão da Liberdade», em 1964. © Bob Adelman / Magnum PhotosNEW YORK CITY—Ruby Dee, Ossie Davis e os seus filhos protestam durante uma manifestação pacífica, em 1962. © Bruce Davidson / Magnum PhotosRULEVILLE, Mississipi—Escolas da liberdade organizam aulas sobre literacia, história e recenseamento eleitoral nas cidades rurais em todo o Estado do Mississipi, no Verão de 1964. © Danny Lyon / Magnum Photos.in o tempo das cerejas* um blogue de esquerda em homenagem à Comuna de Paris

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