O Quatro: Será mesmo a economia, estúpido?

04-10-2009
marcar artigo


Quando me sentei há uns dias numa sala da Universidade de Évora, para assistir a uma iniciativa das Conferências do Estoril, estava longe de chegar a alguma conclusão em relação ao que, no íntimo, ando a problematizar: porque estão a ser apontados sibilinamente como responsáveis por esta grande crise os políticos? Sim porque na ausência de uma resposta absoluta em relação à nova depressão, que gere consenso ou que, pelo menos, permita sossegar a generalizada falta de confiança no futuro, pouco parece restar senão aguardar pelos resultados do que está a ser feito e procurar saber onde param os responsáveis. Para os pessimistas é esperar que se chegue ao fundo do poço para depois voltar a subir. Para os negativistas pode não haver fundo do poço.Depois de um silêncio inicial dos neo-liberais, que sentiram dificuldades em dizer o que fosse algo os afogueia agora para, de repente, virem tratar como ineficazes e nocivos os estímulos orçamentais keynesianos. Parece-me reacção ideológica que, como se verá, poderá ela sim, ter responsabilidades que não reclama, no estado actual da economia.É que, no que toca a responsabilidades, a resposta não pode restringir-se a Bernard Madoff ou a muitos outros que, como ele, se comportaram como autênticas raposas soltas dentro de galinheiros, perdoe-me a raposa e o seu instinto não racional.Como acreditámos tanto num sistema financeiro sem restrições? Como foi possível a generalização da ideia de que seria inaceitável qualquer regulação dos mercados por outro poder que não o do próprio mercado? A nossa credulidade pode estar ligada à nossa dificuldade em lidar com o complexo e a nossa tendência para o simplificar. Depois a sociedade tem formas de negar o que já é evidente simplesmente porque não se sente capaz de lidar com a crueza da realidade. Mas e antes?Quando ouvimos algumas vozes (muito poucas) dizer que o caminho que o mundo ocidental fazia estava limitado com uma catástrofe porque não quisemos saber?Desta vez o efeito das vozes proféticas não foi suficientemente forte para impedir o fim do mundo. Pelo menos do mundo como o conhecemos.Ao ouvir as intervenções dos distintos oradores naquela tarde, com a excepção de um, fiquei com a sensação que, de alguma forma, a perspectiva liberal da economia tenta sacudir a água do capote. A mesma que sempre avisou para os malefícios da excessiva regulação dos governos nos mercados, os que pareceram sempre deter conhecimentos técnicos suficientes o que fez deles construtores da opinião pública e da acção de muitos governantes, enfim os que propagaram a ideia que a especulação financeira transferia o risco para quem melhor o podia suportar. Hoje é o que vemos.Estava a ouvi-los e a pensar num título que tinha lido antes: Culpem os economistas, não a economia. O autor, o insuspeito Dani Rodrik, um professor de Economia Política da Universidade de Harvard entende que muitos economistas são cúmplices na crise que vivemos. E aponta o facto de estes se terem tornado excessivamente confiantes nos seus modelos económicos de preferência assim como aqueles que os escutaram.Rodrik conseguiu convencer-me que a economia, mais do que um conceito de eficiência distributiva, é um conjunto de ferramentas e de modelos para uso opcional, em conformidade com cada circunstância ou problema que se quer resolver. Mas Rodrik vai mais longe nas respostas às minhas suspeições.Ele aponta a muitos economistas o defeito de preferirem defender as suas preferências sociais e políticas assumindo mais o papel de ideólogos do que o de analistas. A promiscuidade entre a política e a economia pode ser uma realidade mas se se estiver de acordo com o conceito, que não é definitivamente o meu caso, o inverso também é real.Assim a economia pode ajudar a esclarecer quais as melhores opções a tomar mas não pode ser ela a fazer as escolhas em vez dos responsáveis pelo poder político. Esclarecedor.Acusem-me de abordar questões complexas de uma forma simplificada mas não me convencem da bondade de uma qualquer mão invisível a fazer o que a política devia ter sempre feito: regular e fiscalizar. Aos políticos sempre se pode responsabilizar. Quando não gostamos, mudamos.


Quando me sentei há uns dias numa sala da Universidade de Évora, para assistir a uma iniciativa das Conferências do Estoril, estava longe de chegar a alguma conclusão em relação ao que, no íntimo, ando a problematizar: porque estão a ser apontados sibilinamente como responsáveis por esta grande crise os políticos? Sim porque na ausência de uma resposta absoluta em relação à nova depressão, que gere consenso ou que, pelo menos, permita sossegar a generalizada falta de confiança no futuro, pouco parece restar senão aguardar pelos resultados do que está a ser feito e procurar saber onde param os responsáveis. Para os pessimistas é esperar que se chegue ao fundo do poço para depois voltar a subir. Para os negativistas pode não haver fundo do poço.Depois de um silêncio inicial dos neo-liberais, que sentiram dificuldades em dizer o que fosse algo os afogueia agora para, de repente, virem tratar como ineficazes e nocivos os estímulos orçamentais keynesianos. Parece-me reacção ideológica que, como se verá, poderá ela sim, ter responsabilidades que não reclama, no estado actual da economia.É que, no que toca a responsabilidades, a resposta não pode restringir-se a Bernard Madoff ou a muitos outros que, como ele, se comportaram como autênticas raposas soltas dentro de galinheiros, perdoe-me a raposa e o seu instinto não racional.Como acreditámos tanto num sistema financeiro sem restrições? Como foi possível a generalização da ideia de que seria inaceitável qualquer regulação dos mercados por outro poder que não o do próprio mercado? A nossa credulidade pode estar ligada à nossa dificuldade em lidar com o complexo e a nossa tendência para o simplificar. Depois a sociedade tem formas de negar o que já é evidente simplesmente porque não se sente capaz de lidar com a crueza da realidade. Mas e antes?Quando ouvimos algumas vozes (muito poucas) dizer que o caminho que o mundo ocidental fazia estava limitado com uma catástrofe porque não quisemos saber?Desta vez o efeito das vozes proféticas não foi suficientemente forte para impedir o fim do mundo. Pelo menos do mundo como o conhecemos.Ao ouvir as intervenções dos distintos oradores naquela tarde, com a excepção de um, fiquei com a sensação que, de alguma forma, a perspectiva liberal da economia tenta sacudir a água do capote. A mesma que sempre avisou para os malefícios da excessiva regulação dos governos nos mercados, os que pareceram sempre deter conhecimentos técnicos suficientes o que fez deles construtores da opinião pública e da acção de muitos governantes, enfim os que propagaram a ideia que a especulação financeira transferia o risco para quem melhor o podia suportar. Hoje é o que vemos.Estava a ouvi-los e a pensar num título que tinha lido antes: Culpem os economistas, não a economia. O autor, o insuspeito Dani Rodrik, um professor de Economia Política da Universidade de Harvard entende que muitos economistas são cúmplices na crise que vivemos. E aponta o facto de estes se terem tornado excessivamente confiantes nos seus modelos económicos de preferência assim como aqueles que os escutaram.Rodrik conseguiu convencer-me que a economia, mais do que um conceito de eficiência distributiva, é um conjunto de ferramentas e de modelos para uso opcional, em conformidade com cada circunstância ou problema que se quer resolver. Mas Rodrik vai mais longe nas respostas às minhas suspeições.Ele aponta a muitos economistas o defeito de preferirem defender as suas preferências sociais e políticas assumindo mais o papel de ideólogos do que o de analistas. A promiscuidade entre a política e a economia pode ser uma realidade mas se se estiver de acordo com o conceito, que não é definitivamente o meu caso, o inverso também é real.Assim a economia pode ajudar a esclarecer quais as melhores opções a tomar mas não pode ser ela a fazer as escolhas em vez dos responsáveis pelo poder político. Esclarecedor.Acusem-me de abordar questões complexas de uma forma simplificada mas não me convencem da bondade de uma qualquer mão invisível a fazer o que a política devia ter sempre feito: regular e fiscalizar. Aos políticos sempre se pode responsabilizar. Quando não gostamos, mudamos.

marcar artigo