O Quatro: Turismo é economia

05-10-2009
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Foto daquiSento-me num auditório cheio de gente decidida, numa sexta-feira chuvosa, para falar de património e desenvolvimento territorial.A iniciativa traz gente de Espanha e da Inglaterra.A abertura cabe a Eusébio Leránoz Urtasun, consultor de uma empresa espanhola chamada ICN – Artea, e depois de ouvir este senhor fiquei sem dúvidas, especialista em cidades, património e turismo.E ao ouvi-lo, é uma daquelas pessoas que possui a capacidade de sintetizar muito do que já ouvimos, dar-lhe um corpo de coerência e comunicá-la perceptivelmente, pensava que o que nos falta muitos vezes, a nós portugueses, é tolerância e abertura.Ora o que me prendeu mais de uma hora a este discurso foi não só a capacidade comunicativa do orador mas a qualidade verificável do que ia sendo dito.E fixei-me na ideia que nem tudo o que possuímos como recurso patrimonial serve para construir um produto turístico e que a ausência de um produto turístico inovador pode destruir um recurso patrimonial de grande importância.Pensei imediatamente em Évora e na nossa dificuldade em discutir a ligação necessária entre o passado e o futuro, entre a história e a inovação. E da desconfiança com que lidamos na relação dos conceitos de preservação e regeneração, por preferirmos o antagonismo à concordância.A pergunta que nos devemos fazer é que tipo de produtos turísticos devemos construir?Produtos que recuperem a auto-estima das gentes ao identificar territórios culturalmente únicos e que beneficiem realmente o maior número de pessoas, directa e indirectamente.Querer turismo é querer economia. É defender que o produto cultural entre no domínio económico. O turismo tem de criar riqueza e tem de criar emprego. Mas só será capaz de o fazer realmente se for inovador. E esse carácter inovador pode depender em grande parte da forma como se interpreta um recurso e se coloca acessível ao turista.Não há muito tempo locais como o nosso atraiam pequenos grupos de turistas à procura do pitoresco e do mistério.Com o advento das cidades históricas de leste e a sua abertura ao mercado internacional do turismo, a competitividade cresceu.Hoje o grande desafio está em conseguir dar resposta a uma grande diversidade de interesses de grupos maiores de turistas, cada um deles há procura da sua experiência positiva e emocionantemente única.A arte torna-se o elo fundamental que liga o passado ao presente, agindo sobre a sensação, a emoção e o conhecimento do indivíduo. Não pode contudo ser uma arte para o consumo dos artistas mas uma arte capaz de se relacionar com todas as emoções, de todas as pessoas.Existem museus, igrejas e catedrais por tudo o mundo. A chave é saber projectar as nossas particularidades com a maior criatividade. O que muita vezes implica a reconversão da função de determinados edifícios ou estruturas.É preciso ter capacidade de atrair visitantes; criatividade; capacidade de envolver o visitante criando uma atmosfera única; capacidade de reconstruir e regenerar os nossos tesouros, garantido assim a sua preservação.É bom que reflictamos sobre o futuro desta Cidade, que continua fragmentada entre o intramuros e o extramuros, com um centro histórico rico mas a precisar de se auto-reinventar, sem que aceitemos que seja seu fado ser uma cidade museu, com cenário, figurantes e um guião mas sem a espontaneidade das coisas vivas.Por isso julgo que também é preciso receber de espírito aberto o Estudo de Enquadramento Estratégico para a Área do Centro Histórico de Évora, que considero uma verdadeira proposta de planificação estratégica da Cidade, a par com o recentemente aprovado Plano Director Municipal.E é bom que não temamos, se for preciso, discutir alguns cânones que teimam em tomar-se como verdades absolutas.Como a improbabilidade de fazer ligar a carne de porco com amêijoas, hoje um dos nossos pratos mais conhecidos do mundo. Prosaico, não será?


Foto daquiSento-me num auditório cheio de gente decidida, numa sexta-feira chuvosa, para falar de património e desenvolvimento territorial.A iniciativa traz gente de Espanha e da Inglaterra.A abertura cabe a Eusébio Leránoz Urtasun, consultor de uma empresa espanhola chamada ICN – Artea, e depois de ouvir este senhor fiquei sem dúvidas, especialista em cidades, património e turismo.E ao ouvi-lo, é uma daquelas pessoas que possui a capacidade de sintetizar muito do que já ouvimos, dar-lhe um corpo de coerência e comunicá-la perceptivelmente, pensava que o que nos falta muitos vezes, a nós portugueses, é tolerância e abertura.Ora o que me prendeu mais de uma hora a este discurso foi não só a capacidade comunicativa do orador mas a qualidade verificável do que ia sendo dito.E fixei-me na ideia que nem tudo o que possuímos como recurso patrimonial serve para construir um produto turístico e que a ausência de um produto turístico inovador pode destruir um recurso patrimonial de grande importância.Pensei imediatamente em Évora e na nossa dificuldade em discutir a ligação necessária entre o passado e o futuro, entre a história e a inovação. E da desconfiança com que lidamos na relação dos conceitos de preservação e regeneração, por preferirmos o antagonismo à concordância.A pergunta que nos devemos fazer é que tipo de produtos turísticos devemos construir?Produtos que recuperem a auto-estima das gentes ao identificar territórios culturalmente únicos e que beneficiem realmente o maior número de pessoas, directa e indirectamente.Querer turismo é querer economia. É defender que o produto cultural entre no domínio económico. O turismo tem de criar riqueza e tem de criar emprego. Mas só será capaz de o fazer realmente se for inovador. E esse carácter inovador pode depender em grande parte da forma como se interpreta um recurso e se coloca acessível ao turista.Não há muito tempo locais como o nosso atraiam pequenos grupos de turistas à procura do pitoresco e do mistério.Com o advento das cidades históricas de leste e a sua abertura ao mercado internacional do turismo, a competitividade cresceu.Hoje o grande desafio está em conseguir dar resposta a uma grande diversidade de interesses de grupos maiores de turistas, cada um deles há procura da sua experiência positiva e emocionantemente única.A arte torna-se o elo fundamental que liga o passado ao presente, agindo sobre a sensação, a emoção e o conhecimento do indivíduo. Não pode contudo ser uma arte para o consumo dos artistas mas uma arte capaz de se relacionar com todas as emoções, de todas as pessoas.Existem museus, igrejas e catedrais por tudo o mundo. A chave é saber projectar as nossas particularidades com a maior criatividade. O que muita vezes implica a reconversão da função de determinados edifícios ou estruturas.É preciso ter capacidade de atrair visitantes; criatividade; capacidade de envolver o visitante criando uma atmosfera única; capacidade de reconstruir e regenerar os nossos tesouros, garantido assim a sua preservação.É bom que reflictamos sobre o futuro desta Cidade, que continua fragmentada entre o intramuros e o extramuros, com um centro histórico rico mas a precisar de se auto-reinventar, sem que aceitemos que seja seu fado ser uma cidade museu, com cenário, figurantes e um guião mas sem a espontaneidade das coisas vivas.Por isso julgo que também é preciso receber de espírito aberto o Estudo de Enquadramento Estratégico para a Área do Centro Histórico de Évora, que considero uma verdadeira proposta de planificação estratégica da Cidade, a par com o recentemente aprovado Plano Director Municipal.E é bom que não temamos, se for preciso, discutir alguns cânones que teimam em tomar-se como verdades absolutas.Como a improbabilidade de fazer ligar a carne de porco com amêijoas, hoje um dos nossos pratos mais conhecidos do mundo. Prosaico, não será?

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