O Quatro: O perigo dos nossos dias

04-10-2009
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Não nos deve preocupar particularmente a dificuldade deste ou daquele político, partido ou movimento de cidadãos em afirmar-se perante as pessoas, excepto quando a essa falta de afirmação é generalizada. Pode significar o empobrecimento da democracia.É sabido que o pluralismo das ideias e o debate que daí decorre enriquece tanto as partes que se assumem como alternativa como representa sempre um ganho para o cidadão que tem de fazer a escolha.A mais das vezes esta dificuldade de afirmação faz parte de um processo de selecção natural, onde não sobrevive o que é inapto. Contudo o que importa mesmo é a possibilidade de se fazer uma escolha.Daí a importância das alternativas, mesmo para quem está a exercer o poder. Não só pode esgrimir ideias e argumentos defendendo o que entende como melhor, como o resultado desse mesmo debate pode contribuir para ainda melhores e mais sólidas acções. Para além de que o calor do debate estimula, muitas vezes por exigência do cidadão que quer fazer escolhas, que se deixe de fora o que é acessório e se concentre no que é considerado essencial. A evidência é que nada nem ninguém tem contribuído tanto para o descrédito da classe política quanto a própria classe política. O mal não é de hoje nem exclusivamente nosso. Quando o debate entre políticas facilmente resvala para o debate entre políticos, o recurso à ofensa ou mesmo à agressão é uma arma que substitui o argumento.Não só o facto é grave como, por exemplo, é um facto relevante para a notícia, por ser mais picante. A política transforma-se assim em entretenimento e a base de onde tudo começou, a ideia, já não tem importância nenhuma.Mas a política é mais do que a palavra que, por sinal, tem uma natureza escorregadia e é facilmente reinterpretada, tomada fora do contexto ou simplesmente negada. A política tem de ser sobretudo acção.O que credibiliza o político e a política é a consequência das palavras, são os actos. Uma evidência é muito mais poderosa que muitas palavras por isso o exemplo é um recurso poderosamente persuasivo do argumento. Só a acção pode valorizar a política. Hoje espera-se dela respostas. É difícil para as pessoas o confronto com a dura realidade do desemprego, da falta de dinheiro, e de tantos outros problemas.A acção que pode amenizar estas dificuldades pode levar tempo a fazer efeito. A resposta pode aparentemente demorar a ser percebida. Mas é a sua eficácia que valerá no debate político.Esta é assim uma altura de se estar atento aos perigos para a democracia. E esses perigos começam com o uso do sentimento negativo e da avaliação negativa que muitas pessoas têm da política e dos políticos. Essa avaliação cria reservas, resultado dos escândalos, das denúncias de corrupção, da corrupção efectiva, da ideia que na política se fala muito e se faz pouco.Não são ingénuas as candidaturas de políticos que dizem não ser políticos profissionais, distinguindo-se assim de todos os outros. Trata-se de um discurso perigoso, que não só vive do sentimento negativo das pessoas em relação à política como o alimenta, identificando-se com o sentimento do cidadão, querendo a sua simpatia, apresentando-se como o oposto daquilo que este condena e colocando-se assim como qualificado para receber o seu apoio.Mas também não é ingénuo o próprio facto destas campanhas serem mais parecidas com pregações do que com propostas e compromissos. Eis os perigos destes tempos.Insisto que é a utilidade da acção que reforçará a confiança das pessoas no político e nas políticas. Em última análise e sempre que a política responde aos anseios das pessoas é a democracia que ganha.A palavra é sempre mais imediata mas o que faz a reputação da política são as acções. Depois de tomadas as decisões é importante conter a impaciência e esperar pelo resultado. Neste momento será a melhor forma da política se tornar convincente, persuasiva e sobretudo coerente.E é importante que os outros falem. Mas atentem que, para este efeito, a sua responsabilidade é tão grande como a de quem governa. A de ser capaz de ter uma ideia sólida e condições para a colocar em acção.


Não nos deve preocupar particularmente a dificuldade deste ou daquele político, partido ou movimento de cidadãos em afirmar-se perante as pessoas, excepto quando a essa falta de afirmação é generalizada. Pode significar o empobrecimento da democracia.É sabido que o pluralismo das ideias e o debate que daí decorre enriquece tanto as partes que se assumem como alternativa como representa sempre um ganho para o cidadão que tem de fazer a escolha.A mais das vezes esta dificuldade de afirmação faz parte de um processo de selecção natural, onde não sobrevive o que é inapto. Contudo o que importa mesmo é a possibilidade de se fazer uma escolha.Daí a importância das alternativas, mesmo para quem está a exercer o poder. Não só pode esgrimir ideias e argumentos defendendo o que entende como melhor, como o resultado desse mesmo debate pode contribuir para ainda melhores e mais sólidas acções. Para além de que o calor do debate estimula, muitas vezes por exigência do cidadão que quer fazer escolhas, que se deixe de fora o que é acessório e se concentre no que é considerado essencial. A evidência é que nada nem ninguém tem contribuído tanto para o descrédito da classe política quanto a própria classe política. O mal não é de hoje nem exclusivamente nosso. Quando o debate entre políticas facilmente resvala para o debate entre políticos, o recurso à ofensa ou mesmo à agressão é uma arma que substitui o argumento.Não só o facto é grave como, por exemplo, é um facto relevante para a notícia, por ser mais picante. A política transforma-se assim em entretenimento e a base de onde tudo começou, a ideia, já não tem importância nenhuma.Mas a política é mais do que a palavra que, por sinal, tem uma natureza escorregadia e é facilmente reinterpretada, tomada fora do contexto ou simplesmente negada. A política tem de ser sobretudo acção.O que credibiliza o político e a política é a consequência das palavras, são os actos. Uma evidência é muito mais poderosa que muitas palavras por isso o exemplo é um recurso poderosamente persuasivo do argumento. Só a acção pode valorizar a política. Hoje espera-se dela respostas. É difícil para as pessoas o confronto com a dura realidade do desemprego, da falta de dinheiro, e de tantos outros problemas.A acção que pode amenizar estas dificuldades pode levar tempo a fazer efeito. A resposta pode aparentemente demorar a ser percebida. Mas é a sua eficácia que valerá no debate político.Esta é assim uma altura de se estar atento aos perigos para a democracia. E esses perigos começam com o uso do sentimento negativo e da avaliação negativa que muitas pessoas têm da política e dos políticos. Essa avaliação cria reservas, resultado dos escândalos, das denúncias de corrupção, da corrupção efectiva, da ideia que na política se fala muito e se faz pouco.Não são ingénuas as candidaturas de políticos que dizem não ser políticos profissionais, distinguindo-se assim de todos os outros. Trata-se de um discurso perigoso, que não só vive do sentimento negativo das pessoas em relação à política como o alimenta, identificando-se com o sentimento do cidadão, querendo a sua simpatia, apresentando-se como o oposto daquilo que este condena e colocando-se assim como qualificado para receber o seu apoio.Mas também não é ingénuo o próprio facto destas campanhas serem mais parecidas com pregações do que com propostas e compromissos. Eis os perigos destes tempos.Insisto que é a utilidade da acção que reforçará a confiança das pessoas no político e nas políticas. Em última análise e sempre que a política responde aos anseios das pessoas é a democracia que ganha.A palavra é sempre mais imediata mas o que faz a reputação da política são as acções. Depois de tomadas as decisões é importante conter a impaciência e esperar pelo resultado. Neste momento será a melhor forma da política se tornar convincente, persuasiva e sobretudo coerente.E é importante que os outros falem. Mas atentem que, para este efeito, a sua responsabilidade é tão grande como a de quem governa. A de ser capaz de ter uma ideia sólida e condições para a colocar em acção.

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