O Quatro: O vício ocidental

04-10-2009
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A questão da carestia dos combustíveis instalou-se definitivamente na nossa sociedade. Mesmo o comum dos mortais, como eu, percebe a ligação entre a subida dos preços do barril de petróleo, a guerra no Iraque, a desvalorização do dólar, os devaneios de Hugo Chávez, a tensão iraniana e os avisos da Rússia exportadora de energia.Para o comodista ocidental, super consumidor, a questão pode colocar-se no plano dos egoísmos externos. É a nossa tendência para projectarmos nos outros os defeitos que não reconhecemos em nós.Mas é inútil vermos o assunto desse prisma.Tornou-se mais importante para o cidadão do 1º mundo alimentar o seu apetite voraz por energia nem que, para isso, se agrave a fome física do terceiro mundo.E a abordagem nem sequer é figurativa.No ano que passou os preços do milho e da soja aumentaram entre 40 e 75 % nos Estado Unidos da América.E pela análise que se faz dos factos não se trata de uma subida circunstancial mas que pode estender-se para a próxima década. É que noutras alturas estas subidas eram justificadas com maior procura em circunstâncias de um mau ano agrícola. Mas nos nossos dias tal justifica-se com factores conjunturais.Um desses factos aponta o crescimento económico da Ásia e da América Latina e o aparecimento de uma classe média que viu melhoradas as suas condições de vida e com isso o aumento do consumo de ovos e carne, o que provocou um aumento da procura de cereais para alimentação de gado.A par e com efeitos dúbios parece ser a crescente defesa da substituição dos combustíveis fósseis pelos biocarburantes, com o intuito de resolver a sua carestia e os problemas do aquecimento global.O que coloca no tabuleiro da economia mundial uma disputa paradoxal entre sector alimentar e energético pelo uso das colheitas mundiais. E esta concorrência provoca o aumento dos preços dos cereais, o que torna tristemente caricata a defesa ecológica destas energias alternativas.Graças à melhoria das técnicas de exploração de cereais a sua produção ultrapassou em certa altura as necessidades da população. Por isso a cotação dos cereais chegou a valores que os tornaram acessíveis às populações mais pobres. O que provocou uma diminuição do número de pessoas malnutridas no planeta. Ficava no passado a imagem terrível da criança morta de fome na longínqua Etiópia, na década de 80 do século XX.Contudo e com a subida actual dos preços, as preocupações dos Países em vias de desenvolvimento aumentam. O que leva as Organizações Humanitárias a declarar que o problema da fome vai-se agravar e o ganês Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, a defender a urgente autonomia produtiva do Continente Africano, para fazer face a crise que se adivinha.É que os Países mais ricos absorvem facilmente os aumentos dos preços, mas os mais pobres têm poucas condições de se defender. É pouco parece pesar nas nossas civilizadas consciências as mortes anuais de 5 milhões de crianças por subnutrição, segundo dados da UNICEF.Os «stocks» mundiais de cereais nunca foram tão baixos, desde 1970, e por isso não deve surpreender a fúria reivindicativa de dezenas de milhares de mexicanos pela baixa do preço da tortilha, base da sua dieta alimentar, que já duplicou de preço neste último ano, só porque é mais rentável para os produtores locais de milho exportar a sua produção para os EUA, para produção de etanol.Ao mesmo tempo no Egipto o Estado reforça as subvenções para manter o preço do pão acessível aos bolso da população e este ano, pelo terceiro ano consecutivo a humanidade terá consumido mais cereais do que produz.Certo é que aliado a uma má campanha agrícola e a uma crescente procura, esta conjuntura levou a Comissão Europeia a suspender as taxas sobre os cereais até Junho de 2008. A Europa exportadora passou a importadora.O alarme é absolutamente real.E para nós europeus, com um estilo de vida insustentável, tanto quanto procurar energias alternativas, temos sobretudo a responsabilidade de poupar.Por ora e enquanto outros menos afortunados vão contestando a sua crescente dificuldade em ter sequer para comer, nós, perdulários de um mundo tecnologicamente evoluído à custa da energia barata, preocupamo-nos em alimentar os nossos automóveis. O que só comprova o desequilíbrio em que vive a humanidade.Até onde iremos nós?


A questão da carestia dos combustíveis instalou-se definitivamente na nossa sociedade. Mesmo o comum dos mortais, como eu, percebe a ligação entre a subida dos preços do barril de petróleo, a guerra no Iraque, a desvalorização do dólar, os devaneios de Hugo Chávez, a tensão iraniana e os avisos da Rússia exportadora de energia.Para o comodista ocidental, super consumidor, a questão pode colocar-se no plano dos egoísmos externos. É a nossa tendência para projectarmos nos outros os defeitos que não reconhecemos em nós.Mas é inútil vermos o assunto desse prisma.Tornou-se mais importante para o cidadão do 1º mundo alimentar o seu apetite voraz por energia nem que, para isso, se agrave a fome física do terceiro mundo.E a abordagem nem sequer é figurativa.No ano que passou os preços do milho e da soja aumentaram entre 40 e 75 % nos Estado Unidos da América.E pela análise que se faz dos factos não se trata de uma subida circunstancial mas que pode estender-se para a próxima década. É que noutras alturas estas subidas eram justificadas com maior procura em circunstâncias de um mau ano agrícola. Mas nos nossos dias tal justifica-se com factores conjunturais.Um desses factos aponta o crescimento económico da Ásia e da América Latina e o aparecimento de uma classe média que viu melhoradas as suas condições de vida e com isso o aumento do consumo de ovos e carne, o que provocou um aumento da procura de cereais para alimentação de gado.A par e com efeitos dúbios parece ser a crescente defesa da substituição dos combustíveis fósseis pelos biocarburantes, com o intuito de resolver a sua carestia e os problemas do aquecimento global.O que coloca no tabuleiro da economia mundial uma disputa paradoxal entre sector alimentar e energético pelo uso das colheitas mundiais. E esta concorrência provoca o aumento dos preços dos cereais, o que torna tristemente caricata a defesa ecológica destas energias alternativas.Graças à melhoria das técnicas de exploração de cereais a sua produção ultrapassou em certa altura as necessidades da população. Por isso a cotação dos cereais chegou a valores que os tornaram acessíveis às populações mais pobres. O que provocou uma diminuição do número de pessoas malnutridas no planeta. Ficava no passado a imagem terrível da criança morta de fome na longínqua Etiópia, na década de 80 do século XX.Contudo e com a subida actual dos preços, as preocupações dos Países em vias de desenvolvimento aumentam. O que leva as Organizações Humanitárias a declarar que o problema da fome vai-se agravar e o ganês Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, a defender a urgente autonomia produtiva do Continente Africano, para fazer face a crise que se adivinha.É que os Países mais ricos absorvem facilmente os aumentos dos preços, mas os mais pobres têm poucas condições de se defender. É pouco parece pesar nas nossas civilizadas consciências as mortes anuais de 5 milhões de crianças por subnutrição, segundo dados da UNICEF.Os «stocks» mundiais de cereais nunca foram tão baixos, desde 1970, e por isso não deve surpreender a fúria reivindicativa de dezenas de milhares de mexicanos pela baixa do preço da tortilha, base da sua dieta alimentar, que já duplicou de preço neste último ano, só porque é mais rentável para os produtores locais de milho exportar a sua produção para os EUA, para produção de etanol.Ao mesmo tempo no Egipto o Estado reforça as subvenções para manter o preço do pão acessível aos bolso da população e este ano, pelo terceiro ano consecutivo a humanidade terá consumido mais cereais do que produz.Certo é que aliado a uma má campanha agrícola e a uma crescente procura, esta conjuntura levou a Comissão Europeia a suspender as taxas sobre os cereais até Junho de 2008. A Europa exportadora passou a importadora.O alarme é absolutamente real.E para nós europeus, com um estilo de vida insustentável, tanto quanto procurar energias alternativas, temos sobretudo a responsabilidade de poupar.Por ora e enquanto outros menos afortunados vão contestando a sua crescente dificuldade em ter sequer para comer, nós, perdulários de um mundo tecnologicamente evoluído à custa da energia barata, preocupamo-nos em alimentar os nossos automóveis. O que só comprova o desequilíbrio em que vive a humanidade.Até onde iremos nós?

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