O Quatro: Retribuir agradecido

04-10-2009
marcar artigo


Carlos Moura, que não conheço excepto da escrita semanal no Registo e que leio com atenção (coisa que parece mútua), deambula na sua crónica desta semana por assuntos de espaço e tempo.Para dizer que Abril é antes de Maio e que a Revolução Francesa é anterior à Petição Cartista (nenhum autor que conheço a coloca em 1839 mas em 1837 ou 1838. Para não errar preferi dizer apenas século XIX, como faz o Dicionário Político Marxista, só para citar uma fonte que, deduzo, seja credível ao autor do reparo).O pomo da chamada de atenção está neste parágrafo que escrevi em crónica no Registo de 20 de Abril de 2009: Até que uma petição popular na Inglaterra do século XIX, subscrita por mais de um milhão de pessoas constituídas em movimento e no entregue ao Parlamento Inglês, mudou tudo. Para além das exigências em termos de condições de trabalho (importantes mas não chamadas aqui ao caso) o povo reclamou o sufrágio universal, o voto secreto, a remuneração dos parlamentares e o fim dos requisitos de propriedade para se ser candidato ao Parlamento. Apesar de rejeitadas as pretensões elas foram absorvidas pelo ideário das revoluções Americana e Francesa e acabaram por se impor.De facto as pretensões foram absorvidas do ideário das revoluções Americana (1775), que Carlos Moura não usa no seu rebate mas que também foi referida, e Francesa (1789) e não pelo ideário das ditas revoluções, como não podia ser de outra maneira.Agradeço-lhe a atenção se bem que nunca me refira e julgo estar quite no favor na medida em que o erro (que Moura não toma como lapso mas como conveniente e confortável (sic)), serviu para uma crónica, que, sendo assídua, sempre dá algum trabalho.Mas Moura, que me coloca no clube dos distraídos, “espassarados”, tontos, ou em casos mais extremos, vigaros e aldrabões (sic), quer chegar a outro lado.Tentar diminuir-me é só uma estratégia sua para valorizar a sua perspectiva, que é ideológica e não histórica como pretende.Em suma, o mal que me aponta Carlos Moura, é um mal de que padece. Não discuto que a luta pelos direitos do trabalho seja anterior à Revolução Francesa ou a qualquer outra, como obviamente é. Em rigor desde o momento que o homem se sente subjugado, começa a desejar a liberdade. O passo seguinte tem sido o de a procurar. Moura também o diz.Mas, como também escrevo no mesmo parágrafo, o assunto que abordei não foi o dos direitos do trabalho, mas sim a profissionalização da política. Quanto a comentários ao assunto (a questão central), nada.E importância nenhuma se dá à petição cartista no avanço em termos de direitos laborais, mas Moura deve conceder que Engels deu, quando este quis popularizar o movimento em França e promover a imprensa cartista como o jornal radical The Northern Star. Apesar de no mesmo artigo eu terminar dizendo que em democracia manda o povo isso não parece ter sido suficiente para Moura, que chama à colação a luta de classes como motor da história.Por isso parece tão conveniente omitir a Revolução Americana que não encaixa muito bem na lógica marxista (ou até encaixa mas nem eu nem Carlos Moura o sabemos).Para Marx o mundo caminhava irreversivelmente para o comunismo, o capitalismo sucumbiria na sua própria dinâmica e a revolução do proletariado aconteceria em todos os países com economias mais avançadas.Pois a história parece dizer o contrário. A dita revolução só vingou em países com economias mais débeis com a Russa. Depois não se deu nenhuma caminhada para o comunismo. Veja-se onde existe o capitalismo mais selvagem (o Leste europeu ou a China parecem exemplos).A análise marxista é muito interessante para compreender as sociedades industriais do século XIX mas é quimera acreditar que ela pode fundamentar qualquer proposta política moderna depois da experiência soviética.Vivemos em democracia e pusemos a guilhotina de lado há muito, apesar dos saudosistas. Hoje discordamos e buscamos conciliação. E isso é mil vezes melhor que qualquer tirania de classe.


Carlos Moura, que não conheço excepto da escrita semanal no Registo e que leio com atenção (coisa que parece mútua), deambula na sua crónica desta semana por assuntos de espaço e tempo.Para dizer que Abril é antes de Maio e que a Revolução Francesa é anterior à Petição Cartista (nenhum autor que conheço a coloca em 1839 mas em 1837 ou 1838. Para não errar preferi dizer apenas século XIX, como faz o Dicionário Político Marxista, só para citar uma fonte que, deduzo, seja credível ao autor do reparo).O pomo da chamada de atenção está neste parágrafo que escrevi em crónica no Registo de 20 de Abril de 2009: Até que uma petição popular na Inglaterra do século XIX, subscrita por mais de um milhão de pessoas constituídas em movimento e no entregue ao Parlamento Inglês, mudou tudo. Para além das exigências em termos de condições de trabalho (importantes mas não chamadas aqui ao caso) o povo reclamou o sufrágio universal, o voto secreto, a remuneração dos parlamentares e o fim dos requisitos de propriedade para se ser candidato ao Parlamento. Apesar de rejeitadas as pretensões elas foram absorvidas pelo ideário das revoluções Americana e Francesa e acabaram por se impor.De facto as pretensões foram absorvidas do ideário das revoluções Americana (1775), que Carlos Moura não usa no seu rebate mas que também foi referida, e Francesa (1789) e não pelo ideário das ditas revoluções, como não podia ser de outra maneira.Agradeço-lhe a atenção se bem que nunca me refira e julgo estar quite no favor na medida em que o erro (que Moura não toma como lapso mas como conveniente e confortável (sic)), serviu para uma crónica, que, sendo assídua, sempre dá algum trabalho.Mas Moura, que me coloca no clube dos distraídos, “espassarados”, tontos, ou em casos mais extremos, vigaros e aldrabões (sic), quer chegar a outro lado.Tentar diminuir-me é só uma estratégia sua para valorizar a sua perspectiva, que é ideológica e não histórica como pretende.Em suma, o mal que me aponta Carlos Moura, é um mal de que padece. Não discuto que a luta pelos direitos do trabalho seja anterior à Revolução Francesa ou a qualquer outra, como obviamente é. Em rigor desde o momento que o homem se sente subjugado, começa a desejar a liberdade. O passo seguinte tem sido o de a procurar. Moura também o diz.Mas, como também escrevo no mesmo parágrafo, o assunto que abordei não foi o dos direitos do trabalho, mas sim a profissionalização da política. Quanto a comentários ao assunto (a questão central), nada.E importância nenhuma se dá à petição cartista no avanço em termos de direitos laborais, mas Moura deve conceder que Engels deu, quando este quis popularizar o movimento em França e promover a imprensa cartista como o jornal radical The Northern Star. Apesar de no mesmo artigo eu terminar dizendo que em democracia manda o povo isso não parece ter sido suficiente para Moura, que chama à colação a luta de classes como motor da história.Por isso parece tão conveniente omitir a Revolução Americana que não encaixa muito bem na lógica marxista (ou até encaixa mas nem eu nem Carlos Moura o sabemos).Para Marx o mundo caminhava irreversivelmente para o comunismo, o capitalismo sucumbiria na sua própria dinâmica e a revolução do proletariado aconteceria em todos os países com economias mais avançadas.Pois a história parece dizer o contrário. A dita revolução só vingou em países com economias mais débeis com a Russa. Depois não se deu nenhuma caminhada para o comunismo. Veja-se onde existe o capitalismo mais selvagem (o Leste europeu ou a China parecem exemplos).A análise marxista é muito interessante para compreender as sociedades industriais do século XIX mas é quimera acreditar que ela pode fundamentar qualquer proposta política moderna depois da experiência soviética.Vivemos em democracia e pusemos a guilhotina de lado há muito, apesar dos saudosistas. Hoje discordamos e buscamos conciliação. E isso é mil vezes melhor que qualquer tirania de classe.

marcar artigo