A Interpretação do Tempo: a rua de Cambaia

26-06-2009
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A crise real, a crise que se sente no país e não entre a classe política, a crise da carteira e não da teoria é cada vez maior. Afecta tudo e todos, e claro, o elo mais fraco parte.A rua António José de Almeida (antiga Rua de Cambaia) em Vila Viçosa, sempre foi tradicionalmente a rua do comércio, a Rua Augusta cá do burgo. Lá, lembro-me de existirem inúmeras lojas de verdadeiro comércio tradicional: o Sôr Manuel da Sapataria, o Zeca e o sôr Nogueira do Pronto-a-Vestir, o sôr Diogo e o sôr Nunes da Retrosaria, o sôr Pina da mercearia, o sôr Santo da Outivesaria, o sôr Manuel dos Caracóis, o Jorge Campino dos jornais e mais alguns que a minha memória infantil guardou mais longe. Nesta lista, inclua-se também a loja vende do tudo do meu avô. Desde da bola de futebol, à tomada trifásica, passando pela lâmpada de 60W, os bicos do fogão Leão ou Flama, os fornos eléctricos a TVs, os parafusos etc. (já deu para terem uma ideia) às cordas para a guitarra, havia de tudo. Hoje, e passadas décadas da sua abertura, a loja do meu avô fechou. Não só por razões economicistas é verdade, mas fechou, à imagem de tantas outras das anteriormente enunciadas. Ontem, Domingo solarengo, às quatro da tarde a máquina de café do Sôr Manuel dos Caracóis estava limpa e imaculada como se não tivesse sido utilizada e parecia estar a funcionar pela primeira vez no dia quando o meu avô pediu uma bica cheia (agora já sem o bagaço).Atiram-se aos quatro ventos apoios às PME’s, subsídios para isto e para aquilo, mas esquecem-se da concorrência desleal das lojas dos chineses e do facto de serem as mini-empresas as primeiras a sofrerem o resultado das crises, e esta, que quer queiram quer não, é maior, bem maior que aquilo que querem fazer crer.É triste, passar na rua onde durante dias inteiros pessoas entravam e saíam das lojas e compravam coisas e ver montras com papéis e cartazes de “trespassa-se” e “vende-se”.É triste ver fechada a loja do meu avô, onde tantas horas brinquei com o meu irmão e os meus amigos lá da rua.É triste ver a minha terra e o interior esquecidos e ao abandono das suas próprias forças, que como o meu avô, cada vez mais débil e mais cansados e fartos de resistir.


A crise real, a crise que se sente no país e não entre a classe política, a crise da carteira e não da teoria é cada vez maior. Afecta tudo e todos, e claro, o elo mais fraco parte.A rua António José de Almeida (antiga Rua de Cambaia) em Vila Viçosa, sempre foi tradicionalmente a rua do comércio, a Rua Augusta cá do burgo. Lá, lembro-me de existirem inúmeras lojas de verdadeiro comércio tradicional: o Sôr Manuel da Sapataria, o Zeca e o sôr Nogueira do Pronto-a-Vestir, o sôr Diogo e o sôr Nunes da Retrosaria, o sôr Pina da mercearia, o sôr Santo da Outivesaria, o sôr Manuel dos Caracóis, o Jorge Campino dos jornais e mais alguns que a minha memória infantil guardou mais longe. Nesta lista, inclua-se também a loja vende do tudo do meu avô. Desde da bola de futebol, à tomada trifásica, passando pela lâmpada de 60W, os bicos do fogão Leão ou Flama, os fornos eléctricos a TVs, os parafusos etc. (já deu para terem uma ideia) às cordas para a guitarra, havia de tudo. Hoje, e passadas décadas da sua abertura, a loja do meu avô fechou. Não só por razões economicistas é verdade, mas fechou, à imagem de tantas outras das anteriormente enunciadas. Ontem, Domingo solarengo, às quatro da tarde a máquina de café do Sôr Manuel dos Caracóis estava limpa e imaculada como se não tivesse sido utilizada e parecia estar a funcionar pela primeira vez no dia quando o meu avô pediu uma bica cheia (agora já sem o bagaço).Atiram-se aos quatro ventos apoios às PME’s, subsídios para isto e para aquilo, mas esquecem-se da concorrência desleal das lojas dos chineses e do facto de serem as mini-empresas as primeiras a sofrerem o resultado das crises, e esta, que quer queiram quer não, é maior, bem maior que aquilo que querem fazer crer.É triste, passar na rua onde durante dias inteiros pessoas entravam e saíam das lojas e compravam coisas e ver montras com papéis e cartazes de “trespassa-se” e “vende-se”.É triste ver fechada a loja do meu avô, onde tantas horas brinquei com o meu irmão e os meus amigos lá da rua.É triste ver a minha terra e o interior esquecidos e ao abandono das suas próprias forças, que como o meu avô, cada vez mais débil e mais cansados e fartos de resistir.

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