O Quatro: Somos ávidos

04-10-2009
marcar artigo


Aproveitei a pausa da Páscoa para ler o republicado “Um escritor Confessa-se”, do Aquilino Ribeiro, reedição bem a propósito das comemorações do regicídio, se é coisa que se possa comemorar, e da transladação do autor para o Panteão Nacional, que não agradou os admiradores dos tempos em que tínhamos Rei.Com ele transportei-me para os tempos do fervor republicano e das mudanças que se operavam num País estagnado, ávido por reformas e pelo progresso, que se espalhava pela Europa e que insistia em tratar os portugueses como enteados.Há muito que não me prendia um livro. Este agarrou-me. E se o seu sumo fica para outros fóruns, é irreprimível trazer ao presente o que se passou no princípio do século XX e que bem podia ser descrição de muito do que hoje acontece. Exceptue-se o drama de um regicídio, a falta de água canalizada e as epidemias de tuberculose.E, perdoem-me a imodéstia, tal como me socorro da actualidade das palavras de Aquilino, quando refere o paradoxal espírito de superioridade dos ignorantes, assim o faz com frequência Vasco Pulido Valente, Miguel Sousa Tavares e muitos outros que, anónimos como eu, acreditam que os nossos problemas são velhos e que o nosso genético problema de memória se resolve com a consulta das velhas obras que, por não serem assim tão santas merecem que se lhes toque com devida frequência.As mesmas que avisam para a antiga e simpática existência dos Conselheiros Acácios, onde Eça sintetizou a mediocridade política do reino.Tudo é tão recorrente disse recentemente o, para mim, insuspeito David Justino, assessor de Cavaco Silva e ex-ministro de Durão Barroso, a propósito do que se divaga na educação.E depois de rachar a insensatez de muitas opiniões pouco reflectidas e menos estudadas, do achar sem verificar, Justino refugia-se em Oliveira Martins, que, em 1888, sentencia:«O grande defeito do ensino oficial português está em que os compêndios são maus, os professores piores, e os programas, trasladados das escolas europeias, seriam excelentes por vezes, se não fossem puras hipóteses burocráticas».Eu, pessoalmente, conto com os bons professores, como contaram os progressistas, a primeira república e o livre pensamento.O País de hoje continua desejoso por reformas mesmo que o ocupem com fait-divers e assuntos paralelos.E, depois de assistirmos às cenas de violência entre docente e aluna que o YouTube hoje facilita e os jornais e televisões avidamente propagam, pego-me novamente à muleta secular de Oliveira Martins e, com maiores certezas que ele, noto que pouco nos resta saber acerca da espécie de homens (acrescento mulheres) que se estão formando nas famosas escolas leigas, e com o ensino estapafúrdio dos nossos liceus. (…).Andamos há muito mais de um século a dizer o mesmo e o que é mais grave é que acreditamos naquilo que dizemos.


Aproveitei a pausa da Páscoa para ler o republicado “Um escritor Confessa-se”, do Aquilino Ribeiro, reedição bem a propósito das comemorações do regicídio, se é coisa que se possa comemorar, e da transladação do autor para o Panteão Nacional, que não agradou os admiradores dos tempos em que tínhamos Rei.Com ele transportei-me para os tempos do fervor republicano e das mudanças que se operavam num País estagnado, ávido por reformas e pelo progresso, que se espalhava pela Europa e que insistia em tratar os portugueses como enteados.Há muito que não me prendia um livro. Este agarrou-me. E se o seu sumo fica para outros fóruns, é irreprimível trazer ao presente o que se passou no princípio do século XX e que bem podia ser descrição de muito do que hoje acontece. Exceptue-se o drama de um regicídio, a falta de água canalizada e as epidemias de tuberculose.E, perdoem-me a imodéstia, tal como me socorro da actualidade das palavras de Aquilino, quando refere o paradoxal espírito de superioridade dos ignorantes, assim o faz com frequência Vasco Pulido Valente, Miguel Sousa Tavares e muitos outros que, anónimos como eu, acreditam que os nossos problemas são velhos e que o nosso genético problema de memória se resolve com a consulta das velhas obras que, por não serem assim tão santas merecem que se lhes toque com devida frequência.As mesmas que avisam para a antiga e simpática existência dos Conselheiros Acácios, onde Eça sintetizou a mediocridade política do reino.Tudo é tão recorrente disse recentemente o, para mim, insuspeito David Justino, assessor de Cavaco Silva e ex-ministro de Durão Barroso, a propósito do que se divaga na educação.E depois de rachar a insensatez de muitas opiniões pouco reflectidas e menos estudadas, do achar sem verificar, Justino refugia-se em Oliveira Martins, que, em 1888, sentencia:«O grande defeito do ensino oficial português está em que os compêndios são maus, os professores piores, e os programas, trasladados das escolas europeias, seriam excelentes por vezes, se não fossem puras hipóteses burocráticas».Eu, pessoalmente, conto com os bons professores, como contaram os progressistas, a primeira república e o livre pensamento.O País de hoje continua desejoso por reformas mesmo que o ocupem com fait-divers e assuntos paralelos.E, depois de assistirmos às cenas de violência entre docente e aluna que o YouTube hoje facilita e os jornais e televisões avidamente propagam, pego-me novamente à muleta secular de Oliveira Martins e, com maiores certezas que ele, noto que pouco nos resta saber acerca da espécie de homens (acrescento mulheres) que se estão formando nas famosas escolas leigas, e com o ensino estapafúrdio dos nossos liceus. (…).Andamos há muito mais de um século a dizer o mesmo e o que é mais grave é que acreditamos naquilo que dizemos.

marcar artigo