Papéis de Alexandria*: Intervenção de Ruben de Carvalho na Aula Magna

16-07-2009
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29.6.2007As eleições em que dentro de pouco mais de duas semanas o povo de Lisboa será chamado a decidir os destinos da sua Cidade apresentam, para além de uma tão evidente quanto enorme importância, características de certa forma singulares que merecem que sobre nelas reflictamos um pouco.Trata-se, como muito bem sabem, de eleições intercalares tornadas inevitáveis pela devastadora crise política que fez soçobrar uma maioria de direita instalada na autarquia há seis anos.Graças aos entendimentos entre o PSD e o CDS, quer no anterior mandato, quer no que agora foi interrompido, essa maioria era absoluta. Ora, tem feito carreira nos últimos anos em Portugal em todas as campanhas eleitorais a perigosa ideia de que a existência de maiorias absolutas – seja na governação nacional, seja na governação autárquica – é não apenas um bem, como há mesmo quem delas faça depender a estabilidade e a alegada eficácia da acção executiva e governativa. Embora presentemente um pouco mais comedido – fruto talvez da evidência dos sentimentos populares que esta pré-campanha tem revelado… – o candidato do PS António Costa foi exactamente um dos defensores desta teoria, à semelhança, de resto, do que fizera o seu antecessor Manuel Maria Carrilho com os resultados que se conhecem…É assim indispensável questionar como é que uma governação autárquica que dispunha de maioria absoluta, como o foi durante meses a presidida por Carmona Rodrigues, lançou em pouco meses o município lisboeta na sua maior crise política, financeira, estrutural de sempre. Fora a tal teoria verdade e quais seriam então as causas do descalabro que conduziu Lisboa a esta situação e impôs a realização de eleições para tentar encontrar uma saída para a crise?A questão é que, como de há muito e em múltiplas circunstâncias, o PCP e a CDU têm insistido e demonstrado, o que dá estabilidade à acção governativa não são as aritméticas eleitorais, é sim, bem pelo contrário, a política concretizada no dia por quem governa. Há estabilidade quando se governa bem e no interesse do povo, há instabilidade quando se governa mal e contra os interesses do povo.A maioria absoluta do PSD-CDS na Câmara de Lisboa desmoronou-se no meio de um vendaval de episódios entre o gravíssimo e o caricato, única e exclusivamente por uma desastrosa sucessão de erros políticos que envolveram toda a actividade da Câmara conduzindo-a a complexas situações sob o ponto de vista judicial – de que são prova os múltiplos processos de averiguações judiciais em curso – a uma situação financeira e de tesouraria inquietante e a uma degradação e paralisação quase total do serviço municipal, do cumprimento dos deveres da autarquia junto da Cidade e dos seus habitantes.Lisboa não precisa para resolver os seus problemas de uma maioria absoluta: precisa de um política boa, de outra política, de uma política alternativa.Entretanto, é inevitável que a todos se coloque uma pergunta: mas como foram possíveis tantos erros, como foi possível arrastar ao longo de mais se seis anos uma prática que conduziu a tal precipício? Incompetência? Ignorância? Incapacidade?Sucede que, debruçando-nos sobre estes seis anos de governação de direita em Lisboa há ainda um outro e relevante aspecto que salta à vista: é que não nos encontramos perante uma crise pontual, uma crise ou uma ineficácia num ou noutro sector, num desequilíbrio em que as coisas estão mal num lado mas mais compostas no serviço ao lado. A verdade é que a crise é geral, afecta a Câmara como um todo e reflecte-se de alto a baixo em todo seu funcionamento e em toda a sua estrutura.Nestas condições, a explicação do problema jamais poderá ser encontrada numa razão circunstancial, numa incompetência pessoal de A ou de B: e a verdade é que a crise que a Câmara sofre é fruto da aplicação geral de uma política de direita onde em todos os sectores foi preterido o interesse público em benefício do interesse privado, foi abandonada a ética de uma administração democrática ao serviço das populações e não ao serviço de interesses privados ou partidários, foi abandonado o critério da competência e do rigor no trabalho e na organização em favor do clientelismo, foi abandonada a ética da honestidade e da seriedade das instituições, em benefício da influência corruptora dos interesses escusos e dos negócios expeditos.Este processo de degradação que conduziu a esta crise não teria sido possível apenas com o desvario, a incompetência ou as megalomanias de quem em nome do PSD e do CDS governou o município de Lisboa durante seis anos. É certo que a eles cabe o essencial da responsabilidade, mas torna-se igualmente indispensável saber quem, ao longo destes anos, se opôs frontalmente, tentou impedir o desastre com todos os meios ao seu alcance ou quem, pelo contrário, contemporizou ou mesmo colaborou em muitas das medidas e decisões que tornaram realidade esta situação.E aqui, não podemos, quando faltam duas semanas para que a soberana vontade do eleitorado decida o que Lisboa quer e quem quer em Lisboa, não podemos deixar de recordar que o PSD e o CDS contaram com a complacência e, em não poucas ou pouco graves circunstâncias, com a colaboração dos eleitos do Partido Socialista e também do Bloco de Esquerda.E não podemos deixar de recordar que ao longo de seis anos, sem desânimos nem hesitações, em todas as instâncias e em todas as circunstâncias os eleitos da CDU na Câmara, na Assembleia Municipal, nas Juntas de Freguesia honraram o que prometeram ao eleitorado que neles confiou: trabalho, honestidade, competência e que com esses valores sempre presentes constituíram uma oposição que, além de tudo o que fez durante estes anos, torna agora possível que digamos: é possível a alternativa e essa alternativa é a CDU.A situação financeira a que a direita conduziu o município de Lisboa tem estado no centro das atenções nos últimos meses e, muito em especial, no debate em torno das eleições.Não temos, já o dissemos, dúvidas nem sobre a gravidade do problema nem sobre os seus responsáveis e as suas causas.Entretanto, parece-nos indispensável chamar a atenção para os aproveitamentos demagógicos que têm vindo a ser feitos deste problema, as inconcebíveis – mas nada inocentes – inexactidões que se propagam.Manifestámos as nossas preocupações pelas declarações já avançadas em várias circunstâncias pelo candidato do Partido Socialista sobre uma pretensa necessidade de intervenção do Governo na Câmara Municipal de Lisboa em nome de números que com a estranha colaboração da actual Comissão Administrativa (que inclui candidatos quer do PS quer do PSD) vêm a ser manipulados. Aquando em Janeiro deste ano o PCP votou na Assembleia da República contra a Lei 2/2007 fê-lo por considerar que este diploma abria as portas para inaceitáveis intromissões do governo no Poder Local Democrático e na sua autonomia: era o actual candidato do PS, então ministro da Administração Interna, o principal defensor deste furor interventivo do governo no Poder Local e, na sua actual posição de candidato, ouvimo-lo defender exactamente o que o PCP advertiu que poderia vir a acontecer. O ex-ministro António Costa parece apenas querer transferir o seu gabinete do ministério para a Câmara Municipal de Lisboa e ser nela não o edil dos lisboetas, mas o comissário do Governo.Com a autoridade que o seu reconhecido trabalho no Poder Local em geral e em Lisboa em particular, a CDU afirma com toda a clareza que os activos da Câmara Municipal de Lisboa são superiores aos seus passivos, o que traduz uma situação global de solvência. A CML é economicamente viável, precisa, isso sim, de uma gestão com trabalho, com honestidade, com competência – que não tem tido.A CML precisa de uma Vereação de homens e mulheres empenhados na capital e não da intromissão de um governo cuja política nacional é só por si o mais poderoso aviso para que seja indispensável evitar que governe Lisboa como governa o País.Aliás, é possível dizer que, na realidade, o problema se põe até de forma substancialmente diferente. O relacionamento do Poder Central com a autarquia lisboeta nos últimos tempos tem-se caracterizado por uma intolerável falta de diálogo e cooperação, onde não se sabe se é de lamentar mais a inexplicável complacência do anterior executivo se de vituperar a inaceitável arrogância do Governo e dos inúmeros organismos por ele tutelados e que intervêm, condicionam e afectam a vida da Cidade e dos seus habitantes.Entendemos que a edilidade lisboeta não tem exclusivamente como missão a elevada responsabilidade de gerir a Câmara Municipal e de assegurar que ela sirva os munícipes como é seu dever e obrigação: entendemos também que os edis lisboetas, e muito em especial o Presidente da Câmara, têm a legitimidade democrática do voto que o elegeu e que esse voto lhe confere e impõe igualmente a obrigação de representar os interesses dos lisboetas que o elegeram em todas as circunstâncias.A tutela da Carris, do Metropolitano, do Porto de Lisboa, da CP, a responsabilidade das polícias, dos problemas de segurança, de saúde, de educação, a propriedade de hectares e hectares de terrenos de quartéis desactivados, instalações obsoletas etc., etc., pertencem ao Governo central, mas não podem ser entendidos como coutadas onde a Cidade e quem ela elege, e em quem ela confia, nada tem a dizer. Lisboa alberga o Poder Central: não é sua refém – e não será seguramente com a CDU!Temos um programa para Lisboa. Ele está nas vossas mãos. É preciso que esteja em muitas mais, em cada rua, em cada bairro, em cada casa, mas sobretudo em cada consciência e em cada vontade de quem sonhe e queira uma Cidade onde valha a pena viver.Temos, nestas duas semanas que faltam para as eleições, de dizer aos habitantes dos bairros degradados, aqueles que habitam os bairros sociais que, tal como teve papel fundamental em todo o programa que apagou a chaga dos bairros de barracas da nossa Cidade, a CDU tem também soluções para problemas que resultaram do que a direita não completou nestes seis anos, do que destruiu nestes seis anos, do que prometeu e não cumpriu nestes seis anos.Temos de dizer a todos os lisboetas que o ambiente, os espaços verdes, as árvores, as ruas, as calçadas, a luz da nossa Cidade está no centro do que para ela queremos e que nos propomos fazer.Temos de tornar claro que conhecemos, estudámos, temos planos, ideias e vontade, do que são os complexos problemas do estacionamento, da mobilidade, do trânsito em Lisboa, que não transigiremos com essa inqualificável passividade que arrasta há anos a inexistência de uma Autoridade Metropolitana de Transportes que congregue as vontades e as capacidades indispensáveis para resolver um problema que é do presente, mas é sobretudo do futuro.Temos de anunciar que a nossa visão do universo das empresas municipais não é a da negociata, a do oportunismo, a do negócio escuso ou da burocracia inoperante – quantas vezes lucrativamente inoperante! As empresas municipais, reorganizadas, reestruturadas, algumas mesmo extintas, têm de ser instrumentos essenciais que completem a rica, diversificada e experiente estrutura dos serviços da Câmara. Aqui, há um problema que quase diríamos é de substantivo e adjectivo: é que para nós, na existência das empresas municipais, é a empresa que serve o municipal e não o municipal que serve a empresa…Temos de anunciar que somos pela valorização dos serviços camarários, dos seus trabalhadores e dos seus equipamentos e instalações e não pelas operações sistemáticas ruinosas de concessões, outsourcings, desmantelamentos insidiosos de departamentos e quadros com anos de experiência para justificar o mau uso de dinheiros públicos.Temos de tornar claro às centenas de fornecedores da Câmara que, gerida pela CDU, a CML é, como deve e tem de ser, uma pessoa de bem, uma entidade economicamente fiável, eficaz, séria e pronta nos seus compromissos, tanto quanto no rigor das suas exigências.Temos de encontrar as palavras para que todos os que são a Cidade saibam que ela tem um documento que é para ela tão importante como a Constituição é para o Portugal de Abril: que foi com a CDU no executivo Camarário que pela primeira vez se elaborou um Plano Director Municipal que, logo que chegada ao poder, a direita paralisou e violou de todas as formas, que é urgente concluir a sua revisão, que ele constitui a garantia para todos quantos vivem na Cidade daquilo que ela é, daquilo que ela virá a ser, daquilo a que, no solo, na árvore, no verde, no ar que respiram, no ruído ou no silêncio, na escola próxima ou no transporte necessário determina, fixa, se torna lei para todos. Para todos, como democraticamente entendemos.Temos de dizer aos jovens que é necessário – mas temos também que o tornar possível! – regressarem a Lisboa, verem o Tejo das suas colinas, terem casas onde possam ver o seu futuro e o dos seus, queremos casas que não sejam fortalezas de argentários endinheirados fruindo os horizontes e a luz de Lisboa enquanto se expulsam para a periferia os que depois buscam o trabalho após horas e horas de transportes de que o governo não cuida.Temos de estreitar as tarefas a que os eleitos da CDU deram nascença, o desporto para todos na Cidade, o diálogo com as colectividades, a colaboração permanente com as Juntas de Freguesia, a recuperação de equipamentos, o apoio à cultura popular, desde a marioneta medieval até um Fado que renasceu como queremos que toda a Cidade renasça.Temos de dizer que a nossa preocupação com os idosos vem das raízes que tempos nas vidas gastas no trabalho, das fábricas, nas oficinas, no dia a dia do laborar caseiro e da criação dos filhos, que para nós cuidar da população de Lisboa que com a sua Lisboa envelheceu é um dever tão evidente como trabalhar ou respirar.Uma palavra muito especial tem de ser dirigida aos trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa. Sem eles, podem os lisboetas estar certos, tudo o que de desastroso seis anos de política de direita trouxe à Cidade seria bem pior. E também eles, das mais diversas formas, têm sido vítimas do desnorte, da incompetência, do desrespeito pelo interesse público, do servilismo e da arrogância partidárias.Se nós, CDU, afirmamos que é possível recuperar esta Câmara para Lisboa e ao serviço da Cidade, se afirmamos que a alternativa é possível é porque conhecemos a Câmara e a Cidade. Conhecemos as suas contas, os seus problemas – mas também conhecemos os seus trabalhadores. E sabemos que a Cidade pode contar com eles.Possam eles contar que os eleitores colocarão à frente dos destinos do Município uma Vereação para quem, primeiro, esteja Lisboa, os que nela habitam e os que nela trabalham.Antes de terminar, uma palavra também muito especial para todos vós. Os que estais aqui para fazer da CDU a força alternativa para Lisboa, mas também para as centenas e centenas de companheiros que fizeram de Lisboa uma Cidade pintada com o azul de esperança dos nossos pendões, que todos os dias percorrem ruas e avenidas, falam com quem os rodeia, distribuem propaganda.Enfim, todos aqueles que confiam que 15 de Julho poderá tornar possível em Lisboa as palavras de alguém que sobre a Cidade escreveu:«Não é uma metáfora que se possa comparar a Cidade a uma sinfonia ou a um poema. (…) A Cidade é ao mesmo tempo um objecto da natureza e um sujeito de cultura: um indivíduo e um grupo; coisa vivida e coisa sonhada; a coisa humana por excelência» (Claude Levy-Strauss in Tristes Trópicos)


29.6.2007As eleições em que dentro de pouco mais de duas semanas o povo de Lisboa será chamado a decidir os destinos da sua Cidade apresentam, para além de uma tão evidente quanto enorme importância, características de certa forma singulares que merecem que sobre nelas reflictamos um pouco.Trata-se, como muito bem sabem, de eleições intercalares tornadas inevitáveis pela devastadora crise política que fez soçobrar uma maioria de direita instalada na autarquia há seis anos.Graças aos entendimentos entre o PSD e o CDS, quer no anterior mandato, quer no que agora foi interrompido, essa maioria era absoluta. Ora, tem feito carreira nos últimos anos em Portugal em todas as campanhas eleitorais a perigosa ideia de que a existência de maiorias absolutas – seja na governação nacional, seja na governação autárquica – é não apenas um bem, como há mesmo quem delas faça depender a estabilidade e a alegada eficácia da acção executiva e governativa. Embora presentemente um pouco mais comedido – fruto talvez da evidência dos sentimentos populares que esta pré-campanha tem revelado… – o candidato do PS António Costa foi exactamente um dos defensores desta teoria, à semelhança, de resto, do que fizera o seu antecessor Manuel Maria Carrilho com os resultados que se conhecem…É assim indispensável questionar como é que uma governação autárquica que dispunha de maioria absoluta, como o foi durante meses a presidida por Carmona Rodrigues, lançou em pouco meses o município lisboeta na sua maior crise política, financeira, estrutural de sempre. Fora a tal teoria verdade e quais seriam então as causas do descalabro que conduziu Lisboa a esta situação e impôs a realização de eleições para tentar encontrar uma saída para a crise?A questão é que, como de há muito e em múltiplas circunstâncias, o PCP e a CDU têm insistido e demonstrado, o que dá estabilidade à acção governativa não são as aritméticas eleitorais, é sim, bem pelo contrário, a política concretizada no dia por quem governa. Há estabilidade quando se governa bem e no interesse do povo, há instabilidade quando se governa mal e contra os interesses do povo.A maioria absoluta do PSD-CDS na Câmara de Lisboa desmoronou-se no meio de um vendaval de episódios entre o gravíssimo e o caricato, única e exclusivamente por uma desastrosa sucessão de erros políticos que envolveram toda a actividade da Câmara conduzindo-a a complexas situações sob o ponto de vista judicial – de que são prova os múltiplos processos de averiguações judiciais em curso – a uma situação financeira e de tesouraria inquietante e a uma degradação e paralisação quase total do serviço municipal, do cumprimento dos deveres da autarquia junto da Cidade e dos seus habitantes.Lisboa não precisa para resolver os seus problemas de uma maioria absoluta: precisa de um política boa, de outra política, de uma política alternativa.Entretanto, é inevitável que a todos se coloque uma pergunta: mas como foram possíveis tantos erros, como foi possível arrastar ao longo de mais se seis anos uma prática que conduziu a tal precipício? Incompetência? Ignorância? Incapacidade?Sucede que, debruçando-nos sobre estes seis anos de governação de direita em Lisboa há ainda um outro e relevante aspecto que salta à vista: é que não nos encontramos perante uma crise pontual, uma crise ou uma ineficácia num ou noutro sector, num desequilíbrio em que as coisas estão mal num lado mas mais compostas no serviço ao lado. A verdade é que a crise é geral, afecta a Câmara como um todo e reflecte-se de alto a baixo em todo seu funcionamento e em toda a sua estrutura.Nestas condições, a explicação do problema jamais poderá ser encontrada numa razão circunstancial, numa incompetência pessoal de A ou de B: e a verdade é que a crise que a Câmara sofre é fruto da aplicação geral de uma política de direita onde em todos os sectores foi preterido o interesse público em benefício do interesse privado, foi abandonada a ética de uma administração democrática ao serviço das populações e não ao serviço de interesses privados ou partidários, foi abandonado o critério da competência e do rigor no trabalho e na organização em favor do clientelismo, foi abandonada a ética da honestidade e da seriedade das instituições, em benefício da influência corruptora dos interesses escusos e dos negócios expeditos.Este processo de degradação que conduziu a esta crise não teria sido possível apenas com o desvario, a incompetência ou as megalomanias de quem em nome do PSD e do CDS governou o município de Lisboa durante seis anos. É certo que a eles cabe o essencial da responsabilidade, mas torna-se igualmente indispensável saber quem, ao longo destes anos, se opôs frontalmente, tentou impedir o desastre com todos os meios ao seu alcance ou quem, pelo contrário, contemporizou ou mesmo colaborou em muitas das medidas e decisões que tornaram realidade esta situação.E aqui, não podemos, quando faltam duas semanas para que a soberana vontade do eleitorado decida o que Lisboa quer e quem quer em Lisboa, não podemos deixar de recordar que o PSD e o CDS contaram com a complacência e, em não poucas ou pouco graves circunstâncias, com a colaboração dos eleitos do Partido Socialista e também do Bloco de Esquerda.E não podemos deixar de recordar que ao longo de seis anos, sem desânimos nem hesitações, em todas as instâncias e em todas as circunstâncias os eleitos da CDU na Câmara, na Assembleia Municipal, nas Juntas de Freguesia honraram o que prometeram ao eleitorado que neles confiou: trabalho, honestidade, competência e que com esses valores sempre presentes constituíram uma oposição que, além de tudo o que fez durante estes anos, torna agora possível que digamos: é possível a alternativa e essa alternativa é a CDU.A situação financeira a que a direita conduziu o município de Lisboa tem estado no centro das atenções nos últimos meses e, muito em especial, no debate em torno das eleições.Não temos, já o dissemos, dúvidas nem sobre a gravidade do problema nem sobre os seus responsáveis e as suas causas.Entretanto, parece-nos indispensável chamar a atenção para os aproveitamentos demagógicos que têm vindo a ser feitos deste problema, as inconcebíveis – mas nada inocentes – inexactidões que se propagam.Manifestámos as nossas preocupações pelas declarações já avançadas em várias circunstâncias pelo candidato do Partido Socialista sobre uma pretensa necessidade de intervenção do Governo na Câmara Municipal de Lisboa em nome de números que com a estranha colaboração da actual Comissão Administrativa (que inclui candidatos quer do PS quer do PSD) vêm a ser manipulados. Aquando em Janeiro deste ano o PCP votou na Assembleia da República contra a Lei 2/2007 fê-lo por considerar que este diploma abria as portas para inaceitáveis intromissões do governo no Poder Local Democrático e na sua autonomia: era o actual candidato do PS, então ministro da Administração Interna, o principal defensor deste furor interventivo do governo no Poder Local e, na sua actual posição de candidato, ouvimo-lo defender exactamente o que o PCP advertiu que poderia vir a acontecer. O ex-ministro António Costa parece apenas querer transferir o seu gabinete do ministério para a Câmara Municipal de Lisboa e ser nela não o edil dos lisboetas, mas o comissário do Governo.Com a autoridade que o seu reconhecido trabalho no Poder Local em geral e em Lisboa em particular, a CDU afirma com toda a clareza que os activos da Câmara Municipal de Lisboa são superiores aos seus passivos, o que traduz uma situação global de solvência. A CML é economicamente viável, precisa, isso sim, de uma gestão com trabalho, com honestidade, com competência – que não tem tido.A CML precisa de uma Vereação de homens e mulheres empenhados na capital e não da intromissão de um governo cuja política nacional é só por si o mais poderoso aviso para que seja indispensável evitar que governe Lisboa como governa o País.Aliás, é possível dizer que, na realidade, o problema se põe até de forma substancialmente diferente. O relacionamento do Poder Central com a autarquia lisboeta nos últimos tempos tem-se caracterizado por uma intolerável falta de diálogo e cooperação, onde não se sabe se é de lamentar mais a inexplicável complacência do anterior executivo se de vituperar a inaceitável arrogância do Governo e dos inúmeros organismos por ele tutelados e que intervêm, condicionam e afectam a vida da Cidade e dos seus habitantes.Entendemos que a edilidade lisboeta não tem exclusivamente como missão a elevada responsabilidade de gerir a Câmara Municipal e de assegurar que ela sirva os munícipes como é seu dever e obrigação: entendemos também que os edis lisboetas, e muito em especial o Presidente da Câmara, têm a legitimidade democrática do voto que o elegeu e que esse voto lhe confere e impõe igualmente a obrigação de representar os interesses dos lisboetas que o elegeram em todas as circunstâncias.A tutela da Carris, do Metropolitano, do Porto de Lisboa, da CP, a responsabilidade das polícias, dos problemas de segurança, de saúde, de educação, a propriedade de hectares e hectares de terrenos de quartéis desactivados, instalações obsoletas etc., etc., pertencem ao Governo central, mas não podem ser entendidos como coutadas onde a Cidade e quem ela elege, e em quem ela confia, nada tem a dizer. Lisboa alberga o Poder Central: não é sua refém – e não será seguramente com a CDU!Temos um programa para Lisboa. Ele está nas vossas mãos. É preciso que esteja em muitas mais, em cada rua, em cada bairro, em cada casa, mas sobretudo em cada consciência e em cada vontade de quem sonhe e queira uma Cidade onde valha a pena viver.Temos, nestas duas semanas que faltam para as eleições, de dizer aos habitantes dos bairros degradados, aqueles que habitam os bairros sociais que, tal como teve papel fundamental em todo o programa que apagou a chaga dos bairros de barracas da nossa Cidade, a CDU tem também soluções para problemas que resultaram do que a direita não completou nestes seis anos, do que destruiu nestes seis anos, do que prometeu e não cumpriu nestes seis anos.Temos de dizer a todos os lisboetas que o ambiente, os espaços verdes, as árvores, as ruas, as calçadas, a luz da nossa Cidade está no centro do que para ela queremos e que nos propomos fazer.Temos de tornar claro que conhecemos, estudámos, temos planos, ideias e vontade, do que são os complexos problemas do estacionamento, da mobilidade, do trânsito em Lisboa, que não transigiremos com essa inqualificável passividade que arrasta há anos a inexistência de uma Autoridade Metropolitana de Transportes que congregue as vontades e as capacidades indispensáveis para resolver um problema que é do presente, mas é sobretudo do futuro.Temos de anunciar que a nossa visão do universo das empresas municipais não é a da negociata, a do oportunismo, a do negócio escuso ou da burocracia inoperante – quantas vezes lucrativamente inoperante! As empresas municipais, reorganizadas, reestruturadas, algumas mesmo extintas, têm de ser instrumentos essenciais que completem a rica, diversificada e experiente estrutura dos serviços da Câmara. Aqui, há um problema que quase diríamos é de substantivo e adjectivo: é que para nós, na existência das empresas municipais, é a empresa que serve o municipal e não o municipal que serve a empresa…Temos de anunciar que somos pela valorização dos serviços camarários, dos seus trabalhadores e dos seus equipamentos e instalações e não pelas operações sistemáticas ruinosas de concessões, outsourcings, desmantelamentos insidiosos de departamentos e quadros com anos de experiência para justificar o mau uso de dinheiros públicos.Temos de tornar claro às centenas de fornecedores da Câmara que, gerida pela CDU, a CML é, como deve e tem de ser, uma pessoa de bem, uma entidade economicamente fiável, eficaz, séria e pronta nos seus compromissos, tanto quanto no rigor das suas exigências.Temos de encontrar as palavras para que todos os que são a Cidade saibam que ela tem um documento que é para ela tão importante como a Constituição é para o Portugal de Abril: que foi com a CDU no executivo Camarário que pela primeira vez se elaborou um Plano Director Municipal que, logo que chegada ao poder, a direita paralisou e violou de todas as formas, que é urgente concluir a sua revisão, que ele constitui a garantia para todos quantos vivem na Cidade daquilo que ela é, daquilo que ela virá a ser, daquilo a que, no solo, na árvore, no verde, no ar que respiram, no ruído ou no silêncio, na escola próxima ou no transporte necessário determina, fixa, se torna lei para todos. Para todos, como democraticamente entendemos.Temos de dizer aos jovens que é necessário – mas temos também que o tornar possível! – regressarem a Lisboa, verem o Tejo das suas colinas, terem casas onde possam ver o seu futuro e o dos seus, queremos casas que não sejam fortalezas de argentários endinheirados fruindo os horizontes e a luz de Lisboa enquanto se expulsam para a periferia os que depois buscam o trabalho após horas e horas de transportes de que o governo não cuida.Temos de estreitar as tarefas a que os eleitos da CDU deram nascença, o desporto para todos na Cidade, o diálogo com as colectividades, a colaboração permanente com as Juntas de Freguesia, a recuperação de equipamentos, o apoio à cultura popular, desde a marioneta medieval até um Fado que renasceu como queremos que toda a Cidade renasça.Temos de dizer que a nossa preocupação com os idosos vem das raízes que tempos nas vidas gastas no trabalho, das fábricas, nas oficinas, no dia a dia do laborar caseiro e da criação dos filhos, que para nós cuidar da população de Lisboa que com a sua Lisboa envelheceu é um dever tão evidente como trabalhar ou respirar.Uma palavra muito especial tem de ser dirigida aos trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa. Sem eles, podem os lisboetas estar certos, tudo o que de desastroso seis anos de política de direita trouxe à Cidade seria bem pior. E também eles, das mais diversas formas, têm sido vítimas do desnorte, da incompetência, do desrespeito pelo interesse público, do servilismo e da arrogância partidárias.Se nós, CDU, afirmamos que é possível recuperar esta Câmara para Lisboa e ao serviço da Cidade, se afirmamos que a alternativa é possível é porque conhecemos a Câmara e a Cidade. Conhecemos as suas contas, os seus problemas – mas também conhecemos os seus trabalhadores. E sabemos que a Cidade pode contar com eles.Possam eles contar que os eleitores colocarão à frente dos destinos do Município uma Vereação para quem, primeiro, esteja Lisboa, os que nela habitam e os que nela trabalham.Antes de terminar, uma palavra também muito especial para todos vós. Os que estais aqui para fazer da CDU a força alternativa para Lisboa, mas também para as centenas e centenas de companheiros que fizeram de Lisboa uma Cidade pintada com o azul de esperança dos nossos pendões, que todos os dias percorrem ruas e avenidas, falam com quem os rodeia, distribuem propaganda.Enfim, todos aqueles que confiam que 15 de Julho poderá tornar possível em Lisboa as palavras de alguém que sobre a Cidade escreveu:«Não é uma metáfora que se possa comparar a Cidade a uma sinfonia ou a um poema. (…) A Cidade é ao mesmo tempo um objecto da natureza e um sujeito de cultura: um indivíduo e um grupo; coisa vivida e coisa sonhada; a coisa humana por excelência» (Claude Levy-Strauss in Tristes Trópicos)

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