Baptista-Bastos, dono de uma gramática escorreita e de uma pena aprumada, escorrega bastas vezes nos degraus da lógica. São já poucos os que se deixam impressionar pela estafada "ética republicana". Mas, de quando em vez, lá aparece uma mente esmaltada a debitar desvarios que não se tornam verdadeiros, por mil vezes que sejam repetidos. Um dos dislates preferidos é a adjectivação da ética. Porque há, pelo menos por trás da testa de alguns mamíferos, uma ética republicana, acreditando eles que no mundo em que respiram nenhuma outra é possível. E enchem os pulmões com ela, crentes na pureza do despautério. "Fomos perdendo, sem sobressalto nem indignação, a matriz ética da República. De vez em quando, releio as páginas que narram os desassossegados dezasseis anos que durou o novo regime, obstinadamente defendido por muitos a quem se impunha a consciência do compromisso. Esses, entre o aplauso e o assobio, percorreram o caminho que vai do silêncio à perseguição, do exílio ao assassínio político. Morreram pobres. São os heróis de uma história que se dissipou, porque o fascismo impediu nos fosse contada, nas exactas dimensões das suas luzes e das suas sombras."A matriz ética da República de que fala o Baptista-Bastos é aquela que animava o Raúl Rego que, mesmo algaliado, se arrastou até ao parlamento para votar uma jacobinice qualquer (o aborto, acho eu). O desassossego dos dezasseis anos que durou o novo regime (sim, porque o Estado Novo, tanto quanto conseguem descortinar estas criaturas, era outra coisa que não república...) foi fruto do estrépito revolucionário de um punhado de talassas, claro está. Não era a ética republicana que instigava a que se matassem uns aos outros, como não era a ética republicana que fazia com que se derrubassem governos atrás de governos. Também não seria a ética republicana, nisto estou certo, a impor a bancarrota do Estado. Mas os da ética republicana, e seguramente por ela, morreram pobres. Como Salazar, diria eu.
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Baptista-Bastos, dono de uma gramática escorreita e de uma pena aprumada, escorrega bastas vezes nos degraus da lógica. São já poucos os que se deixam impressionar pela estafada "ética republicana". Mas, de quando em vez, lá aparece uma mente esmaltada a debitar desvarios que não se tornam verdadeiros, por mil vezes que sejam repetidos. Um dos dislates preferidos é a adjectivação da ética. Porque há, pelo menos por trás da testa de alguns mamíferos, uma ética republicana, acreditando eles que no mundo em que respiram nenhuma outra é possível. E enchem os pulmões com ela, crentes na pureza do despautério. "Fomos perdendo, sem sobressalto nem indignação, a matriz ética da República. De vez em quando, releio as páginas que narram os desassossegados dezasseis anos que durou o novo regime, obstinadamente defendido por muitos a quem se impunha a consciência do compromisso. Esses, entre o aplauso e o assobio, percorreram o caminho que vai do silêncio à perseguição, do exílio ao assassínio político. Morreram pobres. São os heróis de uma história que se dissipou, porque o fascismo impediu nos fosse contada, nas exactas dimensões das suas luzes e das suas sombras."A matriz ética da República de que fala o Baptista-Bastos é aquela que animava o Raúl Rego que, mesmo algaliado, se arrastou até ao parlamento para votar uma jacobinice qualquer (o aborto, acho eu). O desassossego dos dezasseis anos que durou o novo regime (sim, porque o Estado Novo, tanto quanto conseguem descortinar estas criaturas, era outra coisa que não república...) foi fruto do estrépito revolucionário de um punhado de talassas, claro está. Não era a ética republicana que instigava a que se matassem uns aos outros, como não era a ética republicana que fazia com que se derrubassem governos atrás de governos. Também não seria a ética republicana, nisto estou certo, a impor a bancarrota do Estado. Mas os da ética republicana, e seguramente por ela, morreram pobres. Como Salazar, diria eu.