LÓBI DO CHÁ: Coerência e convicção?

19-07-2005
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Há um irritante consenso nos discursos de despedida a Álvaro de Cunhal. Grande parte dos seus adversários, amigos e admiradores, exaltam a sua coerência e as suas convicções. Para mim, quer a convicção quer a coerência, não são condutas abstractamente boas. Um homem não deve ser admirado pela sua coerência e pela sua conduta, que assim só, sem demais, representa um fundamentalismo perigoso.Enquanto alguns reconhecem o mérito de Cunhal ter sido coerente e convicto até à última hora, para mim foi um fundamentalista perigoso que quis impor, não obstante não ter estrutura de apoio popular, uma política de extrema-esquerda que conduziria Portugal para uma outra ditadura. Nem mesmo quando o projecto que Cunhal tinha para Portugal foi vencido noutras nações, o líder comunista foi capaz de recuar ou sequer questionar o alcance daquelas políticas. Nem mesmo quando a Reforma Agrária já dava sinais de destruição da agricultura portuguesa, nem mesmo nesse momento, Cunhal foi capaz de assumir o erro. Para mim, isto não são convicções ou coerência, é fundamentalismo.Mário Soares, político que não admiro incondicionalmente, teve a capacidade de recuar ou inverter o seu caminho. Chegou a dizer que “só os burros não mudam de opinião”. Terá sido uma das coisas mais acertadas que disse na vida. De facto, mudando-se os tempos, mudando-se as vontades, mudam-se também os pensamentos (e bem assim, as convicções e a coerência). Neste campo, só o fundamentalista protege o seu pensamento de qualquer mutação que não satisfaça os pilares fundamentais em que assenta.Será que devemos elogiar as convicções e coerência de Hitler, Mussolini ou Franco? Será que devemos elogiar e promover as convicções e coerência dos militantes de extrema-direita ou extrema-esquerda? Será que devemos aplaudir as convicções e coerência dos grupos terroristas islâmicos?Para mim, no homem inteligente e combativo que foi Álvaro Cunhal, o seu maior erro foi precisamente o que hoje mais se elogia: a coerência e convicção. Sem o fundamentalismo que o destruiu, Cunhal podia ter sido uma figura a marcar positivamente a história da democracia portuguesa. Mas não foi e não será o facto de não ter conseguido levar a cabo as suas intenções, que embeleza o seu tenebroso caminho político.

Há um irritante consenso nos discursos de despedida a Álvaro de Cunhal. Grande parte dos seus adversários, amigos e admiradores, exaltam a sua coerência e as suas convicções. Para mim, quer a convicção quer a coerência, não são condutas abstractamente boas. Um homem não deve ser admirado pela sua coerência e pela sua conduta, que assim só, sem demais, representa um fundamentalismo perigoso.Enquanto alguns reconhecem o mérito de Cunhal ter sido coerente e convicto até à última hora, para mim foi um fundamentalista perigoso que quis impor, não obstante não ter estrutura de apoio popular, uma política de extrema-esquerda que conduziria Portugal para uma outra ditadura. Nem mesmo quando o projecto que Cunhal tinha para Portugal foi vencido noutras nações, o líder comunista foi capaz de recuar ou sequer questionar o alcance daquelas políticas. Nem mesmo quando a Reforma Agrária já dava sinais de destruição da agricultura portuguesa, nem mesmo nesse momento, Cunhal foi capaz de assumir o erro. Para mim, isto não são convicções ou coerência, é fundamentalismo.Mário Soares, político que não admiro incondicionalmente, teve a capacidade de recuar ou inverter o seu caminho. Chegou a dizer que “só os burros não mudam de opinião”. Terá sido uma das coisas mais acertadas que disse na vida. De facto, mudando-se os tempos, mudando-se as vontades, mudam-se também os pensamentos (e bem assim, as convicções e a coerência). Neste campo, só o fundamentalista protege o seu pensamento de qualquer mutação que não satisfaça os pilares fundamentais em que assenta.Será que devemos elogiar as convicções e coerência de Hitler, Mussolini ou Franco? Será que devemos elogiar e promover as convicções e coerência dos militantes de extrema-direita ou extrema-esquerda? Será que devemos aplaudir as convicções e coerência dos grupos terroristas islâmicos?Para mim, no homem inteligente e combativo que foi Álvaro Cunhal, o seu maior erro foi precisamente o que hoje mais se elogia: a coerência e convicção. Sem o fundamentalismo que o destruiu, Cunhal podia ter sido uma figura a marcar positivamente a história da democracia portuguesa. Mas não foi e não será o facto de não ter conseguido levar a cabo as suas intenções, que embeleza o seu tenebroso caminho político.

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