IRREALIDADE PRODIGIOSA: 0072

03-10-2009
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Resolvi fazer um parêntesis nas temáticas que mais têm inspirado este blog, para me pronunciar sobre o acontecimento político do dia: os “cornos” com que o ministro Manuel Pinho atacou o deputado Bernardino Soares e a consequente demissão ministerial.Concordo com as acusações de gravidade formal ao acto. E dito isto, prefiro centrar-me nos outros lados. Não porque o dito ministro ou o seu governo me sejam simpáticos, mas porque a política portuguesa me é antipática.O ministro fez uns “cornitos” ao deputado Bernardino. E pronto! O circo está instalado.E, no entanto, os deputados, que agora nos lembram que são representantes dos cidadãos, portam-se de forma habitualmente deseducada em todas as sessões parlamentares (já para não falar dos abusos do costume), onde determinadas formulações verbais rivalizam, quando não ultrapassam, a referida cornadura.E não se demitem, nem pedem demissões.Mas o que mais me interessa aqui sublinhar é a futebolização destas coisas sérias, como a política, numa altura em que o futebol é escândalo para a moral pública.Que quero dizer? O seguinte: quem já andou pelos campos de futebol sabe que o que se passa lá dentro entre jogadores nem sempre segue as regras da boa conduta. Não poucas vezes a provocação baixa visa testar os nervos do adversário, visa gerar descontrolos, provocar acções desajustadas às regras e à moral, para depois se evocar as regras e a moral para condenar a reacção. Lembram-se do Zidane no campeonato do mundo? (uns lembrar-se-ão, outros, porque são coisas do futebol – logo pretensamente não deste mundo – não saberão). São estratégias pensadas e planeadas. Como aqueles carros da polícia que “picam” os condutores para a seguir os multarem.Mas é assim. Não basta jogar bom futebol (ou ser bom condutor). É preciso ter estofo para resistir à provocação, ao comportamento baixo, à adjectivação gratuita e ofensiva. E esse foi o problema do ministro: teve um momento de falta de paciência e controlo. Foi mal comportado? Foi. Mas que os deputados (ou uma parte muito significativa deles) mereceram o gesto...Bom, eu, que aparentemente sou representado por algum deles, não me senti particularmente ofendido. Até pelo contrário. Achei divertido.Talvez isso revele falta de sentido de Estado. Falta de sentido institucional. Falta de uma série de coisas. Mas certamente não falta de capacidade de entender o que pode levar um homem naquelas circunstâncias a fazer uma coisa daquelas. Pessoalmente, sinto-me constrangido com aquele tipo de debates (que nunca o são seriamente). Por isso, e apesar de reconhecer o carácter formalmente desadequado do acto e de até achar o senhor inábil para o cargo que ocupava, me senti muito mais representado no seu acto que pelas “virgens ofendidas profissionais” que de imediato se fizeram ouvir.O que me ocorre? Dizer: “Boa Manel”. Como eu percebo a tua falta de paciência...


Resolvi fazer um parêntesis nas temáticas que mais têm inspirado este blog, para me pronunciar sobre o acontecimento político do dia: os “cornos” com que o ministro Manuel Pinho atacou o deputado Bernardino Soares e a consequente demissão ministerial.Concordo com as acusações de gravidade formal ao acto. E dito isto, prefiro centrar-me nos outros lados. Não porque o dito ministro ou o seu governo me sejam simpáticos, mas porque a política portuguesa me é antipática.O ministro fez uns “cornitos” ao deputado Bernardino. E pronto! O circo está instalado.E, no entanto, os deputados, que agora nos lembram que são representantes dos cidadãos, portam-se de forma habitualmente deseducada em todas as sessões parlamentares (já para não falar dos abusos do costume), onde determinadas formulações verbais rivalizam, quando não ultrapassam, a referida cornadura.E não se demitem, nem pedem demissões.Mas o que mais me interessa aqui sublinhar é a futebolização destas coisas sérias, como a política, numa altura em que o futebol é escândalo para a moral pública.Que quero dizer? O seguinte: quem já andou pelos campos de futebol sabe que o que se passa lá dentro entre jogadores nem sempre segue as regras da boa conduta. Não poucas vezes a provocação baixa visa testar os nervos do adversário, visa gerar descontrolos, provocar acções desajustadas às regras e à moral, para depois se evocar as regras e a moral para condenar a reacção. Lembram-se do Zidane no campeonato do mundo? (uns lembrar-se-ão, outros, porque são coisas do futebol – logo pretensamente não deste mundo – não saberão). São estratégias pensadas e planeadas. Como aqueles carros da polícia que “picam” os condutores para a seguir os multarem.Mas é assim. Não basta jogar bom futebol (ou ser bom condutor). É preciso ter estofo para resistir à provocação, ao comportamento baixo, à adjectivação gratuita e ofensiva. E esse foi o problema do ministro: teve um momento de falta de paciência e controlo. Foi mal comportado? Foi. Mas que os deputados (ou uma parte muito significativa deles) mereceram o gesto...Bom, eu, que aparentemente sou representado por algum deles, não me senti particularmente ofendido. Até pelo contrário. Achei divertido.Talvez isso revele falta de sentido de Estado. Falta de sentido institucional. Falta de uma série de coisas. Mas certamente não falta de capacidade de entender o que pode levar um homem naquelas circunstâncias a fazer uma coisa daquelas. Pessoalmente, sinto-me constrangido com aquele tipo de debates (que nunca o são seriamente). Por isso, e apesar de reconhecer o carácter formalmente desadequado do acto e de até achar o senhor inábil para o cargo que ocupava, me senti muito mais representado no seu acto que pelas “virgens ofendidas profissionais” que de imediato se fizeram ouvir.O que me ocorre? Dizer: “Boa Manel”. Como eu percebo a tua falta de paciência...

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