Faccioso

15-03-2008
marcar artigo


Pactuar sem transtornar, não evita o transbordar.Talvez a pensarem noutras navegações, ou simplesmente preocupados em evitar o enjoo causado por, subitamente, se verem apanhados em ondulações do género das que publicaram com grande destaque, ou então por temerem a formação de algum tsunami político, quer o Palheiro, quer o Tomarpartido, navegam em intrigantes cogitações acerca das diferentes políticas – na arte de marear.Ocorre que tendo sido Portugal um país de marinheiros, segundo nos dizem desde os bancos da escola, essa inclinação pela náutica está há muito prejudicada em quase todas as suas antigas categorias, pois por receio de abalroamentos inesperados, e uma vez que se perderam as cartas, os navios começaram a rumar todos no mesmo sentido e pela faixa do meio.Igualmente nas categorias, desde o antigo almirantado, até ao moço da gávea, já nada resta das classificações marítimas que não sejam os Chefes de rancho, que são aqueles que depois de chegarem a Chefes passam a grumeter menos, e os Grumetes aspirantes, aos quais cabe a tarefa política de grumeter em maior grau.Assim, com falta de pessoal, a navegação da nau que é o país, poderia ter-se complicado um bocadinho, não fora essa espantosa inovação materializada no GPS.Crê-se que terá sido a invenção desta novíssima peça tecnológica a estar na origem da substituição dos pontos cardeais, pelos cardeais pontos, as novas estrelas que povoam os céus da política, pelas quais, com a ajuda do referido GPS, se guiam, tanto os Grumetes que grumetem muito, como os Chefes de rancho, que agora já quase não grumetem, mas igualmente não grumetiam menos quando eram oposição, todos porém, sempre em maior ou menor grau, segundo o calado da embarcação em que se encontram no momento.O calado, aliás, sobretudo quando se está na oposição, é dos requisitos mais essenciais à navegação que pretenda arribar a bom porto, pois tal como num carro eléctrico se encontra proibida a conversa com o guarda freios, mesmo por parte daqueles que não desejam seguir pelo trilho previamente traçado pelos carris, também nos navios, havendo oposição à rota, deve o opositor abster-se de contestar, para não desviar do GPS – os olhos do cozinheiro.Recomenda-se nesses casos, que em vez de contestar o Chefe do rancho e poder com isso desorientar a embarcação, o opositor aceite fazer, por exemplo, um pacto de rumos.Para isso, o Chefe de rancho mandará chamar um Grumete, escolhendo de preferência aquele que, seja por que razão for mas sempre sem recurso a bancos, se ache impossibilitado de alcançar longe com a vista, ao qual grumeterá as alvíssaras que o levem a acreditar na ideia de poder vir a ser, ele mesmo, o próximo Chefe de rancho em posteriores viagens, se para tal, sendo isso condição essencial – pactuar as vezes que forem precisas para não desnortear.E, perguntará o simples marujo, aquele a quem cabe o trabalho de atender ao portaló e o que mais se enjoa com falta de remédios, por que razão passou a vida do mar, que antes se fazia por cartas, a requerer esta nova modalidade de navegação por pactos?É exactamente a essa questão que pretendem responder o Jumento e o Tomarpartido, mas, desculpar-me-ão, fazem-no de forma incompleta.Faltou-lhes dizer que, reduzida a hierarquia de comando a apenas duas únicas categorias, os Grumetes e os Chefes de rancho, e substituídos na esfera celeste, os pontos cardeais pelos cardeais pontos, sobreveio à marinha um grande transtorno na navegação.Trocado o Bombordo pelo Estibordo, começou o navio a meter água até que a cozinha se achou inundada, a transbordar.Foi nesse ponto, e para que se não estragasse ao Chefe de rancho a sopa que já não cabia na panela, que este pediu ao Grumete que se encontrava mais à mão, e que, embora de modo baixinho e hesitante ameaçava sempre ir, agora sim, começar a reclamar, que, por obséquio, lhe chegasse com urgência uma panela adicional.Foi com esse propósito, ou seja, porque o superior interesse do barco o impedia de pactuar na perda do cozinhado, que o Grumete pactuou naquela derradeira solução, a salvação pela - panelinha.Como recompensa, o Chefe do rancho, marinheiro mais navegado, ofereceu ao Grumete, para que este se não enganasse no rumo a uma oposição mais firme e conveniente, um GPS previamente avariado.Postos de acordo, subiram os dois ao tombadilho, para anunciarem a Pacto Parade.Até algumas sereias, como se ouviu num célebre cardápio de escolhas que passa ao domingo após as noticias da noite, acorreram em júbilo, para não perderem a festa de que se encheu o tombadilho.Estavam os dois delirantes. O Chefe do rancho em mangas de camisa, fascinado com a oportunidade de dar ao navio uma ideia de dinamismo e de sentido de rumo, e o Grumete, aprumadinho e com os olhinhos em êxtase, a tudo anuindo, naquele seu jeito elegante de menear de cabeça, olhando abrangente, quer à esquerda quer à direita, faxinado pela ideia de vir a ser o próximo Chefe do rancho.No final, depois das palmas e foguetes, prestado mais um serviço à navegação, recolheram os dois aos camarotes, onde dormiram descansados.Mal sabia ele como a faxina seria penosa, e como, com aquele GPS avariado que insidiosamente lhe tinha sido ofertado, estava longe de poder encontrar o Estibordo, pois nunca tinha aprendido bem de que lado ficava o Bordo Bom. .


Pactuar sem transtornar, não evita o transbordar.Talvez a pensarem noutras navegações, ou simplesmente preocupados em evitar o enjoo causado por, subitamente, se verem apanhados em ondulações do género das que publicaram com grande destaque, ou então por temerem a formação de algum tsunami político, quer o Palheiro, quer o Tomarpartido, navegam em intrigantes cogitações acerca das diferentes políticas – na arte de marear.Ocorre que tendo sido Portugal um país de marinheiros, segundo nos dizem desde os bancos da escola, essa inclinação pela náutica está há muito prejudicada em quase todas as suas antigas categorias, pois por receio de abalroamentos inesperados, e uma vez que se perderam as cartas, os navios começaram a rumar todos no mesmo sentido e pela faixa do meio.Igualmente nas categorias, desde o antigo almirantado, até ao moço da gávea, já nada resta das classificações marítimas que não sejam os Chefes de rancho, que são aqueles que depois de chegarem a Chefes passam a grumeter menos, e os Grumetes aspirantes, aos quais cabe a tarefa política de grumeter em maior grau.Assim, com falta de pessoal, a navegação da nau que é o país, poderia ter-se complicado um bocadinho, não fora essa espantosa inovação materializada no GPS.Crê-se que terá sido a invenção desta novíssima peça tecnológica a estar na origem da substituição dos pontos cardeais, pelos cardeais pontos, as novas estrelas que povoam os céus da política, pelas quais, com a ajuda do referido GPS, se guiam, tanto os Grumetes que grumetem muito, como os Chefes de rancho, que agora já quase não grumetem, mas igualmente não grumetiam menos quando eram oposição, todos porém, sempre em maior ou menor grau, segundo o calado da embarcação em que se encontram no momento.O calado, aliás, sobretudo quando se está na oposição, é dos requisitos mais essenciais à navegação que pretenda arribar a bom porto, pois tal como num carro eléctrico se encontra proibida a conversa com o guarda freios, mesmo por parte daqueles que não desejam seguir pelo trilho previamente traçado pelos carris, também nos navios, havendo oposição à rota, deve o opositor abster-se de contestar, para não desviar do GPS – os olhos do cozinheiro.Recomenda-se nesses casos, que em vez de contestar o Chefe do rancho e poder com isso desorientar a embarcação, o opositor aceite fazer, por exemplo, um pacto de rumos.Para isso, o Chefe de rancho mandará chamar um Grumete, escolhendo de preferência aquele que, seja por que razão for mas sempre sem recurso a bancos, se ache impossibilitado de alcançar longe com a vista, ao qual grumeterá as alvíssaras que o levem a acreditar na ideia de poder vir a ser, ele mesmo, o próximo Chefe de rancho em posteriores viagens, se para tal, sendo isso condição essencial – pactuar as vezes que forem precisas para não desnortear.E, perguntará o simples marujo, aquele a quem cabe o trabalho de atender ao portaló e o que mais se enjoa com falta de remédios, por que razão passou a vida do mar, que antes se fazia por cartas, a requerer esta nova modalidade de navegação por pactos?É exactamente a essa questão que pretendem responder o Jumento e o Tomarpartido, mas, desculpar-me-ão, fazem-no de forma incompleta.Faltou-lhes dizer que, reduzida a hierarquia de comando a apenas duas únicas categorias, os Grumetes e os Chefes de rancho, e substituídos na esfera celeste, os pontos cardeais pelos cardeais pontos, sobreveio à marinha um grande transtorno na navegação.Trocado o Bombordo pelo Estibordo, começou o navio a meter água até que a cozinha se achou inundada, a transbordar.Foi nesse ponto, e para que se não estragasse ao Chefe de rancho a sopa que já não cabia na panela, que este pediu ao Grumete que se encontrava mais à mão, e que, embora de modo baixinho e hesitante ameaçava sempre ir, agora sim, começar a reclamar, que, por obséquio, lhe chegasse com urgência uma panela adicional.Foi com esse propósito, ou seja, porque o superior interesse do barco o impedia de pactuar na perda do cozinhado, que o Grumete pactuou naquela derradeira solução, a salvação pela - panelinha.Como recompensa, o Chefe do rancho, marinheiro mais navegado, ofereceu ao Grumete, para que este se não enganasse no rumo a uma oposição mais firme e conveniente, um GPS previamente avariado.Postos de acordo, subiram os dois ao tombadilho, para anunciarem a Pacto Parade.Até algumas sereias, como se ouviu num célebre cardápio de escolhas que passa ao domingo após as noticias da noite, acorreram em júbilo, para não perderem a festa de que se encheu o tombadilho.Estavam os dois delirantes. O Chefe do rancho em mangas de camisa, fascinado com a oportunidade de dar ao navio uma ideia de dinamismo e de sentido de rumo, e o Grumete, aprumadinho e com os olhinhos em êxtase, a tudo anuindo, naquele seu jeito elegante de menear de cabeça, olhando abrangente, quer à esquerda quer à direita, faxinado pela ideia de vir a ser o próximo Chefe do rancho.No final, depois das palmas e foguetes, prestado mais um serviço à navegação, recolheram os dois aos camarotes, onde dormiram descansados.Mal sabia ele como a faxina seria penosa, e como, com aquele GPS avariado que insidiosamente lhe tinha sido ofertado, estava longe de poder encontrar o Estibordo, pois nunca tinha aprendido bem de que lado ficava o Bordo Bom. .

marcar artigo