Política a Sério : Um pesadelo

24-02-2008
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Um pesadelo

O processo concluído esta semana com a eleição da nova administração do BCP ficará como um dos mais traumáticos de sempre da sociedade portuguesa desde a institucionalização da democracia.

Porque nele se misturaram negócios, favores, relações familiares, atropelos à Justiça, chicana política e ataques pessoais.

Não me recordo de um caso tão grave, que, ainda por cima, envolveu grandes figuras dos negócios e da banca, como Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto, Joe Berardo ou Alípio Dias, para não falar de Teixeira dos Santos, Luís Filipe Menezes, Armando Vara ou Vítor Constâncio.

O caso do BCP mexeu com tudo: com a alta finança, com o Governo, com o Banco de Portugal, com a banca pública (Caixa Geral de Depósitos), com a oposição.

Como escrevi em texto anterior, o grande problema do BCP foi a inexistência de um núcleo duro de accionistas que mantivesse a ordem na instituição e impedisse que as questões internas caíssem na praça pública.

É evidente que na gestão do banco terá havido atropelos à lei, sempre condenáveis.

Mas esses atropelos foram empolados pela mediatização brutal resultante da divisão dos accionistas. ‘Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades’, foi o que mais uma vez aconteceu.

O BCP foi vítima, além disso, da falta de coragem dos seus accionistas.

Quando viram a situação tremida, muitos deles correram a proteger-se debaixo do chapéu-de-chuva do Estado, que o mesmo é dizer, de Santos Ferreira, presidente da Caixa Geral de Depósitos, e do próprio Governo.

Um banco que tinha fama de se distinguir pela sua independência em relação ao poder político vergou-se ao poder político.

Daí à politização da crise foi um passo.

O Governo, dando o beneplácito à saída do presidente da CGD para se candidatar ao BCP, foi acusado de fazer uma OPA sobre este banco.

O Banco de Portugal, intervindo em plena crise de forma activa, pela voz de Vítor Constâncio, atraiu sobre si múltiplas dúvidas.

O ministro Teixeira dos Santos, envolvendo-se em frequentes picardias com Luís Filipe Menezes, não contribuiu para serenar os ânimos.

Todo este processo pouco recomendável acabaria do pior modo possível: numa indecorosa troca de palavras entre o ministro Augusto Santos Silva e o ex-ministro Bagão Félix.

Foi o fecho mais indigno e ao mesmo tempo mais adequado para este triste caso.

Santos Silva acusou Bagão, candidato ao BCP na lista de Cadilhe, de fazer campanha para as eleições no banco, por participar nas jornadas parlamentares do PSD.

Bagão retorquiu, acusando o ministro de fazer «política de sarjeta».

Ora nem Bagão Félix deve dizer o que disse nem Santos Silva se pode comportar como se comportou.

Bagão, pessoa que me merece respeito, já devia saber que o uso de certa terminologia prejudica mais quem a usa do que aquele a quem se destina.

Esta frase, dita num momento de exaltação, vai persegui-lo por muito tempo.

Quanto a Santos Silva, não lhe serve de desculpa o facto de dizer que falava enquanto dirigente do PS e não membro do Governo.

É uma farsa os governantes falarem hoje numa qualidade e amanhã noutra.

O que se diria se Cavaco Silva começasse a fazer declarações bombásticas ao fim-de-semana – dizendo que ao sábado e ao domingo não era Presidente da República mas simples cidadão?

Isto não pode acontecer.

Uma pessoa, quando assume cargos públicos, assume-os em full-time – não assume em part-time.

Por isso, quando fala, fala nessa qualidade – não sendo legítimo que se refugie atrás de outras vestes.

O conflito entre Augusto Santos e Silva e Bagão Félix foi o último acto de um pesadelo que durante meses atormentou a banca portuguesa.

E que levou o maior banco a passar, por assim dizer, da esfera privada para a esfera semi-pública.

Foi esta, pelo menos, a ideia que ficou na cabeça nas pessoas.

Nessa medida, o caso do BCP pode ser visto como um terrível fracasso da sociedade civil.

Um pesadelo

O processo concluído esta semana com a eleição da nova administração do BCP ficará como um dos mais traumáticos de sempre da sociedade portuguesa desde a institucionalização da democracia.

Porque nele se misturaram negócios, favores, relações familiares, atropelos à Justiça, chicana política e ataques pessoais.

Não me recordo de um caso tão grave, que, ainda por cima, envolveu grandes figuras dos negócios e da banca, como Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto, Joe Berardo ou Alípio Dias, para não falar de Teixeira dos Santos, Luís Filipe Menezes, Armando Vara ou Vítor Constâncio.

O caso do BCP mexeu com tudo: com a alta finança, com o Governo, com o Banco de Portugal, com a banca pública (Caixa Geral de Depósitos), com a oposição.

Como escrevi em texto anterior, o grande problema do BCP foi a inexistência de um núcleo duro de accionistas que mantivesse a ordem na instituição e impedisse que as questões internas caíssem na praça pública.

É evidente que na gestão do banco terá havido atropelos à lei, sempre condenáveis.

Mas esses atropelos foram empolados pela mediatização brutal resultante da divisão dos accionistas. ‘Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades’, foi o que mais uma vez aconteceu.

O BCP foi vítima, além disso, da falta de coragem dos seus accionistas.

Quando viram a situação tremida, muitos deles correram a proteger-se debaixo do chapéu-de-chuva do Estado, que o mesmo é dizer, de Santos Ferreira, presidente da Caixa Geral de Depósitos, e do próprio Governo.

Um banco que tinha fama de se distinguir pela sua independência em relação ao poder político vergou-se ao poder político.

Daí à politização da crise foi um passo.

O Governo, dando o beneplácito à saída do presidente da CGD para se candidatar ao BCP, foi acusado de fazer uma OPA sobre este banco.

O Banco de Portugal, intervindo em plena crise de forma activa, pela voz de Vítor Constâncio, atraiu sobre si múltiplas dúvidas.

O ministro Teixeira dos Santos, envolvendo-se em frequentes picardias com Luís Filipe Menezes, não contribuiu para serenar os ânimos.

Todo este processo pouco recomendável acabaria do pior modo possível: numa indecorosa troca de palavras entre o ministro Augusto Santos Silva e o ex-ministro Bagão Félix.

Foi o fecho mais indigno e ao mesmo tempo mais adequado para este triste caso.

Santos Silva acusou Bagão, candidato ao BCP na lista de Cadilhe, de fazer campanha para as eleições no banco, por participar nas jornadas parlamentares do PSD.

Bagão retorquiu, acusando o ministro de fazer «política de sarjeta».

Ora nem Bagão Félix deve dizer o que disse nem Santos Silva se pode comportar como se comportou.

Bagão, pessoa que me merece respeito, já devia saber que o uso de certa terminologia prejudica mais quem a usa do que aquele a quem se destina.

Esta frase, dita num momento de exaltação, vai persegui-lo por muito tempo.

Quanto a Santos Silva, não lhe serve de desculpa o facto de dizer que falava enquanto dirigente do PS e não membro do Governo.

É uma farsa os governantes falarem hoje numa qualidade e amanhã noutra.

O que se diria se Cavaco Silva começasse a fazer declarações bombásticas ao fim-de-semana – dizendo que ao sábado e ao domingo não era Presidente da República mas simples cidadão?

Isto não pode acontecer.

Uma pessoa, quando assume cargos públicos, assume-os em full-time – não assume em part-time.

Por isso, quando fala, fala nessa qualidade – não sendo legítimo que se refugie atrás de outras vestes.

O conflito entre Augusto Santos e Silva e Bagão Félix foi o último acto de um pesadelo que durante meses atormentou a banca portuguesa.

E que levou o maior banco a passar, por assim dizer, da esfera privada para a esfera semi-pública.

Foi esta, pelo menos, a ideia que ficou na cabeça nas pessoas.

Nessa medida, o caso do BCP pode ser visto como um terrível fracasso da sociedade civil.

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