Papéis de Alexandria*: 3º C.O.D.- unidade na acção, rumo à conquista da liberdade

16-07-2009
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artigo de Vítor Dias no Avante! de 2.4.1998No próximo sábado, 4 de Abril, completam-se 25 anos sobre o inicio, em Aveiro, dos trabalhos do 3º Congresso da Oposição Democrática que, com uma contribuição determinante do PCP e dos comunistas portugueses, constituiu um importante marco na luta contra a ditadura fascista e exerceu uma considerável influência no desenvolvimento do processo político que haveria de culminar com o derrubamento do fascismo e a conquista da liberdade, um ano depois, em 25 de Abril de 1974.O grande número de democratas participantes nas estruturas de preparação, organização e direcção do Congresso; as duas centenas de teses apresentadas, muitas delas de elaboração colectiva, abordando os mais prementes problemas sociais, económicos e políticos do país; os milhares de participantes nas sessões do Congresso ou que afluíram a Aveiro para ao actos do últimos dia, com destaque para a activa participação de jovens antifascistas - atestaram a grande, dinâmica e massiva mobilização democrática em que o Congresso assentou e na qual, em grande medida, colheu a combatividade e a firmeza política afirmadas naquela jornada.Por outro lado, o 3ª Congresso da Oposição Democrática representou um importante passo na unidade na acção das principais forças e sectores democráticos ( comunistas, socialistas, católicos progressistas) em torno de orientações, análises, objectivos programáticos e grandes direcções de acção e intervenção combativa contra a ditadura fascista que marcaram uma superação clara das hesitações e concepções erróneas que alguns sectores antifascistas (principalmente a corrente integrada na Acção Socialista Portuguesa) tinham perfilhado aquando da substituição de Salazar por Marcelo Caetano.O 3º Congresso de Aveiro, ao mesmo tempo, representou também uma incontornável demonstração do acerto da orientação de fortalecer o movimento democrático na base dos seus objectivos próprios e da sua ligação às massas e aos trabalhadores, e da exploração de todas as possibilidades de intervenção aberta e de conquista de novos espaços de actuação pública forçando a legalidade fascista. Assim rejeitando quer o aprisionamento do movimento democrático nas estreitas malhas daquela legalidade quer a sua clandestinização que era defendida por grupos e correntes esquerdistas.Se outras experiências precedentes na história da luta antifascista não existissem -e a verdade é que sobravam - , poder-se-ia dizer que toda a trajectória de luta e percurso combativo do movimento da oposição democrática entre o 3º Congresso de Aveiro em Abril de 1973 e o 25 de Abril de 1974 - que inclui essa grande batalha política da intervenção na farsa eleitoral de Outubro de 73 - aí estaria para evidenciar a justeza daquela orientação.É que, além de tudo o mais, foi com ela que se procedeu a um amplo desmascaramento da demagogia caetanista, se fortaleceu a base de massas da oposição ao fascismo e se propiciou a experiência política de milhares de quadros que viriam a dar uma contribuição determinantes para a revolução democrática e para as tarefas de democratização da vida nacional, após o derrube da ditadura.Para além da reflexão sobre os problemas nacionais a que procedeu, das importantes orientações que aprovou e dos relevantes objectivos da luta democrática que fixou ( com destaque para o fim da guerra colonial, a luta contra o poder absoluto do capital monopolista e a conquista das liberdades democráticas), o 3º Congresso da Oposição Democrática constituiu uma corajosa jornada de luta contra o fascismo que, só por si, mostrou o esquematismo e a falta de razão dos segmentos oposicionistas que argumentavam de que a sua realização só iria servir para melhorar a imagem externa e interna do regime fascista.Com efeito, talvez se possa dizer que a atitude de firme combate e enfrentamento da repressão fascista que, no próprio decurso da sua realização, o Congresso adoptou, representaram um golpe final nos últimos resquícios da «demagogia liberalizante» de Marcelo Caetano e puseram de novo em evidência, no plano nacional e internacional, a cruel natureza repressiva e antidemocrática do regime.Receosas da mobilização popular em torno do Congresso, o governo e as autoridades fascistas proibiram a romagem ao túmulo de Mário Sacramento (prestigiado intelectual comunista que tinha sido o impulsionador do 1º e 2º Congressos, realizados respectivamente em 1957 e 1969).Mas a Comissão Nacional do Congresso decidiu realizá-la na mesma com a concentração e desfile na Avenida Lourenço Peixinho em que participaram milhares de democratas e sobre a qual foi desencadeada uma brutal carga da polícia de choque. Uma espécie de «cordão sanitário» foi montado à volta da cidade de Aveiro, no quadro do que uma nota do Governador Civil chamou expressamente de «providências para evitar o acesso à cidade» de «milhares de pessoas». As «providencias» envolveram desde o encerramento do parque de campismo da cidade até à intercepção de todas as vias de acesso a Aveiro, com identificação de automobilistas e passageiros de camionetas alugadas e ordens para voltarem para trás, passando pela paragem de duas horas do rápido Lisboa-Porto, em Avanca.Num tempo de tanta e tão desavergonhada reescrita da história e de tanta e tão chocante maquilhagem do fascismo, a evocação do 3º Congresso da Oposição Democrática é uma boa oportunidade para reavivar o que foi o fascismo, para lembrar merecidamente todos os que participaram ou contribuíram para este acontecimento que deu uma tão marcante impulso para a vitória da causa da liberdade e da democracia e no qual, em diálogo leal, sério e responsável com outras correntes antifascistas, o PCP e os comunistas portugueses tiveram um papel fundamental de que legitimamente se podem orgulhar.


artigo de Vítor Dias no Avante! de 2.4.1998No próximo sábado, 4 de Abril, completam-se 25 anos sobre o inicio, em Aveiro, dos trabalhos do 3º Congresso da Oposição Democrática que, com uma contribuição determinante do PCP e dos comunistas portugueses, constituiu um importante marco na luta contra a ditadura fascista e exerceu uma considerável influência no desenvolvimento do processo político que haveria de culminar com o derrubamento do fascismo e a conquista da liberdade, um ano depois, em 25 de Abril de 1974.O grande número de democratas participantes nas estruturas de preparação, organização e direcção do Congresso; as duas centenas de teses apresentadas, muitas delas de elaboração colectiva, abordando os mais prementes problemas sociais, económicos e políticos do país; os milhares de participantes nas sessões do Congresso ou que afluíram a Aveiro para ao actos do últimos dia, com destaque para a activa participação de jovens antifascistas - atestaram a grande, dinâmica e massiva mobilização democrática em que o Congresso assentou e na qual, em grande medida, colheu a combatividade e a firmeza política afirmadas naquela jornada.Por outro lado, o 3ª Congresso da Oposição Democrática representou um importante passo na unidade na acção das principais forças e sectores democráticos ( comunistas, socialistas, católicos progressistas) em torno de orientações, análises, objectivos programáticos e grandes direcções de acção e intervenção combativa contra a ditadura fascista que marcaram uma superação clara das hesitações e concepções erróneas que alguns sectores antifascistas (principalmente a corrente integrada na Acção Socialista Portuguesa) tinham perfilhado aquando da substituição de Salazar por Marcelo Caetano.O 3º Congresso de Aveiro, ao mesmo tempo, representou também uma incontornável demonstração do acerto da orientação de fortalecer o movimento democrático na base dos seus objectivos próprios e da sua ligação às massas e aos trabalhadores, e da exploração de todas as possibilidades de intervenção aberta e de conquista de novos espaços de actuação pública forçando a legalidade fascista. Assim rejeitando quer o aprisionamento do movimento democrático nas estreitas malhas daquela legalidade quer a sua clandestinização que era defendida por grupos e correntes esquerdistas.Se outras experiências precedentes na história da luta antifascista não existissem -e a verdade é que sobravam - , poder-se-ia dizer que toda a trajectória de luta e percurso combativo do movimento da oposição democrática entre o 3º Congresso de Aveiro em Abril de 1973 e o 25 de Abril de 1974 - que inclui essa grande batalha política da intervenção na farsa eleitoral de Outubro de 73 - aí estaria para evidenciar a justeza daquela orientação.É que, além de tudo o mais, foi com ela que se procedeu a um amplo desmascaramento da demagogia caetanista, se fortaleceu a base de massas da oposição ao fascismo e se propiciou a experiência política de milhares de quadros que viriam a dar uma contribuição determinantes para a revolução democrática e para as tarefas de democratização da vida nacional, após o derrube da ditadura.Para além da reflexão sobre os problemas nacionais a que procedeu, das importantes orientações que aprovou e dos relevantes objectivos da luta democrática que fixou ( com destaque para o fim da guerra colonial, a luta contra o poder absoluto do capital monopolista e a conquista das liberdades democráticas), o 3º Congresso da Oposição Democrática constituiu uma corajosa jornada de luta contra o fascismo que, só por si, mostrou o esquematismo e a falta de razão dos segmentos oposicionistas que argumentavam de que a sua realização só iria servir para melhorar a imagem externa e interna do regime fascista.Com efeito, talvez se possa dizer que a atitude de firme combate e enfrentamento da repressão fascista que, no próprio decurso da sua realização, o Congresso adoptou, representaram um golpe final nos últimos resquícios da «demagogia liberalizante» de Marcelo Caetano e puseram de novo em evidência, no plano nacional e internacional, a cruel natureza repressiva e antidemocrática do regime.Receosas da mobilização popular em torno do Congresso, o governo e as autoridades fascistas proibiram a romagem ao túmulo de Mário Sacramento (prestigiado intelectual comunista que tinha sido o impulsionador do 1º e 2º Congressos, realizados respectivamente em 1957 e 1969).Mas a Comissão Nacional do Congresso decidiu realizá-la na mesma com a concentração e desfile na Avenida Lourenço Peixinho em que participaram milhares de democratas e sobre a qual foi desencadeada uma brutal carga da polícia de choque. Uma espécie de «cordão sanitário» foi montado à volta da cidade de Aveiro, no quadro do que uma nota do Governador Civil chamou expressamente de «providências para evitar o acesso à cidade» de «milhares de pessoas». As «providencias» envolveram desde o encerramento do parque de campismo da cidade até à intercepção de todas as vias de acesso a Aveiro, com identificação de automobilistas e passageiros de camionetas alugadas e ordens para voltarem para trás, passando pela paragem de duas horas do rápido Lisboa-Porto, em Avanca.Num tempo de tanta e tão desavergonhada reescrita da história e de tanta e tão chocante maquilhagem do fascismo, a evocação do 3º Congresso da Oposição Democrática é uma boa oportunidade para reavivar o que foi o fascismo, para lembrar merecidamente todos os que participaram ou contribuíram para este acontecimento que deu uma tão marcante impulso para a vitória da causa da liberdade e da democracia e no qual, em diálogo leal, sério e responsável com outras correntes antifascistas, o PCP e os comunistas portugueses tiveram um papel fundamental de que legitimamente se podem orgulhar.

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