Papéis de Alexandria*: Cinco valores

16-07-2009
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"Avante!"Uma das menos inocentes e das mais nefastas tendências que marcam certos aspectos da evolução da acção política será, sem dúvida, a que conduz a só atribuir significado e importância ao que é espectacular e a procurar condicionar a capacidade de os cidadãos apreenderem e interpretarem a realidade, impondo-lhes antecipadamente viciados esquemas e « grelhas » de análise .É exemplo desta última linha a manobra desencadeada há tempos pelo PSD, em torno dos seus futuros resultados nas eleições autárquicas e europeias, criando ou não se importando com a criação de expectativas e previsões de uma hecatombe eleitoral ( que era improvável ) para depois poder afirmar que os seus resultados « não foram tão maus como se esperava ou dizia », e teriam mesmo sido razoáveis ou bons.Algo de semelhante se foi desenhando, nas duas últimas semanas, em muitas notícias e comentários sobre o reínicio do pagamento das portagens na ponte 25 de Abril, embora seja de admitir que, na maior parte dos casos, a explicação esteja mais na lógica implacável do desejo mediático de acontecimentos retumbantes ( definidos pelo padrão do anterior bloqueio ) do que no propósito deliberado de transformar uma séria derrota do governo numa sua vitória, mediante o truque da criação de expectativas de formas de luta ou pouco prováveis ou incertas, implicando uma antecipada desvalorização de formas de luta muito prováveis e de grande efeito e real significado,Mas já não merece beneficiar destas compreensivas considerações o comentário de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) transmitido no último domingo na TSF.Vale a pena, sobretudo, registar que MRS, depois de estabelecer convenientemente que no dia de hoje, na Ponte 25 de Abril, ocorrerá « um teste decisivo » , se deu ao esforço de estabelecer uma lista das « reacções possíveis » dos utentes, a qual se esgotava em três categorias : a « insatisfação passiva , que não se manifesta » , a « insatisfação activa , mas pontual, não duradoura, sem consequências » e a « insatisfação activa duradoura » .Como se reparará, apesar dos elogios de MRS à eficiência demontrada por Cavaco Silva com a « a campanha maciça de imagem nos meios de comunicação social », esta lista não inclui entre « as reacções possiveis » a satisfação, nem pouca nem muita, nem activa nem passiva, nem pontual nem duradoura.Ora, em vez de ter afirmado que só isto já é uma derrota do Governo do PSD uma vez que um governo, em principio, o que deve querer é apoio à sua política e satisfação popular com as suas medidas e não apenas que a insatisfação e o descontentamento não assumam formas mais expressivas, o que MRS veio sentenciar foi que, em caso de « insatisfação passiva » ou de « insatisfação activa sem consequências duradoras » , o Governo não só teria recuperado ( ?! ) « na mais díficil batalha política que teve de enfrentar » como entraria « com uma força política enorme em Setembro e Outubro ». (?!!).Ficando denunciada esta manobra, arriscamos entretanto que o protesto dos utentes se ouvirá com força e unidade bastantes para que, no próximo domingo, o convencido « examinador » dos políticos nacionais tenha de atribuir a si próprio uns generosos cinco valores.


"Avante!"Uma das menos inocentes e das mais nefastas tendências que marcam certos aspectos da evolução da acção política será, sem dúvida, a que conduz a só atribuir significado e importância ao que é espectacular e a procurar condicionar a capacidade de os cidadãos apreenderem e interpretarem a realidade, impondo-lhes antecipadamente viciados esquemas e « grelhas » de análise .É exemplo desta última linha a manobra desencadeada há tempos pelo PSD, em torno dos seus futuros resultados nas eleições autárquicas e europeias, criando ou não se importando com a criação de expectativas e previsões de uma hecatombe eleitoral ( que era improvável ) para depois poder afirmar que os seus resultados « não foram tão maus como se esperava ou dizia », e teriam mesmo sido razoáveis ou bons.Algo de semelhante se foi desenhando, nas duas últimas semanas, em muitas notícias e comentários sobre o reínicio do pagamento das portagens na ponte 25 de Abril, embora seja de admitir que, na maior parte dos casos, a explicação esteja mais na lógica implacável do desejo mediático de acontecimentos retumbantes ( definidos pelo padrão do anterior bloqueio ) do que no propósito deliberado de transformar uma séria derrota do governo numa sua vitória, mediante o truque da criação de expectativas de formas de luta ou pouco prováveis ou incertas, implicando uma antecipada desvalorização de formas de luta muito prováveis e de grande efeito e real significado,Mas já não merece beneficiar destas compreensivas considerações o comentário de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) transmitido no último domingo na TSF.Vale a pena, sobretudo, registar que MRS, depois de estabelecer convenientemente que no dia de hoje, na Ponte 25 de Abril, ocorrerá « um teste decisivo » , se deu ao esforço de estabelecer uma lista das « reacções possíveis » dos utentes, a qual se esgotava em três categorias : a « insatisfação passiva , que não se manifesta » , a « insatisfação activa , mas pontual, não duradoura, sem consequências » e a « insatisfação activa duradoura » .Como se reparará, apesar dos elogios de MRS à eficiência demontrada por Cavaco Silva com a « a campanha maciça de imagem nos meios de comunicação social », esta lista não inclui entre « as reacções possiveis » a satisfação, nem pouca nem muita, nem activa nem passiva, nem pontual nem duradoura.Ora, em vez de ter afirmado que só isto já é uma derrota do Governo do PSD uma vez que um governo, em principio, o que deve querer é apoio à sua política e satisfação popular com as suas medidas e não apenas que a insatisfação e o descontentamento não assumam formas mais expressivas, o que MRS veio sentenciar foi que, em caso de « insatisfação passiva » ou de « insatisfação activa sem consequências duradoras » , o Governo não só teria recuperado ( ?! ) « na mais díficil batalha política que teve de enfrentar » como entraria « com uma força política enorme em Setembro e Outubro ». (?!!).Ficando denunciada esta manobra, arriscamos entretanto que o protesto dos utentes se ouvirá com força e unidade bastantes para que, no próximo domingo, o convencido « examinador » dos políticos nacionais tenha de atribuir a si próprio uns generosos cinco valores.

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