Filho do 25 de Abril: 753. Reflexão das Presidenciais 2006 (3 de 4): A derrota de Mário Soares

21-05-2009
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Antes de começar a analisar o siginificado do resultado de Mário Soares nestas eleições é necessário dizer, com toda a clareza, que este sofreu uma estrondosa derrota, sem atenuantes de qualquer género, porque a culpa mora nas suas opções de campanha e na sua má leitura da oportunidade política da candidatura! Mário Soares foi conhecido por ser o político que sempre esteve no lugar certo na hora certa mas, definitivamente, esteve no lugar errado na hora errada desta vez!Posto isto convém perceber que a sua candidatura não veio “roubar” o lugar a ninguém. Não só porque as presidenciais são um acto livre de cidadania mas também porque os candidatos naturais da esquerda – António Guterres e António Vitorino – não quiseram disputar estas eleições e porque os candidatos de “reserva” não quiseram ou concorrer – Jaime Gama – ou estavam eternamente indecisos porque não queriam esse título de “última escolha” – Manuel Alegre. Convém relembrar que Jorge Sampaio avançou mesmo sem o apoio do partido e que Manuel Alegre não quis fazer o mesmo, hesitou e até tornou pública essa hesitação. Mário Soares apareceu num cenário em que a esquerda socialista não tinha ninguém credível para apoiar. Por isso a responsabilidade de não ter havido regeneração nestas eleições é, em primeiro lugar, dos cidadãos próximos da social democracia e do socialismo que optaram por não concorrer.Discordo completamente das tentativas de “assassinato histórico” que tentam fazer a Mário Soares. Não percebo porque é que alguém que tem uma história que não envergonha ninguém deve ser colocado numa prateleira a “ganhar pó” porque, segundo alguns, paradoxalmente, ao concorrer, coloca a sua própria história em risco! Devíamos estar numa sociedade que valoriza a noção de risco e, mais importante, que não limite os homens ao seu passado. Mas é exactamente por isso que Mário Soares é criticado, ou seja, por já ter passado o seu tempo e porque, afinal, dizem alguns, nunca teve tanta importância ou influência quanto isso. É aliás comum criticar quem quer continuar a ter voz activa – e não um mero comentador dos acontecimentos – só porque tem idade para estar a apanhar sol. Não podia estar mais em desacordo com isso! Se me disserem que este teve uma má leitura política do seu papel neste momento preciso do país eu sou obrigado a aceitar as evidências mas se me disserem que é um político ultrapassado, sem ideias novas, sem influência, radical ou incoerente contesto com impetuosidade essas afirmações.É preciso não esquecer que o lugar na história de Mário Soares foi conquistado por mérito próprio e não é uma derrota eleitoral - que nem é a primeira - no fim da sua carreira política que mancha o tempo que passou. Concerteza não é uma saída da vida política com chave de ouro mas não é nada que o deva envergonhar. Note-se que Mário Soares foi um homem que lutou contra o antigo regime, que fundou o partido socialista no estrangeiro, que foi um dos responsáveis pelo pluralismo partidário e ideológico, que evitou – com Sá Carneiro – a subida duma esquerda radical ao poder, que sempre foi duma esquerda moderada que chefiou Governos importantes para o nosso futuro colectivo como o do Bloco Central (num contexto de ruptura das nossas contas públicas), que negociou a nossa adesão à UE (então CEE pressionando a Espanha, que estava mais atrasada na negociação, e vários países europeus a aceitarem um país saído duma ditadura e duma descolonização difícil), que foi o nosso primeiro Presidente da República civil. Quantos podem dizer que têm um currículo – que inora muitos outros cargos e causas – tão extenso e rico?Termino como comecei! A derrota de Mário Soares foi clara, explica-se na oportunidade e no contexto da sua candidatura, mas sublinho com veemência que a história não se escreve com precipitação. Churchill saíu de cena com uma derrota clara - nunca humilhante - mas é hoje lembrado não por isso mas pelo que soube, com os erros próprios de quem com coragem nunca deixa de arriscar só porque quer ser politicamente correcto, construír por mérito próprio.Technorati Tags: Presidenciais, Política, Portugal

Antes de começar a analisar o siginificado do resultado de Mário Soares nestas eleições é necessário dizer, com toda a clareza, que este sofreu uma estrondosa derrota, sem atenuantes de qualquer género, porque a culpa mora nas suas opções de campanha e na sua má leitura da oportunidade política da candidatura! Mário Soares foi conhecido por ser o político que sempre esteve no lugar certo na hora certa mas, definitivamente, esteve no lugar errado na hora errada desta vez!Posto isto convém perceber que a sua candidatura não veio “roubar” o lugar a ninguém. Não só porque as presidenciais são um acto livre de cidadania mas também porque os candidatos naturais da esquerda – António Guterres e António Vitorino – não quiseram disputar estas eleições e porque os candidatos de “reserva” não quiseram ou concorrer – Jaime Gama – ou estavam eternamente indecisos porque não queriam esse título de “última escolha” – Manuel Alegre. Convém relembrar que Jorge Sampaio avançou mesmo sem o apoio do partido e que Manuel Alegre não quis fazer o mesmo, hesitou e até tornou pública essa hesitação. Mário Soares apareceu num cenário em que a esquerda socialista não tinha ninguém credível para apoiar. Por isso a responsabilidade de não ter havido regeneração nestas eleições é, em primeiro lugar, dos cidadãos próximos da social democracia e do socialismo que optaram por não concorrer.Discordo completamente das tentativas de “assassinato histórico” que tentam fazer a Mário Soares. Não percebo porque é que alguém que tem uma história que não envergonha ninguém deve ser colocado numa prateleira a “ganhar pó” porque, segundo alguns, paradoxalmente, ao concorrer, coloca a sua própria história em risco! Devíamos estar numa sociedade que valoriza a noção de risco e, mais importante, que não limite os homens ao seu passado. Mas é exactamente por isso que Mário Soares é criticado, ou seja, por já ter passado o seu tempo e porque, afinal, dizem alguns, nunca teve tanta importância ou influência quanto isso. É aliás comum criticar quem quer continuar a ter voz activa – e não um mero comentador dos acontecimentos – só porque tem idade para estar a apanhar sol. Não podia estar mais em desacordo com isso! Se me disserem que este teve uma má leitura política do seu papel neste momento preciso do país eu sou obrigado a aceitar as evidências mas se me disserem que é um político ultrapassado, sem ideias novas, sem influência, radical ou incoerente contesto com impetuosidade essas afirmações.É preciso não esquecer que o lugar na história de Mário Soares foi conquistado por mérito próprio e não é uma derrota eleitoral - que nem é a primeira - no fim da sua carreira política que mancha o tempo que passou. Concerteza não é uma saída da vida política com chave de ouro mas não é nada que o deva envergonhar. Note-se que Mário Soares foi um homem que lutou contra o antigo regime, que fundou o partido socialista no estrangeiro, que foi um dos responsáveis pelo pluralismo partidário e ideológico, que evitou – com Sá Carneiro – a subida duma esquerda radical ao poder, que sempre foi duma esquerda moderada que chefiou Governos importantes para o nosso futuro colectivo como o do Bloco Central (num contexto de ruptura das nossas contas públicas), que negociou a nossa adesão à UE (então CEE pressionando a Espanha, que estava mais atrasada na negociação, e vários países europeus a aceitarem um país saído duma ditadura e duma descolonização difícil), que foi o nosso primeiro Presidente da República civil. Quantos podem dizer que têm um currículo – que inora muitos outros cargos e causas – tão extenso e rico?Termino como comecei! A derrota de Mário Soares foi clara, explica-se na oportunidade e no contexto da sua candidatura, mas sublinho com veemência que a história não se escreve com precipitação. Churchill saíu de cena com uma derrota clara - nunca humilhante - mas é hoje lembrado não por isso mas pelo que soube, com os erros próprios de quem com coragem nunca deixa de arriscar só porque quer ser politicamente correcto, construír por mérito próprio.Technorati Tags: Presidenciais, Política, Portugal

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