PALAVROSSAVRVS REX: MANIFS TARDIAS EM TEMPOS KAFKIANOS

30-09-2009
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A parte ultimamente mais delapidada dentro do Ensino, delapidada no corpo e no espírito, lapidada, portanto, na sua dignidade primordial,prepara-se, pois, para mais uma manif. O edifício feito de vento, mero labirinto e mera compressão gratuitos, máquina kafkiana de erodir gente,estrutura que foi montada para cercar a classe docente de todos os factos consumados, num ímpeto mais moralóide que moralizador, além de estar a ruir fragorosamente,a despegar-se e a desfazer-se como um barracão mal gizado,está a averbar uma massa consciente de cansaços e de rebeliões,só não sabemos se consistentes, duradouros ou sequer consequentes.Portugal é Portugal. Itália é a Itália, onde, por muitíssimo menos, pára tudo.lkjNum país normal, normalizado e dentro de uma norma básica de gratidãopor décadas de sucessos e de milagres humanizadores do seu tecido social,toda a gente se levantaria contra a eleição da docência como o cerne de todos os males, quando a génese de esses males é tão profunda, basicamente económica, se por economia entendermos uma forma de aceder ou não aceder aos profusos bens culturais e às competências de descodificação e capacitação correlatas.lkj Mas no momento em que se pratica a simbolização do professor irrisório, remetido ao estatuto de amanuense, rebaixado perante o portátil e as transições obrigatórias, eleito para o desrespeito e a violência como atmosfera natural entre a população,no momento em que se consumou a multiplicação dos peixes e dos pães,com resultados de exames ridiculamente roçando o mais parolo facilitismo milagreiropara lisongear a estatística e branquear a vergonhosa realidade afinal complexa,tarde, portanto, nesse mesmo momento parecia ironia laborarem os vários movimentos e sindicatos em desacordo pelo cagarrinhoso motivo de uma data definitiva e unitária que envolvesse e englobasse toda a classe na expressão de profundo descontentamento.ljljSó isto é sintomático do estado infernal, babélico, labiríntico, kafkiano,em que jaz a parte e o todo do Ensino, porque assim o enterraram luminárias-Valter e Torquemadas-Lurdes, com seu péssimo uso da língua portuguesa e o ainda mais péssimo manejo de conceitos modernos, tais como negociação,multilateralismo, convergência, sinergia, bom-senso, sobretudo este.Porque este povo português e docente só se toca in extremis, quando está mesmo, mesmo, a acabar de ser comido, é difícil determinar com que músculo e com que unidadese soltará do colete de forças em que o querem endoidecer e assassinarda mais crassa irrelevância sapiencial. Tais processos, que nos trouxeram até ao ponto presente, enquadram-se no plano damais pura e intrincada psicopatologia. lkjO certo é que nunca imaginei poder ser tão real para os professores portugueseso que Kafka concretiza na densa provocação dos seus artefactos literários,nos quais as personalidades são por vezes representadas metaforicamente por animais ou com eles se assemelham [no conto A Metamorfose a personagem principal é uma barata, insecto em que um caixeiro-viajante se encontra transformado, ao acordar, depois de uma noite de sono], e não se trata aí de um pesadelo ou de uma alucinação, mas, sim, de um facto social, de tal maneira que o cidadão Sanza deixou de ser gente e agora não passa de um espezinhável insecto.ljj Não é preciso um doutoramento ou grandes habilidades em exegése literária para descodificar suficientemente o por que quereria Kafka enfatizar, dentro de um contexto não mais que singelamente social, o facto de um ser humano poder, de um momento para outro, metamorfosear-se numa barata. Por vezes, a literatura prenunciae antecipa as loucuras futuras e os loucos do futuro, mesmo sem os preconizar. Mas também as vítimas e a sua trágica passividade!


A parte ultimamente mais delapidada dentro do Ensino, delapidada no corpo e no espírito, lapidada, portanto, na sua dignidade primordial,prepara-se, pois, para mais uma manif. O edifício feito de vento, mero labirinto e mera compressão gratuitos, máquina kafkiana de erodir gente,estrutura que foi montada para cercar a classe docente de todos os factos consumados, num ímpeto mais moralóide que moralizador, além de estar a ruir fragorosamente,a despegar-se e a desfazer-se como um barracão mal gizado,está a averbar uma massa consciente de cansaços e de rebeliões,só não sabemos se consistentes, duradouros ou sequer consequentes.Portugal é Portugal. Itália é a Itália, onde, por muitíssimo menos, pára tudo.lkjNum país normal, normalizado e dentro de uma norma básica de gratidãopor décadas de sucessos e de milagres humanizadores do seu tecido social,toda a gente se levantaria contra a eleição da docência como o cerne de todos os males, quando a génese de esses males é tão profunda, basicamente económica, se por economia entendermos uma forma de aceder ou não aceder aos profusos bens culturais e às competências de descodificação e capacitação correlatas.lkj Mas no momento em que se pratica a simbolização do professor irrisório, remetido ao estatuto de amanuense, rebaixado perante o portátil e as transições obrigatórias, eleito para o desrespeito e a violência como atmosfera natural entre a população,no momento em que se consumou a multiplicação dos peixes e dos pães,com resultados de exames ridiculamente roçando o mais parolo facilitismo milagreiropara lisongear a estatística e branquear a vergonhosa realidade afinal complexa,tarde, portanto, nesse mesmo momento parecia ironia laborarem os vários movimentos e sindicatos em desacordo pelo cagarrinhoso motivo de uma data definitiva e unitária que envolvesse e englobasse toda a classe na expressão de profundo descontentamento.ljljSó isto é sintomático do estado infernal, babélico, labiríntico, kafkiano,em que jaz a parte e o todo do Ensino, porque assim o enterraram luminárias-Valter e Torquemadas-Lurdes, com seu péssimo uso da língua portuguesa e o ainda mais péssimo manejo de conceitos modernos, tais como negociação,multilateralismo, convergência, sinergia, bom-senso, sobretudo este.Porque este povo português e docente só se toca in extremis, quando está mesmo, mesmo, a acabar de ser comido, é difícil determinar com que músculo e com que unidadese soltará do colete de forças em que o querem endoidecer e assassinarda mais crassa irrelevância sapiencial. Tais processos, que nos trouxeram até ao ponto presente, enquadram-se no plano damais pura e intrincada psicopatologia. lkjO certo é que nunca imaginei poder ser tão real para os professores portugueseso que Kafka concretiza na densa provocação dos seus artefactos literários,nos quais as personalidades são por vezes representadas metaforicamente por animais ou com eles se assemelham [no conto A Metamorfose a personagem principal é uma barata, insecto em que um caixeiro-viajante se encontra transformado, ao acordar, depois de uma noite de sono], e não se trata aí de um pesadelo ou de uma alucinação, mas, sim, de um facto social, de tal maneira que o cidadão Sanza deixou de ser gente e agora não passa de um espezinhável insecto.ljj Não é preciso um doutoramento ou grandes habilidades em exegése literária para descodificar suficientemente o por que quereria Kafka enfatizar, dentro de um contexto não mais que singelamente social, o facto de um ser humano poder, de um momento para outro, metamorfosear-se numa barata. Por vezes, a literatura prenunciae antecipa as loucuras futuras e os loucos do futuro, mesmo sem os preconizar. Mas também as vítimas e a sua trágica passividade!

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