Dois bilhetes postais Embora com pena de tapar a Susan Sontag (aí em baixo), não resisto ao impulso de enviar dois bilhetes postais.Um a Vital Moreira que, no seu blogue, sentencia que a greve geral foi um «fracasso» e que a CGTP pagou caro o seu «voluntarismo». Creio porém que V.M. devia evitar acusar seja quem for de «voluntarismo» dado que ele próprio é, desde que o governo Sócrates tomou posse, uma caso extremo de «voluntarismo» na defesa e propaganda da política desse governo. Acresce que os blogues têm uma vantagem ou um inconveniente, consoante os pontos de vista, que é o de registarem e arquivarem tudo quanto neles se foi escrevendo ao longo do tempo. E quem for revisitar os «posts» que Vital Moreira escreveu durante os governos de Durão Barroso e Santana Lopes, rapidamente concluirá que, nesse tempo, ele não reclamou desses governos nem metade daquilo que agora entusiasticamente aplaude no governo do PS.O outro bilhete-postal é endereçado a José Manuel Fernandes, director do Público, que hoje, em editorial, sustenta que «a falta de adesão à greve» no sector privado «não se deve à alegada precariedade de muitos dos vínculos laborais» mas sim ao facto de muitos trabalhadores temerem que as suas empresas «se venham juntar às que todos os dias encerram». Não me interessa agora discutir qual é o peso relativo dos dois factores no constrangimento do exercício do direito à greve mas sim registar com espanto que J.M.F. escreve «alegada precariedade» . E, perante isso, apetece-me perguntar três-vezes-três : porquê alegada, J.M.F. ? Como alegada, J.M.F.? Alegada a que propósito, J.M.F ?. A insistência na pergunta percebe-se facilmente: é que, na sua edição de ontem era o Público que, logo na primeira página, falava da existência de «um milhão de trabalhadores precários» e, na sua página 2, «esmagava» muitos leitores com os impressionantes números de trabalhadores com contratos a prazo ou com «recibos verdes». Poder-se-á dizer que foi um daqueles lapsos que acontece a qualquer um. Pois, pois, mas acontecem mais quando se está a escrever um editorial de manifesta hostilidade para com a greve geral.
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Dois bilhetes postais Embora com pena de tapar a Susan Sontag (aí em baixo), não resisto ao impulso de enviar dois bilhetes postais.Um a Vital Moreira que, no seu blogue, sentencia que a greve geral foi um «fracasso» e que a CGTP pagou caro o seu «voluntarismo». Creio porém que V.M. devia evitar acusar seja quem for de «voluntarismo» dado que ele próprio é, desde que o governo Sócrates tomou posse, uma caso extremo de «voluntarismo» na defesa e propaganda da política desse governo. Acresce que os blogues têm uma vantagem ou um inconveniente, consoante os pontos de vista, que é o de registarem e arquivarem tudo quanto neles se foi escrevendo ao longo do tempo. E quem for revisitar os «posts» que Vital Moreira escreveu durante os governos de Durão Barroso e Santana Lopes, rapidamente concluirá que, nesse tempo, ele não reclamou desses governos nem metade daquilo que agora entusiasticamente aplaude no governo do PS.O outro bilhete-postal é endereçado a José Manuel Fernandes, director do Público, que hoje, em editorial, sustenta que «a falta de adesão à greve» no sector privado «não se deve à alegada precariedade de muitos dos vínculos laborais» mas sim ao facto de muitos trabalhadores temerem que as suas empresas «se venham juntar às que todos os dias encerram». Não me interessa agora discutir qual é o peso relativo dos dois factores no constrangimento do exercício do direito à greve mas sim registar com espanto que J.M.F. escreve «alegada precariedade» . E, perante isso, apetece-me perguntar três-vezes-três : porquê alegada, J.M.F. ? Como alegada, J.M.F.? Alegada a que propósito, J.M.F ?. A insistência na pergunta percebe-se facilmente: é que, na sua edição de ontem era o Público que, logo na primeira página, falava da existência de «um milhão de trabalhadores precários» e, na sua página 2, «esmagava» muitos leitores com os impressionantes números de trabalhadores com contratos a prazo ou com «recibos verdes». Poder-se-á dizer que foi um daqueles lapsos que acontece a qualquer um. Pois, pois, mas acontecem mais quando se está a escrever um editorial de manifesta hostilidade para com a greve geral.