Da minha profunda ignorância: A crise e os não-economistas

02-10-2009
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Durante esta crise já ouvi uma série de vezes a crítica ao facto de "toda a gente" ter uma opinião acerca dela e toda a gente ser chamada a expressar essa opinião. O argumento é simples:- A economia é uma ciência como qualquer outra, (medicina, por exemplo) e como tal, deve ser deixada a quem entende realmente o seu método e os seus processos. Esta crise não põe nada disso em questão porque afirmá-lo era o mesmo que dizer que a "medicina não é ciência porque ainda não se descobriu a cura para a SIDA".- De seguida, reforça-se com um exemplo: "os economistas não são chamados para dar opiniões a um neurocirurgião sobre como fazer uma qualquer operação ao cérebro".- Por último remata-se: Não venham também médicos ou o que quer que seja dar opiniões "não técnicas" sobre os assuntos económicos.Quanto a mim, este argumento sofre de vários vícios:Em primeiro lugar põe em igualdade de carácter cientifico uma ciência como a medicina, física ou outra qualquer ciência natural e a Economia, esquecendo as características da Economia como Ciência Social.Em segundo lugar, não é de todo verdade que os economistas ou outros não sejam chamados a pronunciar-se sobre outros assuntos. Veja-se o caso da Gripe A. "Toda a gente" foi chamada a pronunciar-se acerca da Gripe A. Lembro-me de António Vitorino na RTP ter cometido uma gaffe ao dar a sua opinião acerca da Gripe A que até motivou críticas que mais tarde foram discutidas no programa do Provedor do telespectador da RTP.Hoje vemos no DN um artigo de um famoso economista português a dar também a sua opinião acerca da Gripe A. O que mais me choca é que João César das Neves é exactamente o tipo de economista capaz de fazer a crítica que enunciei acima neste texto. A crítica de César das Neves é direccionada ao desperdício resultante da distribuição em casas-de-banho públicas de cartazes explicando a forma correcta de lavar as mãos para evitar o contágio da Gripe A.César das Neves não é médico, no entanto sabe exactamente que não vale a pena colocar cartazes. Gostava de ver também a sua opinião acerca da recomendação da Igreja em relação à comunhão na mão.Mas felizmente, todos temos direito a pronunciar-nos, e é disto, em grande medida que é feita a liberdade. Espero continuar a ouvir médicos e serventes de pedreiro a pronunciarem-se sobre a crise porque são também estes que sofrem os seus efeitos. E aí está a caixa de pandora do assunto: As pessoas não falam de Economia porque é a Economia, falam daquilo que as afecta, que lhes diz respeito e que as preocupa. É por isso que toda a gente tem direito a falar na crise e toda a gente tem direito a falar na Gripe A. Talvez médicos e economistas tenham mais a aprender com o cidadão real.


Durante esta crise já ouvi uma série de vezes a crítica ao facto de "toda a gente" ter uma opinião acerca dela e toda a gente ser chamada a expressar essa opinião. O argumento é simples:- A economia é uma ciência como qualquer outra, (medicina, por exemplo) e como tal, deve ser deixada a quem entende realmente o seu método e os seus processos. Esta crise não põe nada disso em questão porque afirmá-lo era o mesmo que dizer que a "medicina não é ciência porque ainda não se descobriu a cura para a SIDA".- De seguida, reforça-se com um exemplo: "os economistas não são chamados para dar opiniões a um neurocirurgião sobre como fazer uma qualquer operação ao cérebro".- Por último remata-se: Não venham também médicos ou o que quer que seja dar opiniões "não técnicas" sobre os assuntos económicos.Quanto a mim, este argumento sofre de vários vícios:Em primeiro lugar põe em igualdade de carácter cientifico uma ciência como a medicina, física ou outra qualquer ciência natural e a Economia, esquecendo as características da Economia como Ciência Social.Em segundo lugar, não é de todo verdade que os economistas ou outros não sejam chamados a pronunciar-se sobre outros assuntos. Veja-se o caso da Gripe A. "Toda a gente" foi chamada a pronunciar-se acerca da Gripe A. Lembro-me de António Vitorino na RTP ter cometido uma gaffe ao dar a sua opinião acerca da Gripe A que até motivou críticas que mais tarde foram discutidas no programa do Provedor do telespectador da RTP.Hoje vemos no DN um artigo de um famoso economista português a dar também a sua opinião acerca da Gripe A. O que mais me choca é que João César das Neves é exactamente o tipo de economista capaz de fazer a crítica que enunciei acima neste texto. A crítica de César das Neves é direccionada ao desperdício resultante da distribuição em casas-de-banho públicas de cartazes explicando a forma correcta de lavar as mãos para evitar o contágio da Gripe A.César das Neves não é médico, no entanto sabe exactamente que não vale a pena colocar cartazes. Gostava de ver também a sua opinião acerca da recomendação da Igreja em relação à comunhão na mão.Mas felizmente, todos temos direito a pronunciar-nos, e é disto, em grande medida que é feita a liberdade. Espero continuar a ouvir médicos e serventes de pedreiro a pronunciarem-se sobre a crise porque são também estes que sofrem os seus efeitos. E aí está a caixa de pandora do assunto: As pessoas não falam de Economia porque é a Economia, falam daquilo que as afecta, que lhes diz respeito e que as preocupa. É por isso que toda a gente tem direito a falar na crise e toda a gente tem direito a falar na Gripe A. Talvez médicos e economistas tenham mais a aprender com o cidadão real.

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