Assertivo: DA ÉTICA POLÍTICA (2)

20-05-2009
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Vejamos agora, um pouco mais de perto, quem são os protagonistas desta história. Abel Pinheiro, o representante do grupo Espírito Santo, já foi administrador do grupo Grão-Pará, na altura da célebre dação em cumprimento do Autódromo do Estoril ao Estado para pagamento das dívidas deste grupo. Abel Pinheiro era também, enquanto vice-presidente do PP, responsável pelas finanças do partido. Telmo Correia e Nobre Guedes eram seus colegas na direcção do PP. Agora o Ministério Público suspeita que Abel Pinheiro usou a sua posição e os seus conhecimentos no governo para prosseguir um negócio ilícito, e que os membros do governo deram provimento às suas pretensões (apesar de saberem muito bem que a edificação implicaria o abate de árvores de uma espécie protegida, e que, por esta razão, era proibida). Aparentemente, estão também sob investigação criminal a cedência do terreno da Companhia das Lezírias ao grupo Espírito Santo, bem como um eventual financiamento do PP pelo grupo Espírito Santo, como contrapartida do tráfico de influências – mas, quanto a este último, pouco mais há que rumores e especulações. O que é certo e demonstrável é o envolvimento de ministros e dirigentes do PP no negócio obscuro da Portucale.Ora, de toda esta gente, Nobre Guedes – que foi ministro do ambiente no governo Santana-Portas – está constituído arguido, tal como Abel Pinheiro. Como o povo do distrito de Coimbra teve a inteligência de não eleger N. Guedes deputado, este não teve maneira de escapar à investigação. Ao contrário de Telmo Correia e de Costa Neves, que eram ministros, respectivamente, do turismo e da agricultura e co-autores, com N. Guedes, do despacho que autorizou a construção do empreendimento turístico e, consequentemente, o abate dos sobreiros, e que agora, por serem deputados, respectivamente, do PP e do PSD, não foram – e, provavelmente, nunca vão ser – constituídos arguidos.É esta a ética política de certas franjas (e franjinhas...) da nossa direita. São estes os moralistas que se arrogam defensores da vida, do rigor e dos valores, note-se bem! Foi a gente como esta que o país esteve entregue. Para eles nada merece respeito, e nada é suficientemente forte para travar os negócios em que se envolvem. Nem a lei, nem as espécies protegidas, nem as investigações criminais. Esta gente não se detém diante de nada. Nem sequer lhes importa que fiquem com a sua reputação arruinada! Foram para o poder para realizar negócios, e estes sobrelevam a tudo o resto. E alguns dos envolvidos podem ficar impunes, à custa de uma imunidade de que, provavelmente, não vão abrir mão.Esta é, aliás, uma das diferenças que vejo entre a esquerda e a direita. António Vitorino, ante uma simples insinuação de evasão fiscal, demitiu-se do cargo de Ministro da Defesa; Jorge Coelho demitiu-se de Ministro das Obras Públicas na sequência da queda da ponte Hintze Ribeiro, em Março de 2002; e Paulo Pedroso, ao ser constituído arguido, requereu o levantamento da imunidade parlamentar e suspendeu o mandato de deputado. A isto chama-se honradez – uma noção a que gente como Nobre Guedes, Abel Pinheiro, Telmo Correia ou Costa Neves é de todo em todo alheia. (continua)

Vejamos agora, um pouco mais de perto, quem são os protagonistas desta história. Abel Pinheiro, o representante do grupo Espírito Santo, já foi administrador do grupo Grão-Pará, na altura da célebre dação em cumprimento do Autódromo do Estoril ao Estado para pagamento das dívidas deste grupo. Abel Pinheiro era também, enquanto vice-presidente do PP, responsável pelas finanças do partido. Telmo Correia e Nobre Guedes eram seus colegas na direcção do PP. Agora o Ministério Público suspeita que Abel Pinheiro usou a sua posição e os seus conhecimentos no governo para prosseguir um negócio ilícito, e que os membros do governo deram provimento às suas pretensões (apesar de saberem muito bem que a edificação implicaria o abate de árvores de uma espécie protegida, e que, por esta razão, era proibida). Aparentemente, estão também sob investigação criminal a cedência do terreno da Companhia das Lezírias ao grupo Espírito Santo, bem como um eventual financiamento do PP pelo grupo Espírito Santo, como contrapartida do tráfico de influências – mas, quanto a este último, pouco mais há que rumores e especulações. O que é certo e demonstrável é o envolvimento de ministros e dirigentes do PP no negócio obscuro da Portucale.Ora, de toda esta gente, Nobre Guedes – que foi ministro do ambiente no governo Santana-Portas – está constituído arguido, tal como Abel Pinheiro. Como o povo do distrito de Coimbra teve a inteligência de não eleger N. Guedes deputado, este não teve maneira de escapar à investigação. Ao contrário de Telmo Correia e de Costa Neves, que eram ministros, respectivamente, do turismo e da agricultura e co-autores, com N. Guedes, do despacho que autorizou a construção do empreendimento turístico e, consequentemente, o abate dos sobreiros, e que agora, por serem deputados, respectivamente, do PP e do PSD, não foram – e, provavelmente, nunca vão ser – constituídos arguidos.É esta a ética política de certas franjas (e franjinhas...) da nossa direita. São estes os moralistas que se arrogam defensores da vida, do rigor e dos valores, note-se bem! Foi a gente como esta que o país esteve entregue. Para eles nada merece respeito, e nada é suficientemente forte para travar os negócios em que se envolvem. Nem a lei, nem as espécies protegidas, nem as investigações criminais. Esta gente não se detém diante de nada. Nem sequer lhes importa que fiquem com a sua reputação arruinada! Foram para o poder para realizar negócios, e estes sobrelevam a tudo o resto. E alguns dos envolvidos podem ficar impunes, à custa de uma imunidade de que, provavelmente, não vão abrir mão.Esta é, aliás, uma das diferenças que vejo entre a esquerda e a direita. António Vitorino, ante uma simples insinuação de evasão fiscal, demitiu-se do cargo de Ministro da Defesa; Jorge Coelho demitiu-se de Ministro das Obras Públicas na sequência da queda da ponte Hintze Ribeiro, em Março de 2002; e Paulo Pedroso, ao ser constituído arguido, requereu o levantamento da imunidade parlamentar e suspendeu o mandato de deputado. A isto chama-se honradez – uma noção a que gente como Nobre Guedes, Abel Pinheiro, Telmo Correia ou Costa Neves é de todo em todo alheia. (continua)

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