A aposta de José Sócrates em conseguir uma maioria absoluta nunca antes atingida para o PS, levada ao cúmulo das forças e do discurso, comporta em si mesma um risco de morte.Em 1999, depois de quatro anos de governação razoável, tranquila e em quase permanente estado de graça, António Guterres ensaiou a graça. Queria uma maioria absoluta, mas no típico estilo tergiversante do guterrismo, a fórmula encontrada foi redonda. Se bem me lembro, foi António Vitorino quem tirou da cartola a "maioria absolutamente inequívoca". O resultado é conhecido: o PS ganhou as eleições mas obteve 115 deputados no Parlamento. Metade. Morreram na praia os sonhos da rosa. E foi nesse mesmo dia que começou o estertor do guterrismo e que o Governo da nova maioria começou a sua curva descendente, rápida e irreversível. E que teve a machadada final na noite de 16 de Dezembro de 2001, dois anos depois da vitória nas legislativas.Se é certo que agora Sócrates tem o mérito de tornar a opção clara, e de assumir o risco, não o é menos que o delfim de Guterres pode estar a correr rapidamente para o seu próprio fim. É que uma vitória clara e inequívoca do PS no domingo pode ter o sabor mais amargo que alguma vez um triunfo trouxe. Basta que os socialistas fiquem com 114 deputados. E que dependam da boa vontade do BE, do PCP ou de Paulo Portas.Que ânimo terá Sócrates para governar se o único pedido que fez aos eleitores não for correspondido? Que ânimo podem os portugueses ter para votar nele se não sabem o ânimo que ele terá para governar se não for de forma absoluta?
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A aposta de José Sócrates em conseguir uma maioria absoluta nunca antes atingida para o PS, levada ao cúmulo das forças e do discurso, comporta em si mesma um risco de morte.Em 1999, depois de quatro anos de governação razoável, tranquila e em quase permanente estado de graça, António Guterres ensaiou a graça. Queria uma maioria absoluta, mas no típico estilo tergiversante do guterrismo, a fórmula encontrada foi redonda. Se bem me lembro, foi António Vitorino quem tirou da cartola a "maioria absolutamente inequívoca". O resultado é conhecido: o PS ganhou as eleições mas obteve 115 deputados no Parlamento. Metade. Morreram na praia os sonhos da rosa. E foi nesse mesmo dia que começou o estertor do guterrismo e que o Governo da nova maioria começou a sua curva descendente, rápida e irreversível. E que teve a machadada final na noite de 16 de Dezembro de 2001, dois anos depois da vitória nas legislativas.Se é certo que agora Sócrates tem o mérito de tornar a opção clara, e de assumir o risco, não o é menos que o delfim de Guterres pode estar a correr rapidamente para o seu próprio fim. É que uma vitória clara e inequívoca do PS no domingo pode ter o sabor mais amargo que alguma vez um triunfo trouxe. Basta que os socialistas fiquem com 114 deputados. E que dependam da boa vontade do BE, do PCP ou de Paulo Portas.Que ânimo terá Sócrates para governar se o único pedido que fez aos eleitores não for correspondido? Que ânimo podem os portugueses ter para votar nele se não sabem o ânimo que ele terá para governar se não for de forma absoluta?