sapatos pretos: A opinião segundo a opinião como formulação do conhecimento colectivo

01-10-2009
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Hoje vi o António Vitorino na televisão. Ver é o termo certo. Não ouvi rigorosamente nada do que ele disse, porque as minhas filhas falam altíssimo e imenso, sempre que quero ouvir qualquer coisa na televisão e também porque, alheia à confusão, dei comigo a pensar no motivo que terá levado António Vitorino a aceitar aquele convite para comentador da actualidade. Duelo? Protagonismo? Dinheiro? Vaidade? ... Creio que ninguém sabe ao certo. Concluí então, que António Vitorino é pago para, obviamente, aumentar as audiências, e para claramente formar a opinião do povo. O mesmo exemplo se aplica ao professor Marcelo. As audiências já todos sabemos o que são, como são, o que movem, etc. A formação de opinião é fácil de explicar: o povo não lê, não estuda, não se actualiza. As maiores audiências verificam-se nos telejornais mais sensacionalistas; assim temos todos os telejornais, sensacionalistas. É preciso que no meio desta ignóbil realidade, haja um mínimo sentimento de pudor que desencadeie alguma alternativa capaz de criar a ilusão de reconciliação do ponto de vista ético entre a profissão de jornalista, o jornalismo em geral e portanto a sua função na sociedade. A própria televisão sabe que as suas notícias não informam, não são esclarecedoras, não tratam os temas com o rigor devido, basicamente não são notícia, não têm credibilidade, não informam. Os telejornais são uma espécie de espaço publicitário da desgraça, do horror, da tragédia, da infelicidade, do alheio, do intransmissível, totalmente desaconselhado a menores. Mas, o povo gosta e vê, embora não aprenda, nem fique informado de nada. Os comentadores surgem assim, como uma espécie de fórmula mágica. Com eles de repente tudo parece fazer sentido, tudo parece ter uma explicação, afinal é tudo relativamente simples, e o jornalismo faz airosamente a sua fuga em frente. No fundo, os comentadores são os nossos explicadores, o que equivale a dizer os explicadores do povo. Por um lado, nós somos maus alunos, mas também é evidente que os professores não dão bem a matéria. Não se corrigindo nenhum destes dois, surge um derradeiro terceiro interveniente salvador, os referidos comentadores, que actuam com excelência e eloquência na arte de instruir, de tal forma que mantemos asseguradas notas altas no teste de opinião sobre tudo e todos, fingindo, com segurança de sofista, profundas reflexões sobre as coisas deste mundo e do país. Finalmente, fica para mim claro que, ambos os comentadores Vitorino e Marcelo têm estado bem. O nível de exigência que se pede ao comentador de TV está basicamente ao nível daquilo que se pretende que o povo saiba.

Hoje vi o António Vitorino na televisão. Ver é o termo certo. Não ouvi rigorosamente nada do que ele disse, porque as minhas filhas falam altíssimo e imenso, sempre que quero ouvir qualquer coisa na televisão e também porque, alheia à confusão, dei comigo a pensar no motivo que terá levado António Vitorino a aceitar aquele convite para comentador da actualidade. Duelo? Protagonismo? Dinheiro? Vaidade? ... Creio que ninguém sabe ao certo. Concluí então, que António Vitorino é pago para, obviamente, aumentar as audiências, e para claramente formar a opinião do povo. O mesmo exemplo se aplica ao professor Marcelo. As audiências já todos sabemos o que são, como são, o que movem, etc. A formação de opinião é fácil de explicar: o povo não lê, não estuda, não se actualiza. As maiores audiências verificam-se nos telejornais mais sensacionalistas; assim temos todos os telejornais, sensacionalistas. É preciso que no meio desta ignóbil realidade, haja um mínimo sentimento de pudor que desencadeie alguma alternativa capaz de criar a ilusão de reconciliação do ponto de vista ético entre a profissão de jornalista, o jornalismo em geral e portanto a sua função na sociedade. A própria televisão sabe que as suas notícias não informam, não são esclarecedoras, não tratam os temas com o rigor devido, basicamente não são notícia, não têm credibilidade, não informam. Os telejornais são uma espécie de espaço publicitário da desgraça, do horror, da tragédia, da infelicidade, do alheio, do intransmissível, totalmente desaconselhado a menores. Mas, o povo gosta e vê, embora não aprenda, nem fique informado de nada. Os comentadores surgem assim, como uma espécie de fórmula mágica. Com eles de repente tudo parece fazer sentido, tudo parece ter uma explicação, afinal é tudo relativamente simples, e o jornalismo faz airosamente a sua fuga em frente. No fundo, os comentadores são os nossos explicadores, o que equivale a dizer os explicadores do povo. Por um lado, nós somos maus alunos, mas também é evidente que os professores não dão bem a matéria. Não se corrigindo nenhum destes dois, surge um derradeiro terceiro interveniente salvador, os referidos comentadores, que actuam com excelência e eloquência na arte de instruir, de tal forma que mantemos asseguradas notas altas no teste de opinião sobre tudo e todos, fingindo, com segurança de sofista, profundas reflexões sobre as coisas deste mundo e do país. Finalmente, fica para mim claro que, ambos os comentadores Vitorino e Marcelo têm estado bem. O nível de exigência que se pede ao comentador de TV está basicamente ao nível daquilo que se pretende que o povo saiba.

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