Vitorino bate com a porta na Faculdade

22-10-2008
marcar artigo

Ensino Superior

Vitorino bate com a porta na Faculdade

Colocado a dar aulas práticas, ex-comissário europeu da Justiça rescindiu o contrato de assistente

Alterar tamanho

Como assistente, Vitorino teria de leccionar nove horas por semana. E na Faculdade não há professores convidados

Considerado o português com um currículo jurídico não académico mais rico e diversificado, António Vitorino deixou de dar aulas na sua escola de sempre: a Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa.

Com mestrado mas sem doutoramento, Vitorino “estava limitado por lei ao estatuto de assistente”, como explicou ao Expresso o professor Jorge Miranda, ex-presidente do Conselho Científico. Assistente da faculdade, onde também se licenciara, Vitorino foi durante cinco anos juiz do Constitucional. Após a sua passagem pelo Governo de Guterres (de que foi ministro de Estado), deu aulas teóricas. “Foi no ano lectivo de 1998/99, onde na prática fui o regente”, disse Vitorino. “Isso aconteceu nas cadeiras de Direitos Fundamentais e Constitucional”. Em 1999 foi para Bruxelas, onde durante mais cinco anos foi membro da Comissão Europeia, responsável pela Justiça e Assuntos Internos. No regresso, retomou as aulas em 2006/07. Desta feita, de Direito Comunitário, cadeira do professor Fausto Quadros. Confinado ao estatuto de assistente, “dei aulas práticas de Contencioso Comunitário, em horário pós-laboral”. Quadros adiantou que “também deu aulas teóricas, a meu pedido ou em minha substituição”.

Para o corrente ano lectivo, a direcção da Faculdade renovou o convite a Vitorino. Só que não foi possível. Segundo Fausto Quadros, “o problema cingiu-se a uma incompatibilidade de horários. O dr. Vitorino, como qualquer docente, teria de dar o mínimo de nove horas de aulas por semana. Infelizmente, não foi capaz de as encaixar na sua agenda”. Ex-dirigente do PS, Vitorino goza do estatuto de conselheiro de Sócrates. Quadros, por sua vez, foi dirigente do CDS. O socialista, porém, apressou-se a esclarecer que “a questão não tem nada a ver com a política”. Quadros confirmou: “O dr. Vitorino foi um excelente assistente, tenho por ele enorme apreço e as nossas relações são cordialíssimas”. Apesar de ter procurado desvalorizar o episódio, Vitorino fez questão de sublinhar que “fui eu que pedi a rescisão do contrato”. O problema radica na própria cultura académica. Teoricamente, Vitorino até poderia ser professor convidado. Esse cenário, porém, nunca se colocou. “Desde 1913 que a Faculdade só tem professores através de provas públicas” - notou Jorge Miranda. Quanto a um doutoramento «honoris causa», “só por méritos científicos”, o que exclui Vitorino. Miranda lamentou o abandono: “Este critério levou a que também Robin de Andrade, Miguel Galvão Teles, Rui Machete ou Sousa e Brito deixassem de ser professores. Também não tinham o doutoramento”. Em meios académicos, especula-se sobre a possibilidade de Vitorino ser convidado por outras faculdades.

Ensino Superior

Vitorino bate com a porta na Faculdade

Colocado a dar aulas práticas, ex-comissário europeu da Justiça rescindiu o contrato de assistente

Alterar tamanho

Como assistente, Vitorino teria de leccionar nove horas por semana. E na Faculdade não há professores convidados

Considerado o português com um currículo jurídico não académico mais rico e diversificado, António Vitorino deixou de dar aulas na sua escola de sempre: a Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa.

Com mestrado mas sem doutoramento, Vitorino “estava limitado por lei ao estatuto de assistente”, como explicou ao Expresso o professor Jorge Miranda, ex-presidente do Conselho Científico. Assistente da faculdade, onde também se licenciara, Vitorino foi durante cinco anos juiz do Constitucional. Após a sua passagem pelo Governo de Guterres (de que foi ministro de Estado), deu aulas teóricas. “Foi no ano lectivo de 1998/99, onde na prática fui o regente”, disse Vitorino. “Isso aconteceu nas cadeiras de Direitos Fundamentais e Constitucional”. Em 1999 foi para Bruxelas, onde durante mais cinco anos foi membro da Comissão Europeia, responsável pela Justiça e Assuntos Internos. No regresso, retomou as aulas em 2006/07. Desta feita, de Direito Comunitário, cadeira do professor Fausto Quadros. Confinado ao estatuto de assistente, “dei aulas práticas de Contencioso Comunitário, em horário pós-laboral”. Quadros adiantou que “também deu aulas teóricas, a meu pedido ou em minha substituição”.

Para o corrente ano lectivo, a direcção da Faculdade renovou o convite a Vitorino. Só que não foi possível. Segundo Fausto Quadros, “o problema cingiu-se a uma incompatibilidade de horários. O dr. Vitorino, como qualquer docente, teria de dar o mínimo de nove horas de aulas por semana. Infelizmente, não foi capaz de as encaixar na sua agenda”. Ex-dirigente do PS, Vitorino goza do estatuto de conselheiro de Sócrates. Quadros, por sua vez, foi dirigente do CDS. O socialista, porém, apressou-se a esclarecer que “a questão não tem nada a ver com a política”. Quadros confirmou: “O dr. Vitorino foi um excelente assistente, tenho por ele enorme apreço e as nossas relações são cordialíssimas”. Apesar de ter procurado desvalorizar o episódio, Vitorino fez questão de sublinhar que “fui eu que pedi a rescisão do contrato”. O problema radica na própria cultura académica. Teoricamente, Vitorino até poderia ser professor convidado. Esse cenário, porém, nunca se colocou. “Desde 1913 que a Faculdade só tem professores através de provas públicas” - notou Jorge Miranda. Quanto a um doutoramento «honoris causa», “só por méritos científicos”, o que exclui Vitorino. Miranda lamentou o abandono: “Este critério levou a que também Robin de Andrade, Miguel Galvão Teles, Rui Machete ou Sousa e Brito deixassem de ser professores. Também não tinham o doutoramento”. Em meios académicos, especula-se sobre a possibilidade de Vitorino ser convidado por outras faculdades.

marcar artigo