Pensamento Alinhado: Eleições Europeias 09

29-09-2009
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Antes de começar a análise nacional e europeia sobre as eleições disputadas hoje, quero felicitar o partido vencedor em Portugal, o PSD. A grande maioria das sondagens e projecções estavam erradas, especialmente na percentagem de votos conferida ao PS. Muito se falou sobre o voto de protesto e o cartão vermelho ao governo mas a fragilidade política do PSD foi também bastante discutida. Vamos então aos resultados e à respectiva análise.A abstenção regista uma subida ficando nos 62,8%. Isto é uma derrota clara para todos os partidos (incluindo os pequenos). Demonstra que mesmo com pouca discussão sobre a Europa e com poucas propostas para a UE, os partidos não conseguem atrair os eleitores. Cada vez mais pessoas se sentem desmobilizadas do sistema político. Este fenómeno não é exclusivo de Portugal já que estas foram as eleições com menor participação a nível europeu. Cada vez mais os políticos e as instituições políticas se afastam do seu eleitorado o que em nada beneficia os interesses nacionais nem os interesses europeus.Em relação à previsão que tinha feito na 4ª feira errei por 1 eurodeputado. Que "trocou" o PS pelo PSD. Confesso que não estava à espera de uma vitória de Paulo Rangel e ainda menos que esta fosse, efectivamente, expressiva. Por parte das sondagens houve 2 grandes "falhas". Uma delas foi a vitória do PS e a outra a vaticinação da quase extinção por parte do CDS.O PSD envolto em turbulências (bem visíveis na campanha de Rangel) desde a eleição de Manuela Ferreira Leite, encontrou aqui um novo ânimo. Apesar da sua percentagem de votos não ser elevada, demonstrando não conseguir capitalizar totalmente o protesto em relação ao governo, uma vitória é sempre uma vitória e com certeza irá moralizar as hostes laranjas. Pedro Passos Coelho leva assim uma bofetada, especialmente após as declarações em plena campanha para estas eleições. Quando Paulo Rangel foi anunciado como cabeça-de-lista para as eleições europeias, muitos criticaram esse facto por ser o militante do PSD que vinha a "carregar com o partido às costas" no Parlamento, com especial destaque para os confrontos com José Sócrates. Uma vez mais Rangel conseguiu carregar o seu partido fazendo uma campanha notável culminando com esta vitória. Para mim, foi essencial o seu papel já que na minha opinião, MFL não seria capaz de mobilizar tantos eleitores.O PS foi o grande derrotado. Perdeu votos e eurodeputados, tanto para a esquerda como para a direita. Era esperado um voto de protesto mas não nestas dimensões e as imagens vindas do Hotel Altis demonstravam que ninguém no Partido Socialista estava preparado para esta situação. Apesar de Sócrates se ter envolvido bastante na campanha, tal não foi suficiente para "contornar" as críticas face a Vital Moreira. A escolha do cabeça-de-lista foi interpretada pela maioria como uma má escolha. Nesse sentido penso que Vital teve o efeito oposto a Rangel, ou seja, enquanto que o segundo conseguiu dinamizar o PSD o primeiro fechou o PS. Talvez esteja a sobrevalorizar a importância dos cabeças-de-lista mas mesmo que tal facto não alterasse o partido vencedor, penso que a margem de diferença poderia ser encurtada.O BE foi também um grande vencedor. Conseguiu triplicar o número de eurodeputados e tornar-se a terceira força política o que é um resultado excelente. Eleição após eleição, o Bloco tem vindo a aumentar a sua influência.A CDU manteve o número de eurodeputados e em percentagem de votos não foi uma derrotada. Contudo foi derrotada a nível moral ao passar a ser a quarta força política ainda que num quase empate com o BE.O CDS apesar de manter o número de eurodeputados e de estar em último no campeonato dos "grandes" surge como a surpresa da noite. Os trotskistas conseguiram superar os democratas-cristãos mas não ocorreu o descalabro que muitas sondagens previam. O CDS mantem a chama acesa mesmo com a vitória do PSD, provando ter uma identidade e eleitores próprios, não estando sujeita às movimentações feitas pelo principal partido de Direita.O MEP apesar de não ter eleito a Laurinda Alves consegue uma votação algo expressiva e que dá alento a este novo partido.Conclusões para as legislativas? Na minha opinião, somente a de que nenhum partido conseguirá a maioria absoluta. O embate das legislativas será muito diferente do combate para as eleições europeias. Com Sócrates e Ferreira Leite como protagonistas os resultados serão diferentes e aí o PSD partirá em desvantagem apesar desta vitória. Contudo, esta vitória dá um novo argumento e fôlego para a futura campanha do PSD onde a vitória (ao contrário do que se pensava somente há 1 ou 2 meses atrás) é uma possibilidade. Sobre a sondagem para as legislativas que a SIC revelou e que apontava o PS como vencedor (com 39,6% dos votos) e o PSD bem atrás (com 33% dos votos) tendo a discordar. Creio que se as eleições legislativas fossem hoje o PS sairia vencedor mas não com um margem de quase 7% de diferença para com o PSD. As eleições europeias não provaram que o PSD "vai à frente" mas provaram que vai bem mais perto do PS do que aquilo que a maioria do nós (eu incluido) imaginavamos.Sobre a questão do voto de protesto tendo a discordar de algumas análises realizadas na SIC. Pacheco Pereira afirmou que o crescimento do BE se deveu ao mero voto de protesto enquanto que o crescimento do PSD se deveu a quem realmente procura uma alternativa para o poder em Portugal. E nesse sentido referiu que os portugueses iriam escolher essa alternativa nas legislativas, já que estava em jogo o futuro do nosso país e o PSD era o único que reunia condições para propôr essa "ruptura" com as políticas do governo de Sócrates. Eu penso ao contrário. O voto de protesto pode ter sido canalizado para o PSD e o crescimento do BE ter sido sustentado por eleitores que querem uma nova realidade política. O PSD é o maior partido da oposição. Quem quer apenas "humilhar" Sócrates (ou seja, não se interessa pelas propostas e ideias dos partidos, querendo somente castigar o governo vigente) vota num partido qualquer, já que esse mesmo partido não precisa de se encontrar alinhado com a ideologia do eleitor pois o seu objectivo é punir o governo. Se para o eleitor é indiferente o partido em que vota, qual será o melhor partido para castigar o governo? Talvez o seu principal opositor? Porque tem a possibilidade de ganhar eleições e assim derrotar o governo. Quem vota no BE pode sem dúvida estar em desacordo com as políticas do governo PS, mas sabe que pelo menos actualmente, o BE não tem capacidade para derrotar o PS. Quem vota BE quer uma nova política em Portugal e não apenas "protestar", porque o melhor partido para protestar é o PSD. Imagine-se que o BE obtinha o mesmo resultado que obteve nestas eleições mas que as votações entre PS e PSD trocavam. Nesta situação, o PS teria eleito 8 eurodeputados (contra 7 do PSD) e batido o PSD por 5,1% nos votos. O Bloco teria tido um excelente resultado na mesma, mas seria Sócrates humilhado? Com uma vitória em eurodeputados e com uma margem de 5,1% em votos, penso que não. Analisando a situação, penso que faz mais sentido o voto de protesto ter sido canalizado para o PSD e o crescimento do BE tenha sido realizado por eleitores que compreendem e concordam efectivamente com os projectos daquele partido.A nível europeu vimos um crescimento importante da direita, tanto do PPE como da extrema-direita. Pessoalmente não são resultados que me agradem já que esperava um reforço no número de eurodeputados do PSE. Durão Barroso verá possivelmente a releição confirmada e as políticas comunitárias não deverão sofrer nenhum "abalo" para grande desgosto meu. A democracia é mesmo assim e no geral, a direita europeia está de parabéns. Mais combates se seguirão e em especial as legislativas, serão bastante interessantes de estudar e analisar.


Antes de começar a análise nacional e europeia sobre as eleições disputadas hoje, quero felicitar o partido vencedor em Portugal, o PSD. A grande maioria das sondagens e projecções estavam erradas, especialmente na percentagem de votos conferida ao PS. Muito se falou sobre o voto de protesto e o cartão vermelho ao governo mas a fragilidade política do PSD foi também bastante discutida. Vamos então aos resultados e à respectiva análise.A abstenção regista uma subida ficando nos 62,8%. Isto é uma derrota clara para todos os partidos (incluindo os pequenos). Demonstra que mesmo com pouca discussão sobre a Europa e com poucas propostas para a UE, os partidos não conseguem atrair os eleitores. Cada vez mais pessoas se sentem desmobilizadas do sistema político. Este fenómeno não é exclusivo de Portugal já que estas foram as eleições com menor participação a nível europeu. Cada vez mais os políticos e as instituições políticas se afastam do seu eleitorado o que em nada beneficia os interesses nacionais nem os interesses europeus.Em relação à previsão que tinha feito na 4ª feira errei por 1 eurodeputado. Que "trocou" o PS pelo PSD. Confesso que não estava à espera de uma vitória de Paulo Rangel e ainda menos que esta fosse, efectivamente, expressiva. Por parte das sondagens houve 2 grandes "falhas". Uma delas foi a vitória do PS e a outra a vaticinação da quase extinção por parte do CDS.O PSD envolto em turbulências (bem visíveis na campanha de Rangel) desde a eleição de Manuela Ferreira Leite, encontrou aqui um novo ânimo. Apesar da sua percentagem de votos não ser elevada, demonstrando não conseguir capitalizar totalmente o protesto em relação ao governo, uma vitória é sempre uma vitória e com certeza irá moralizar as hostes laranjas. Pedro Passos Coelho leva assim uma bofetada, especialmente após as declarações em plena campanha para estas eleições. Quando Paulo Rangel foi anunciado como cabeça-de-lista para as eleições europeias, muitos criticaram esse facto por ser o militante do PSD que vinha a "carregar com o partido às costas" no Parlamento, com especial destaque para os confrontos com José Sócrates. Uma vez mais Rangel conseguiu carregar o seu partido fazendo uma campanha notável culminando com esta vitória. Para mim, foi essencial o seu papel já que na minha opinião, MFL não seria capaz de mobilizar tantos eleitores.O PS foi o grande derrotado. Perdeu votos e eurodeputados, tanto para a esquerda como para a direita. Era esperado um voto de protesto mas não nestas dimensões e as imagens vindas do Hotel Altis demonstravam que ninguém no Partido Socialista estava preparado para esta situação. Apesar de Sócrates se ter envolvido bastante na campanha, tal não foi suficiente para "contornar" as críticas face a Vital Moreira. A escolha do cabeça-de-lista foi interpretada pela maioria como uma má escolha. Nesse sentido penso que Vital teve o efeito oposto a Rangel, ou seja, enquanto que o segundo conseguiu dinamizar o PSD o primeiro fechou o PS. Talvez esteja a sobrevalorizar a importância dos cabeças-de-lista mas mesmo que tal facto não alterasse o partido vencedor, penso que a margem de diferença poderia ser encurtada.O BE foi também um grande vencedor. Conseguiu triplicar o número de eurodeputados e tornar-se a terceira força política o que é um resultado excelente. Eleição após eleição, o Bloco tem vindo a aumentar a sua influência.A CDU manteve o número de eurodeputados e em percentagem de votos não foi uma derrotada. Contudo foi derrotada a nível moral ao passar a ser a quarta força política ainda que num quase empate com o BE.O CDS apesar de manter o número de eurodeputados e de estar em último no campeonato dos "grandes" surge como a surpresa da noite. Os trotskistas conseguiram superar os democratas-cristãos mas não ocorreu o descalabro que muitas sondagens previam. O CDS mantem a chama acesa mesmo com a vitória do PSD, provando ter uma identidade e eleitores próprios, não estando sujeita às movimentações feitas pelo principal partido de Direita.O MEP apesar de não ter eleito a Laurinda Alves consegue uma votação algo expressiva e que dá alento a este novo partido.Conclusões para as legislativas? Na minha opinião, somente a de que nenhum partido conseguirá a maioria absoluta. O embate das legislativas será muito diferente do combate para as eleições europeias. Com Sócrates e Ferreira Leite como protagonistas os resultados serão diferentes e aí o PSD partirá em desvantagem apesar desta vitória. Contudo, esta vitória dá um novo argumento e fôlego para a futura campanha do PSD onde a vitória (ao contrário do que se pensava somente há 1 ou 2 meses atrás) é uma possibilidade. Sobre a sondagem para as legislativas que a SIC revelou e que apontava o PS como vencedor (com 39,6% dos votos) e o PSD bem atrás (com 33% dos votos) tendo a discordar. Creio que se as eleições legislativas fossem hoje o PS sairia vencedor mas não com um margem de quase 7% de diferença para com o PSD. As eleições europeias não provaram que o PSD "vai à frente" mas provaram que vai bem mais perto do PS do que aquilo que a maioria do nós (eu incluido) imaginavamos.Sobre a questão do voto de protesto tendo a discordar de algumas análises realizadas na SIC. Pacheco Pereira afirmou que o crescimento do BE se deveu ao mero voto de protesto enquanto que o crescimento do PSD se deveu a quem realmente procura uma alternativa para o poder em Portugal. E nesse sentido referiu que os portugueses iriam escolher essa alternativa nas legislativas, já que estava em jogo o futuro do nosso país e o PSD era o único que reunia condições para propôr essa "ruptura" com as políticas do governo de Sócrates. Eu penso ao contrário. O voto de protesto pode ter sido canalizado para o PSD e o crescimento do BE ter sido sustentado por eleitores que querem uma nova realidade política. O PSD é o maior partido da oposição. Quem quer apenas "humilhar" Sócrates (ou seja, não se interessa pelas propostas e ideias dos partidos, querendo somente castigar o governo vigente) vota num partido qualquer, já que esse mesmo partido não precisa de se encontrar alinhado com a ideologia do eleitor pois o seu objectivo é punir o governo. Se para o eleitor é indiferente o partido em que vota, qual será o melhor partido para castigar o governo? Talvez o seu principal opositor? Porque tem a possibilidade de ganhar eleições e assim derrotar o governo. Quem vota no BE pode sem dúvida estar em desacordo com as políticas do governo PS, mas sabe que pelo menos actualmente, o BE não tem capacidade para derrotar o PS. Quem vota BE quer uma nova política em Portugal e não apenas "protestar", porque o melhor partido para protestar é o PSD. Imagine-se que o BE obtinha o mesmo resultado que obteve nestas eleições mas que as votações entre PS e PSD trocavam. Nesta situação, o PS teria eleito 8 eurodeputados (contra 7 do PSD) e batido o PSD por 5,1% nos votos. O Bloco teria tido um excelente resultado na mesma, mas seria Sócrates humilhado? Com uma vitória em eurodeputados e com uma margem de 5,1% em votos, penso que não. Analisando a situação, penso que faz mais sentido o voto de protesto ter sido canalizado para o PSD e o crescimento do BE tenha sido realizado por eleitores que compreendem e concordam efectivamente com os projectos daquele partido.A nível europeu vimos um crescimento importante da direita, tanto do PPE como da extrema-direita. Pessoalmente não são resultados que me agradem já que esperava um reforço no número de eurodeputados do PSE. Durão Barroso verá possivelmente a releição confirmada e as políticas comunitárias não deverão sofrer nenhum "abalo" para grande desgosto meu. A democracia é mesmo assim e no geral, a direita europeia está de parabéns. Mais combates se seguirão e em especial as legislativas, serão bastante interessantes de estudar e analisar.

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