A outra Varinha Mágica: Separados à nascença?

20-05-2009
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Ao longo deste blog já por várias vezes recordei um livro que escrevi a propósito da governação e comportamento de José Sócrates. O livro chama-se a Varinha Mágica de Valentim Loureiro e, de facto, quanto mais vejo aproximarem-se as eleições, mais semelhanças encontro entre os dois. Às vezes, chego mesmo a fazer o exercício de experimentar substituir o nome de Valentim Loureiro pelo de José Sócrates no livro que escrevi sobre os “truques populistas do Major” e voltar a lê-lo, para ver se bate certo. E bate. Senão vejamos:Magalhães: Valentim Loureiro deu computadores às escolas do ensino básico em 1997. Orgulhava-se, nos seus discursos, de estar na vanguarda das novas tecnologias de informação “à frente de Bill Clinton, na América”.Cheques dentista: Desde 1995 que os alunos das escolas básicas de Gondomar tinham acesso a dentistas pagos pela Câmara.Reconstrução de escolas: uma das primeiras medidas de Valentim Loureiro. Muitas pequenas obras em todas as escolas.Subsídios: muitos subsídios e ajudas aos mais necessitados. Ainda antes da crise ser evidente, Valentim Loureiro tomou medidas: dar cheques às famílias mais pobres. Uma espécie de subsídio de reinserção extraordinário.O poder judicial do voto: tal como Sócrates no último congresso, também Valentim Loureiro apelou aos eleitores que o legitimassem, através do voto, contra os que insinuavam ser corrupto.Inimigos virtuais: há muito que Valentim Loureiro desenvolveu a técnica agora aplicada por Sócrates. Marques Mendes foi o seu inimigo em Gondomar nas últimas eleições. Era Gondomar (ele próprio) contra o “pequenino” que estava lá longe. Mas foi também o caso da personalização em Carlos Teixeira os seus problemas com a Justiça. Sócrates tem feito o mesmo em relação aos inimigos virtuais, como Manuel Alegre, desvalorizando os seus reais adversários e faz o mesmo com o Freeport, apontando inimigos que lhe querem mal, como a TVI ou um denunciante que era político.Relação com a imprensa: como escrevi no meu livro, sobretudo depois de eu ter deixado de ser seu assessor, Valentim Loureiro desatou a processar jornalistas por tudo e por nada. E fez saber que processou.Reacções às acusações: quando foi denunciado publicamente um negócio supostamente criminoso em vésperas de eleições, Valentim Loureiro reagiu numa comunicação aos jornalistas. As suas palavras, que reproduzo no livro, são quase o decalque do que viria Sócrates a dizer quando voltou a estourar, recentemente, o caso Freeport.Subterfúgios e desvios do essencial: como Sócrates, Valentim Loureiro sustentou-se sempre bastante com prescrições, inconstitucionalidades, nulidades das provas, arquivamentos e supostas ilegalidades cometidas por jornalistas e investigadores e mesmo com a origem dos processos (cartas anónimas) para justificar ser vítima de acusações, desviando a opinião pública da discussão essencial: cometeu ou não os actos de que é acusado.Decisões rápidas: um e outro decidem em menos de 5 minutos. Medidas, muitas vezes tomadas em cima do acontecimento e ao sabor das necessidades de comunicação e nem sempre das necessidades das populações. Depois, há o problema dos que têm que colocar em prática aquilo que decidem anunciar na assembleia ou a caminho de uma entrevista.Confusão entre Estado e partido: tal como Sócrates usou imagens recolhidas pelo Ministério da Educação de crianças com o Magalhães no tempo de antena do PS, Valentim Loureiro foi acusado em Gondomar de usar dados e meios da Câmara a favor do seu partido ou da sua candidatura independente.Insurgir-se com as perguntas dos jornalistas: Sócrates mostra-se constantemente “insultado” por lhe perguntarem coisas. Conto no livro várias situações onde expressões que jornalistas usaram em perguntas levaram o Major à indignação quase violenta.Tachos e cunhas: A fama do Major nesta matéria fala por si. No livro, faço uma análise exaustiva da situação, desmontando alguns mitos. Mas não há dúvidas de que a “rede social” montada por Sócrates ao longo dos anos, se assemelha muito à filosofia de Valentim Loureiro, de controlo de lugares e de gestão de poder e influência.Discurso: À medida que vejo Sócrates crispar-se nos seus discursos, recordo-me do Major. No livro conto duas confidências feitas por Sócrates a Valentim e os elogios e admiração confessada em relação a pelo menos dois dos seus discursos.Determinação e coragem: as principais virtudes de um, parecem ser as principais virtudes de outro.Hugo Chaves: há um episódio no livro que titulei "Hugo Chaves vs Valentim Loureiro". A proximidade de Sócrates com o líder da Venezuela é conhecida.Populismo: no livro, comparo medidas de Valentim com medidas de Sócrates. Promessas e propostas que ambos fazem no fio da navalha daquilo que podemos e, por vezes, chamamos populismo, mas que o Major apelida de “populares”.Podia continuar por aqui a fora, comparando ambos, com vários elementos que uso no livro e com base em muitos outros, que não escrevi mas revejo quando oiço Sócrates. A enorme resistência de ambos, a forma como se declaram vítimas e se dizem dispostos a “carregar a cruz”, a linguagem e até a frase “não é assim que me vencem” são traços de uma fórmula que tem dado resultado. Contudo, tal como prevejo para Valentim Loureiro em Gondomar no livro, afirmo-o em relação a José Sócrates: “as próximas eleições não serão tão fáceis como as anteriores”. A “Varinha Mágica” pode estar a avariar.


Ao longo deste blog já por várias vezes recordei um livro que escrevi a propósito da governação e comportamento de José Sócrates. O livro chama-se a Varinha Mágica de Valentim Loureiro e, de facto, quanto mais vejo aproximarem-se as eleições, mais semelhanças encontro entre os dois. Às vezes, chego mesmo a fazer o exercício de experimentar substituir o nome de Valentim Loureiro pelo de José Sócrates no livro que escrevi sobre os “truques populistas do Major” e voltar a lê-lo, para ver se bate certo. E bate. Senão vejamos:Magalhães: Valentim Loureiro deu computadores às escolas do ensino básico em 1997. Orgulhava-se, nos seus discursos, de estar na vanguarda das novas tecnologias de informação “à frente de Bill Clinton, na América”.Cheques dentista: Desde 1995 que os alunos das escolas básicas de Gondomar tinham acesso a dentistas pagos pela Câmara.Reconstrução de escolas: uma das primeiras medidas de Valentim Loureiro. Muitas pequenas obras em todas as escolas.Subsídios: muitos subsídios e ajudas aos mais necessitados. Ainda antes da crise ser evidente, Valentim Loureiro tomou medidas: dar cheques às famílias mais pobres. Uma espécie de subsídio de reinserção extraordinário.O poder judicial do voto: tal como Sócrates no último congresso, também Valentim Loureiro apelou aos eleitores que o legitimassem, através do voto, contra os que insinuavam ser corrupto.Inimigos virtuais: há muito que Valentim Loureiro desenvolveu a técnica agora aplicada por Sócrates. Marques Mendes foi o seu inimigo em Gondomar nas últimas eleições. Era Gondomar (ele próprio) contra o “pequenino” que estava lá longe. Mas foi também o caso da personalização em Carlos Teixeira os seus problemas com a Justiça. Sócrates tem feito o mesmo em relação aos inimigos virtuais, como Manuel Alegre, desvalorizando os seus reais adversários e faz o mesmo com o Freeport, apontando inimigos que lhe querem mal, como a TVI ou um denunciante que era político.Relação com a imprensa: como escrevi no meu livro, sobretudo depois de eu ter deixado de ser seu assessor, Valentim Loureiro desatou a processar jornalistas por tudo e por nada. E fez saber que processou.Reacções às acusações: quando foi denunciado publicamente um negócio supostamente criminoso em vésperas de eleições, Valentim Loureiro reagiu numa comunicação aos jornalistas. As suas palavras, que reproduzo no livro, são quase o decalque do que viria Sócrates a dizer quando voltou a estourar, recentemente, o caso Freeport.Subterfúgios e desvios do essencial: como Sócrates, Valentim Loureiro sustentou-se sempre bastante com prescrições, inconstitucionalidades, nulidades das provas, arquivamentos e supostas ilegalidades cometidas por jornalistas e investigadores e mesmo com a origem dos processos (cartas anónimas) para justificar ser vítima de acusações, desviando a opinião pública da discussão essencial: cometeu ou não os actos de que é acusado.Decisões rápidas: um e outro decidem em menos de 5 minutos. Medidas, muitas vezes tomadas em cima do acontecimento e ao sabor das necessidades de comunicação e nem sempre das necessidades das populações. Depois, há o problema dos que têm que colocar em prática aquilo que decidem anunciar na assembleia ou a caminho de uma entrevista.Confusão entre Estado e partido: tal como Sócrates usou imagens recolhidas pelo Ministério da Educação de crianças com o Magalhães no tempo de antena do PS, Valentim Loureiro foi acusado em Gondomar de usar dados e meios da Câmara a favor do seu partido ou da sua candidatura independente.Insurgir-se com as perguntas dos jornalistas: Sócrates mostra-se constantemente “insultado” por lhe perguntarem coisas. Conto no livro várias situações onde expressões que jornalistas usaram em perguntas levaram o Major à indignação quase violenta.Tachos e cunhas: A fama do Major nesta matéria fala por si. No livro, faço uma análise exaustiva da situação, desmontando alguns mitos. Mas não há dúvidas de que a “rede social” montada por Sócrates ao longo dos anos, se assemelha muito à filosofia de Valentim Loureiro, de controlo de lugares e de gestão de poder e influência.Discurso: À medida que vejo Sócrates crispar-se nos seus discursos, recordo-me do Major. No livro conto duas confidências feitas por Sócrates a Valentim e os elogios e admiração confessada em relação a pelo menos dois dos seus discursos.Determinação e coragem: as principais virtudes de um, parecem ser as principais virtudes de outro.Hugo Chaves: há um episódio no livro que titulei "Hugo Chaves vs Valentim Loureiro". A proximidade de Sócrates com o líder da Venezuela é conhecida.Populismo: no livro, comparo medidas de Valentim com medidas de Sócrates. Promessas e propostas que ambos fazem no fio da navalha daquilo que podemos e, por vezes, chamamos populismo, mas que o Major apelida de “populares”.Podia continuar por aqui a fora, comparando ambos, com vários elementos que uso no livro e com base em muitos outros, que não escrevi mas revejo quando oiço Sócrates. A enorme resistência de ambos, a forma como se declaram vítimas e se dizem dispostos a “carregar a cruz”, a linguagem e até a frase “não é assim que me vencem” são traços de uma fórmula que tem dado resultado. Contudo, tal como prevejo para Valentim Loureiro em Gondomar no livro, afirmo-o em relação a José Sócrates: “as próximas eleições não serão tão fáceis como as anteriores”. A “Varinha Mágica” pode estar a avariar.

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