A outra Varinha Mágica: "A Troca" de Moita Flores, o Freeport e os jornalistas

20-05-2009
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Para os que costumam acompanhar “o filme da semana” neste blog, recordo que o último que escolhi foi “A Troca”. Para quem não viu, trata-se de uma adaptação a cinema de uma história real, que se passou em Los Angeles, em 1928. Um sistema policial corrupto que procurava sobretudo controlar a sua imagem e o seu poder, decidiu entregar a uma mãe uma criança, fazendo-a passar pelo seu verdadeiro filho, desaparecido meses antes.A mãe não aceitou a troca, acabando por ser internada e dada como mentalmente desequilibrada. A ideia da polícia era procurar, com uma medida cosmética, entregando o filho de um vagabundo a uma mãe desesperada, fingir dessa forma uma nova realidade e mostrar competência que, na verdade, não tinha.A situação acabaria por se inverter, acabando a mãe por ser libertada, provando-se que o filho não era realmente o seu. Simultaneamente, acaba por se descobrir que havia uma outra explicação para o desaparecimento de crianças e que, por detrás do mistério se escondiam crimes horrendos e inenarráveis.Dois “pormenores” permitiram que a verdade fosse descoberta, os polícias corruptos detidos ou afastados e até que o maior dos criminosos fosse enforcado. O primeiro desses “pormenores” foi a honra e integridade da mãe, a sua força e persistência e a forma como enfrentou um Mundo que parecia cercá-la e não deixar espaço à verdade e nem já à liberdade. O outro “pormenor” foi um homem com um microfone de uma estação de rádio na mão.Volto a lembrar o que em Outubro escrevi no livro “A Varinha Mágica de Valentim Loureiro” sobre o papel da imprensa e do qual extraí alguns breves excertos neste post, para lembrar que não há liberdade nem justiça sem uma imprensa livre, sem homens e mulheres corajosos e sem vontade de lutar.Em três anos como assessor de imprensa de um político sujeito a uma pressão mediática tremenda tive, muitas vezes, de me confrontar com erros de jornalistas (e até da Justiça) e de me adaptar aos vícios e pecados da imprensa nacional, debilitada e depauperada por um conjunto de circunstâncias que dificultam e muito a sua actividade. Mas acabei o livro a agradecer aos jornalistas e à forma como sempre (com raras excepções) nos relacionámos, elogiando os valores e o profissionalismo que muitos continuam a preservar. Fi-lo com sinceridade. Os erros que consigo apontar à imprensa são muitos, mas não consigo imaginar-me sem imprensa, sem jornais, sem televisões e sem os microfones das rádios. E, se calhar, já nem me consigo imaginar sem os erros e vícios que a comunicação social também tem.Podia dizer que não há democracia sem imprensa livre, mas eu vou mais longe: penso que não há país sem imprensa, sem microfones e sem homens e mulheres com coragem. Mesmo que, por vezes, como a mãe do filme “A Troca”, falhem e errem (ela chegou, num primeiro momento, a acreditar que o rapaz era seu filho). Por isso digo: antes uma sociedade que sabe conviver com o erro do que uma sociedade acética, onde errar é proibido ou impossível.Vem isto a propósito de uma crónica ridícula que li no Correio da Manhã, assinada por Moita Flores. Depois das irresponsabilidades e arbitrariedades que o ouvi diariamente dizer nas TV’s a propósito da caso “Madie”, deveria ter, pelo menos, o decoro de não usar o termo “vómito” para definir o trabalho de quem pretende descobrir a verdade por entre uma encruzilhada inqualificável de interesses e dificuldades que, certamente, não foi criada pelos jornalistas ou por quem exige legitimamente saber mais. Nem terá sido criada sequer pelos investigadores, procuradores, juízes que todos os dias, há décadas, oiço queixarem-se de Leis mal feitas, garantistas e aparentemente elaboradas de uma forma que dificulta a procura da verdade.Parece-me até, que o país está divido entre os que querem saber mais e os que não querem saber nada. E Moita Flores parece estar neste último grupo. Ingénuo, contudo, como sempre, não percebe que é nas suas próprias palavras que se descredibiliza e se contradiz, quando, para defender Sócrates, condena um tal de Smith, dando já como adquirido que aquilo que tem lido "revela que o Smith sacou, ou pretendeu sacar, grossas maquias".Voltando ao filme “A Troca”, deixo uma última reflexão que talvez ajude um pouco à compreensão do absurdo que está lançado ao tentar-se, por esta via, dividir-se o país em dois, sendo os “bons” os que querem continuar a ter este mesmo Portugal mesquinho e a preto e branco defendido por Moita Flores e os “maus” os que não se resignam e, supostamente, urdiram uma cabala contra um homem ou (até talvez) contra uma classe. E essa reflexão é a seguinte: o filme “A Troca” passa-se em 1928! Como está atrasado Moita Flores! Junto um link para este artigo de opinião de Mário Crespo no JN e que tem tudo a ver


Para os que costumam acompanhar “o filme da semana” neste blog, recordo que o último que escolhi foi “A Troca”. Para quem não viu, trata-se de uma adaptação a cinema de uma história real, que se passou em Los Angeles, em 1928. Um sistema policial corrupto que procurava sobretudo controlar a sua imagem e o seu poder, decidiu entregar a uma mãe uma criança, fazendo-a passar pelo seu verdadeiro filho, desaparecido meses antes.A mãe não aceitou a troca, acabando por ser internada e dada como mentalmente desequilibrada. A ideia da polícia era procurar, com uma medida cosmética, entregando o filho de um vagabundo a uma mãe desesperada, fingir dessa forma uma nova realidade e mostrar competência que, na verdade, não tinha.A situação acabaria por se inverter, acabando a mãe por ser libertada, provando-se que o filho não era realmente o seu. Simultaneamente, acaba por se descobrir que havia uma outra explicação para o desaparecimento de crianças e que, por detrás do mistério se escondiam crimes horrendos e inenarráveis.Dois “pormenores” permitiram que a verdade fosse descoberta, os polícias corruptos detidos ou afastados e até que o maior dos criminosos fosse enforcado. O primeiro desses “pormenores” foi a honra e integridade da mãe, a sua força e persistência e a forma como enfrentou um Mundo que parecia cercá-la e não deixar espaço à verdade e nem já à liberdade. O outro “pormenor” foi um homem com um microfone de uma estação de rádio na mão.Volto a lembrar o que em Outubro escrevi no livro “A Varinha Mágica de Valentim Loureiro” sobre o papel da imprensa e do qual extraí alguns breves excertos neste post, para lembrar que não há liberdade nem justiça sem uma imprensa livre, sem homens e mulheres corajosos e sem vontade de lutar.Em três anos como assessor de imprensa de um político sujeito a uma pressão mediática tremenda tive, muitas vezes, de me confrontar com erros de jornalistas (e até da Justiça) e de me adaptar aos vícios e pecados da imprensa nacional, debilitada e depauperada por um conjunto de circunstâncias que dificultam e muito a sua actividade. Mas acabei o livro a agradecer aos jornalistas e à forma como sempre (com raras excepções) nos relacionámos, elogiando os valores e o profissionalismo que muitos continuam a preservar. Fi-lo com sinceridade. Os erros que consigo apontar à imprensa são muitos, mas não consigo imaginar-me sem imprensa, sem jornais, sem televisões e sem os microfones das rádios. E, se calhar, já nem me consigo imaginar sem os erros e vícios que a comunicação social também tem.Podia dizer que não há democracia sem imprensa livre, mas eu vou mais longe: penso que não há país sem imprensa, sem microfones e sem homens e mulheres com coragem. Mesmo que, por vezes, como a mãe do filme “A Troca”, falhem e errem (ela chegou, num primeiro momento, a acreditar que o rapaz era seu filho). Por isso digo: antes uma sociedade que sabe conviver com o erro do que uma sociedade acética, onde errar é proibido ou impossível.Vem isto a propósito de uma crónica ridícula que li no Correio da Manhã, assinada por Moita Flores. Depois das irresponsabilidades e arbitrariedades que o ouvi diariamente dizer nas TV’s a propósito da caso “Madie”, deveria ter, pelo menos, o decoro de não usar o termo “vómito” para definir o trabalho de quem pretende descobrir a verdade por entre uma encruzilhada inqualificável de interesses e dificuldades que, certamente, não foi criada pelos jornalistas ou por quem exige legitimamente saber mais. Nem terá sido criada sequer pelos investigadores, procuradores, juízes que todos os dias, há décadas, oiço queixarem-se de Leis mal feitas, garantistas e aparentemente elaboradas de uma forma que dificulta a procura da verdade.Parece-me até, que o país está divido entre os que querem saber mais e os que não querem saber nada. E Moita Flores parece estar neste último grupo. Ingénuo, contudo, como sempre, não percebe que é nas suas próprias palavras que se descredibiliza e se contradiz, quando, para defender Sócrates, condena um tal de Smith, dando já como adquirido que aquilo que tem lido "revela que o Smith sacou, ou pretendeu sacar, grossas maquias".Voltando ao filme “A Troca”, deixo uma última reflexão que talvez ajude um pouco à compreensão do absurdo que está lançado ao tentar-se, por esta via, dividir-se o país em dois, sendo os “bons” os que querem continuar a ter este mesmo Portugal mesquinho e a preto e branco defendido por Moita Flores e os “maus” os que não se resignam e, supostamente, urdiram uma cabala contra um homem ou (até talvez) contra uma classe. E essa reflexão é a seguinte: o filme “A Troca” passa-se em 1928! Como está atrasado Moita Flores! Junto um link para este artigo de opinião de Mário Crespo no JN e que tem tudo a ver

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