A outra Varinha Mágica: “No som espanyols, som catalans!”

21-05-2009
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Há dias, Nicolas Sarkozy, perante a hesitação de Durão Barroso em falar em inglês ou francês, sugeriu-lhe que falasse em português. Evidentemente, tratou-se de uma brincadeira. Mas o episódio não deixa de ser representativo de um estado de alma nacional que se arrasta há demasiados anos e que tende a piorar. Ontem, ouvi uma transmissão directa de uma conferência de imprensa do treinador Josep Guardiola, em Lisboa. O ex-jogador e agora técnico do Barcelona é catalão e respondia a jornalistas maioritariamente portugueses acerca do jogo desta noite contra o Sporting. Ao seu lado, uma tradutora portuguesa traduzia para castelhano as perguntas dos jornalistas portugueses e para português as respostas do espanhol. Até que, o jornalista de uma televisão portuguesa que cobria o “directo” decidiu fazer uma pergunta… em mau castelhano. O paradoxo absoluto aconteceu quando a tradutora, perante uma pergunta de um português feita em castelhano, a traduziu para português, antes de ser respondida pelo catalão, em castelhano e… pois claro, traduzida para português, pela tradutora.Esta "Torre de Babel" inusitadamente inventada ontem no Estádio de Alvalade, reflecte o tal estado de alma a que comecei por me referir e que corrói as entranhas históricas do povo português. É um estado quase mórbido que volta a deslocar o meridiano do Tratado de Tordesilhas para o lado errado do Mundo, afastando-nos cada vez mais daquilo que já deixámos de ser há séculos. E nem sequer é preciso ir muito longe para percebermos como somos ridículos neste provincianismo parolo e bacoco em que caímos quando nos envergonhamos de uma língua que Camões, Pessoa e até Saramago (que vive em Espanha) eternizaram.Quem visitar Barcelona, de onde veio esta magnífica equipa que mais logo defronta o Sporting numa luta desigual, perceberá que já são os catalães muito mais do que este triste e mesquinho povo português. Perceberá que mesmo proibido de falar e escrever a sua língua durante décadas, aquele povo, em poucos anos, recuperou o seu orgulho, a sua voz e encheu as ruas, os jornais, as escolas, as rádios e as televisões com as suas palavras esquisitas e que só por lá se falam. Mesmo sem terem no Mundo, como nós, dezenas de milhões em todos os Continentes preparados para os entenderem, recuperaram o seu catalão.Recordei, ao ouvir ontem a triste figura do jornalista português, um episódio que uma vez vivi quando fazia uma reportagem em Barcelona. Perante a ajuda de vários colegas locais, agradeci-lhes:- Vocês, os espanhóis, sabem receber, obrigado!Do lado de lá, numa só voz, percebi o orgulho ferido na resposta que me deram:- No som espanyols, som catalans!


Há dias, Nicolas Sarkozy, perante a hesitação de Durão Barroso em falar em inglês ou francês, sugeriu-lhe que falasse em português. Evidentemente, tratou-se de uma brincadeira. Mas o episódio não deixa de ser representativo de um estado de alma nacional que se arrasta há demasiados anos e que tende a piorar. Ontem, ouvi uma transmissão directa de uma conferência de imprensa do treinador Josep Guardiola, em Lisboa. O ex-jogador e agora técnico do Barcelona é catalão e respondia a jornalistas maioritariamente portugueses acerca do jogo desta noite contra o Sporting. Ao seu lado, uma tradutora portuguesa traduzia para castelhano as perguntas dos jornalistas portugueses e para português as respostas do espanhol. Até que, o jornalista de uma televisão portuguesa que cobria o “directo” decidiu fazer uma pergunta… em mau castelhano. O paradoxo absoluto aconteceu quando a tradutora, perante uma pergunta de um português feita em castelhano, a traduziu para português, antes de ser respondida pelo catalão, em castelhano e… pois claro, traduzida para português, pela tradutora.Esta "Torre de Babel" inusitadamente inventada ontem no Estádio de Alvalade, reflecte o tal estado de alma a que comecei por me referir e que corrói as entranhas históricas do povo português. É um estado quase mórbido que volta a deslocar o meridiano do Tratado de Tordesilhas para o lado errado do Mundo, afastando-nos cada vez mais daquilo que já deixámos de ser há séculos. E nem sequer é preciso ir muito longe para percebermos como somos ridículos neste provincianismo parolo e bacoco em que caímos quando nos envergonhamos de uma língua que Camões, Pessoa e até Saramago (que vive em Espanha) eternizaram.Quem visitar Barcelona, de onde veio esta magnífica equipa que mais logo defronta o Sporting numa luta desigual, perceberá que já são os catalães muito mais do que este triste e mesquinho povo português. Perceberá que mesmo proibido de falar e escrever a sua língua durante décadas, aquele povo, em poucos anos, recuperou o seu orgulho, a sua voz e encheu as ruas, os jornais, as escolas, as rádios e as televisões com as suas palavras esquisitas e que só por lá se falam. Mesmo sem terem no Mundo, como nós, dezenas de milhões em todos os Continentes preparados para os entenderem, recuperaram o seu catalão.Recordei, ao ouvir ontem a triste figura do jornalista português, um episódio que uma vez vivi quando fazia uma reportagem em Barcelona. Perante a ajuda de vários colegas locais, agradeci-lhes:- Vocês, os espanhóis, sabem receber, obrigado!Do lado de lá, numa só voz, percebi o orgulho ferido na resposta que me deram:- No som espanyols, som catalans!

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