A outra Varinha Mágica: Portugueses "podem" estar infectados ou uma reflexão sobre o jornalismo

20-05-2009
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A proposito disto, permitam-me contar uma história:Em 1997 fui ao III Congresso dos Jornalistas Portugueses. Decorreu na Culturgest, em Lisboa. Entre as enormes dificuldades que os jornalistas tiverem em comunicar uns com os outros – o que não deixa de ser paradoxal – uma comunicação ficou-me na memória. Um jornalista correspondente de uma televisão no estrangeiro contou uma história passada consigo quando trabalhava numa rádio. Teria havido um acidente aéreo na Índia e a notícia da queda começava a fazer “papel” nas agências noticiosas. Com base nos “takes” das agências, o jornalista fez a notícia. Contudo, ao ouvir uma rádio concorrente, escutou: “pode haver portugueses entre as vítimas”. Contou o jornalista que, a partir daí, tentou por todos os meios confirmar a informação, mas todas as fontes negavam a existência de qualquer indício da presença de portugueses naquele voo. No noticiário seguinte, contudo, a tal rádio concorrente voltava a difundir a mesma informação: “pode haver portugueses entre as vítimas”. Desesperado com a origem de tal dado, o “nosso” jornalista ligou para o colega da concorrência e perguntou-lhe se se importava de lhe dizer onde tinha ido buscar tal informação. Do outro lado, a resposta: “portugueses PODEM sempre estar entre as vítimas de QUALQUER acidente aéreo em qualquer parte do Mundo. Como ainda ninguém nos disse qual a nacionalidade dos ocupantes, então, PODEM estar portugueses entre as vítimas”.Esta confusão entre a hipótese e a verdade é muito comum no jornalismo em Portugal. É uma confusão de morte para a profissão. Mata o jornalismo e pode ter consequência graves se não percebermos que quem lê e ouve as notícias são pessoas. E é muitas vezes por causa de confusões destas que o jornalismo dá a alguns o direito de continuarem a passar entre as “gotas da chuva”, quando as notícias realmente são verdadeiras, rigorosas e se consubstanciam na verdade que não lhes é conveniente. E é pena que assim seja.


A proposito disto, permitam-me contar uma história:Em 1997 fui ao III Congresso dos Jornalistas Portugueses. Decorreu na Culturgest, em Lisboa. Entre as enormes dificuldades que os jornalistas tiverem em comunicar uns com os outros – o que não deixa de ser paradoxal – uma comunicação ficou-me na memória. Um jornalista correspondente de uma televisão no estrangeiro contou uma história passada consigo quando trabalhava numa rádio. Teria havido um acidente aéreo na Índia e a notícia da queda começava a fazer “papel” nas agências noticiosas. Com base nos “takes” das agências, o jornalista fez a notícia. Contudo, ao ouvir uma rádio concorrente, escutou: “pode haver portugueses entre as vítimas”. Contou o jornalista que, a partir daí, tentou por todos os meios confirmar a informação, mas todas as fontes negavam a existência de qualquer indício da presença de portugueses naquele voo. No noticiário seguinte, contudo, a tal rádio concorrente voltava a difundir a mesma informação: “pode haver portugueses entre as vítimas”. Desesperado com a origem de tal dado, o “nosso” jornalista ligou para o colega da concorrência e perguntou-lhe se se importava de lhe dizer onde tinha ido buscar tal informação. Do outro lado, a resposta: “portugueses PODEM sempre estar entre as vítimas de QUALQUER acidente aéreo em qualquer parte do Mundo. Como ainda ninguém nos disse qual a nacionalidade dos ocupantes, então, PODEM estar portugueses entre as vítimas”.Esta confusão entre a hipótese e a verdade é muito comum no jornalismo em Portugal. É uma confusão de morte para a profissão. Mata o jornalismo e pode ter consequência graves se não percebermos que quem lê e ouve as notícias são pessoas. E é muitas vezes por causa de confusões destas que o jornalismo dá a alguns o direito de continuarem a passar entre as “gotas da chuva”, quando as notícias realmente são verdadeiras, rigorosas e se consubstanciam na verdade que não lhes é conveniente. E é pena que assim seja.

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