A outra Varinha Mágica: A teimosia dos burros e os treinadores de futebol

20-05-2009
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Fiz parte da minha instrução primária numa aldeia do interior, o que me habilita a ter de certos animais um conhecimento acima da média. Daí que saiba o que leva o povo a dizer que “os burros são teimosos”. Ensinou-me o meu avô, quando íamos à horta buscar fruta, que o burro que levávamos para nos ajudar a transportar as maçãs e as laranjas nunca se enganava no caminho de regresso. E provou-mo quando, para me demonstrar (e educar) como se comporta um burro, tentou trazer o animal de carga por caminho diferente daquele que levámos na ida. O burro contorce-se, revolta-se e puxa para o caminho que acha certo, que é, afinal, sempre o mesmo: o regresso ao palheiro. É por isso que chamamos “teimosos” aos burros e se diz, quando alguém não quer ver a evidência e insiste numa ideia estafada: “És mais teimoso que um burro”.Esta característica do burro traz algumas vantagens ao animal. No fundo, funciona como uma espécie de GPS ancestral, que lhe permite regressar ao palheiro. Mas reconheça-se que em matéria de desenvolvimento é muito limitativo. Sobretudo, porque à teimosia do burro, temos que somar-lhe a burrice natural, que lhe dá o nome. Se o palheiro estiver a arder, é para lá que ele vai, na mesma. Vem daí o termo “burro” aplicado aos humanos, quando queremos dizer de alguém, que é mais do que limitado: faz por ser e assim quer continuar.Agora, uma coisa completamente diferente e que nada tem a ver com a questão do burro: hoje vi um jogo de futebol na TV. Uma das equipas foi claramente prejudicada por um árbitro oftalmologicamente deficiente que, a dois metros de uma jogada, não conseguiu ver que um jogador se atirou para o chão, marcando um penaltie que não existiu e tirando toda a piada à competição. O costume, portanto!O que me leva a escrever este post está relacionado com as declarações dos treinadores, na conferência de imprensa final. De um lado, ouvi um senhor que não me pareceu nada um treinador. Tinha um nome primaveril e falava como uma pessoa perfeitamente normal, sensata, inteligente, civilizada e educada e nem sequer perdeu a "tempera" pelo facto do árbitro lhe ter estragado a festa.Do outro, ouvi um “professor” (ouvi dizer na rádio que apenas é "doutor"), que seguiu o caminho de sempre dos treinadores. Teimosamente, vendo que caminham para um beco sem saída em que se está a transformar uma modalidade que o público começa a abandonar, insistem em regressar ao palheiro pelo mesmo carreiro do passado.Não ver para os lados, não reconhecer caminhos alternativos às mesmas frases estafadas, revoltar-se quando alguém “puxa por ele” e, sobretudo, abster-se de pensar, são atributos de “burro”… mesmo que carregado de livros, lhe chamemos "professor".


Fiz parte da minha instrução primária numa aldeia do interior, o que me habilita a ter de certos animais um conhecimento acima da média. Daí que saiba o que leva o povo a dizer que “os burros são teimosos”. Ensinou-me o meu avô, quando íamos à horta buscar fruta, que o burro que levávamos para nos ajudar a transportar as maçãs e as laranjas nunca se enganava no caminho de regresso. E provou-mo quando, para me demonstrar (e educar) como se comporta um burro, tentou trazer o animal de carga por caminho diferente daquele que levámos na ida. O burro contorce-se, revolta-se e puxa para o caminho que acha certo, que é, afinal, sempre o mesmo: o regresso ao palheiro. É por isso que chamamos “teimosos” aos burros e se diz, quando alguém não quer ver a evidência e insiste numa ideia estafada: “És mais teimoso que um burro”.Esta característica do burro traz algumas vantagens ao animal. No fundo, funciona como uma espécie de GPS ancestral, que lhe permite regressar ao palheiro. Mas reconheça-se que em matéria de desenvolvimento é muito limitativo. Sobretudo, porque à teimosia do burro, temos que somar-lhe a burrice natural, que lhe dá o nome. Se o palheiro estiver a arder, é para lá que ele vai, na mesma. Vem daí o termo “burro” aplicado aos humanos, quando queremos dizer de alguém, que é mais do que limitado: faz por ser e assim quer continuar.Agora, uma coisa completamente diferente e que nada tem a ver com a questão do burro: hoje vi um jogo de futebol na TV. Uma das equipas foi claramente prejudicada por um árbitro oftalmologicamente deficiente que, a dois metros de uma jogada, não conseguiu ver que um jogador se atirou para o chão, marcando um penaltie que não existiu e tirando toda a piada à competição. O costume, portanto!O que me leva a escrever este post está relacionado com as declarações dos treinadores, na conferência de imprensa final. De um lado, ouvi um senhor que não me pareceu nada um treinador. Tinha um nome primaveril e falava como uma pessoa perfeitamente normal, sensata, inteligente, civilizada e educada e nem sequer perdeu a "tempera" pelo facto do árbitro lhe ter estragado a festa.Do outro, ouvi um “professor” (ouvi dizer na rádio que apenas é "doutor"), que seguiu o caminho de sempre dos treinadores. Teimosamente, vendo que caminham para um beco sem saída em que se está a transformar uma modalidade que o público começa a abandonar, insistem em regressar ao palheiro pelo mesmo carreiro do passado.Não ver para os lados, não reconhecer caminhos alternativos às mesmas frases estafadas, revoltar-se quando alguém “puxa por ele” e, sobretudo, abster-se de pensar, são atributos de “burro”… mesmo que carregado de livros, lhe chamemos "professor".

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