A outra Varinha Mágica: Uma história verídica

20-05-2009
marcar artigo


Há mais de dez anos, estava António Guterres no poder, e eu trabalhava num jornal diário. Escrevia com frequência sobre automobilismo e questionava-me sobre os meios de que dispunham pilotos portugueses no estrangeiro. Um deles, possuía grandes patrocinadores estatais, com empresas públicas detentoras de monopólios de distribuição de serviços de primeira necessidade em Portugal a “pintarem” o seu carro. Mas resultados… não conseguia. Outros, quase sem patrocinadores, iam fazendo “milagres” ou desistindo das suas carreiras. Um dos pilotos que sofreu um revés na carreira, por falta de apoios, foi Pedro Lamy – hoje unanimemente tido como o melhor piloto português de todos os tempos. Contudo, um outro piloto parecia “cavar” patrocínios em tudo o que era empresa do Estado.Lamy tinha aparecido a apoiar a campanha eleitoral do PSD, esse outro piloto “sortudo” tinha apoiado a do PS. Numa página de opinião desse jornal, em poucas linhas, questionei a situação, fazendo uma alusão ao tema “jobs for de boys”, então em voga. O resultado foi uma chamada ao gabinete do director que acabaria por confessar ter recebido uns telefonemas de “pessoas importantes” e me questionava sobre se "isto é bom para o jornal". Vim a saber que o piloto em causa tinha um pai no Parlamento e um padrinho ainda mais acima. Como mantive a minha postura de jornalista apenas comprometido com a verdade, escrevendo dias depois que esse piloto continuava a fazer péssimos resultados, fui de novo chamado. À mesa encontrei então um director do jornal, um editor, o piloto, o agente do piloto e o assessor de imprensa do piloto. Durante três horas tentaram provar que eu nada entendia de desporto, de jornalismo e de patrocínios. No final, quando pude falar disse na cara do piloto o que entendia ao a sua carreira: “se fores para a Fórmula 1, tenho vergonha como português. És um piloto banal, que nunca ganhou uma corrida e que tem patrocinadores por motivos diferentes dos do mérito e eu, sabendo disso, senti-me obrigado a escrevê-lo”. O piloto até parece ter aceite bem as minhas críticas mas, na primeira oportunidade, o director do jornal “dispensou” os meus serviços. Não processei esse jornal e dias depois era chefe de redacção de um outro. Mas a verdade é que hoje me arrependo de não ter levado até à Justiça aquele caso.Estou, há anos, afastado do automobilismo. Mas ontem, dei com esta foto de um piloto português patrocinado pelo… Magalhães. E pergunto-me:Quem paga isto?Porque paga?Que interesse existirá para quem paga, anunciar o Magalhães no estrangeiro, onde este piloto compete?O piloto é muito bom, pelo que dizem. Merecerá certamente todos os apoios. Mas pergunto: continuará, como há 12 anos, a haver “pilotos do Regime”? Continuarão a servir os negócios do Estado para alimentar determinadas clientelas? Não! Quero crer que não. Além disso, já nem se pressionam jornalistas a omitirem verdade, pois não?


Há mais de dez anos, estava António Guterres no poder, e eu trabalhava num jornal diário. Escrevia com frequência sobre automobilismo e questionava-me sobre os meios de que dispunham pilotos portugueses no estrangeiro. Um deles, possuía grandes patrocinadores estatais, com empresas públicas detentoras de monopólios de distribuição de serviços de primeira necessidade em Portugal a “pintarem” o seu carro. Mas resultados… não conseguia. Outros, quase sem patrocinadores, iam fazendo “milagres” ou desistindo das suas carreiras. Um dos pilotos que sofreu um revés na carreira, por falta de apoios, foi Pedro Lamy – hoje unanimemente tido como o melhor piloto português de todos os tempos. Contudo, um outro piloto parecia “cavar” patrocínios em tudo o que era empresa do Estado.Lamy tinha aparecido a apoiar a campanha eleitoral do PSD, esse outro piloto “sortudo” tinha apoiado a do PS. Numa página de opinião desse jornal, em poucas linhas, questionei a situação, fazendo uma alusão ao tema “jobs for de boys”, então em voga. O resultado foi uma chamada ao gabinete do director que acabaria por confessar ter recebido uns telefonemas de “pessoas importantes” e me questionava sobre se "isto é bom para o jornal". Vim a saber que o piloto em causa tinha um pai no Parlamento e um padrinho ainda mais acima. Como mantive a minha postura de jornalista apenas comprometido com a verdade, escrevendo dias depois que esse piloto continuava a fazer péssimos resultados, fui de novo chamado. À mesa encontrei então um director do jornal, um editor, o piloto, o agente do piloto e o assessor de imprensa do piloto. Durante três horas tentaram provar que eu nada entendia de desporto, de jornalismo e de patrocínios. No final, quando pude falar disse na cara do piloto o que entendia ao a sua carreira: “se fores para a Fórmula 1, tenho vergonha como português. És um piloto banal, que nunca ganhou uma corrida e que tem patrocinadores por motivos diferentes dos do mérito e eu, sabendo disso, senti-me obrigado a escrevê-lo”. O piloto até parece ter aceite bem as minhas críticas mas, na primeira oportunidade, o director do jornal “dispensou” os meus serviços. Não processei esse jornal e dias depois era chefe de redacção de um outro. Mas a verdade é que hoje me arrependo de não ter levado até à Justiça aquele caso.Estou, há anos, afastado do automobilismo. Mas ontem, dei com esta foto de um piloto português patrocinado pelo… Magalhães. E pergunto-me:Quem paga isto?Porque paga?Que interesse existirá para quem paga, anunciar o Magalhães no estrangeiro, onde este piloto compete?O piloto é muito bom, pelo que dizem. Merecerá certamente todos os apoios. Mas pergunto: continuará, como há 12 anos, a haver “pilotos do Regime”? Continuarão a servir os negócios do Estado para alimentar determinadas clientelas? Não! Quero crer que não. Além disso, já nem se pressionam jornalistas a omitirem verdade, pois não?

marcar artigo