Socialistas dão sinais de vida

15-02-2008
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PS

Socialistas dão sinais de vida

A (pelo menos) cinco anos de distância, começam a mexer-se as pedras do xadrez da sucessão de Sócrates FOTO LUIZ CARVALHO

«Eppur si muove!...». E, no entanto, move-se. A frase atribuída a Galileu pode bem aplicar-se ao PS. ‘Anestesiado’ há já quase três anos pela maioria absoluta, o partido que gravita em redor do Governo dá finalmente sinais de vida. «Eppur si muove!...». E, no entanto, move-se. A frase atribuída a Galileu pode bem aplicar-se ao PS. ‘Anestesiado’ há já quase três anos pela maioria absoluta, o partido que gravita em redor do Governo dá finalmente sinais de vida. Há duas semanas, Ferro Rodrigues quebrou o silêncio a que se remetera desde que deixou a liderança do PS, em 2004. Numa entrevista à ‘Visão’, o actual embaixador na OCDE fez as pazes com Sampaio (“passámos demasiadas coisas juntos”), elogiou Guterres (“permitiu a milhões de portugueses ascender à classe média”) e secundou Sócrates (“hoje não há esquerda se não for reformista”). Não conteve, porém, a crítica que faria os títulos da entrevista e das notícias sobre ela: quando se pedem sacrifícios à classe média, “é indispensável que isso se faça com menos arrogância e mais humildade”. Na leitura de uns, Ferro quis assim ficar de bem ‘com Deus e com o Diabo’, quem sabe se num ensaio precoce de uma candidatura presidencial (porventura já em 2011, sinalizando a sua disponibilidade para a verdadeira disputa, cinco anos depois). Na leitura de outros, não quis mais do que fazer prova de vida e dar o seu contributo para agitar as águas que mesmo membros da actual direcção socialista consideram já ser tempo de deixarem de estar paradas. Seguiu-se-lhe António José Seguro. O discreto deputado por Braga saiu do recato a que voluntariamente se remetera desde 2005 (quando levantou a voz contra o aumento do IVA) para voltar a divergir da linha oficial, desta vez quanto à não convocação do referendo ao Tratado de Lisboa. Sem querer assumir-se como rosto de uma oposição interna que sabe ser demasiado cedo para se afirmar (a verdade é que não se lhe ouviu uma palavra pública sobre o assunto, nem se confirmou o rumor de que poderia apresentar uma declaração de voto na moção de censura do BE discutida esta semana na AR), é de crer que Seguro aproveite o embalo ganho com o episódio para ir fazendo o seu caminho rumo a uma disputa pela sucessão de Sócrates... eventualmente contra António Costa. Coincidência (ou talvez não), soube-se ainda esta semana que Costa convidou para seu chefe de gabinete em Lisboa o antigo número dois de Narciso Miranda na Câmara de Matosinhos, Manuel Seabra. Amigo de Seguro desde o tempo em que este liderava a JS, Seabra é uma peça influente na secção de Matosinhos, uma das mais importantes no xadrez eleitoral interno. Na mesma semana também Manuel Maria Carrilho voltou a ser notícia, pelo regresso às crónicas semanais no ‘Diário de Notícias’. E Manuel Alegre, não obstante ter estado ao lado de Sócrates na questão do referendo, subscreveu um abaixo-assinado do BE contra a política de saúde de Correia de Campos e anunciou uma reunião do (seu) Movimento Democracia e Liberdade para Fevereiro, com o objectivo de reflectir sobre o futuro do movimento que, nas presidenciais de 2005, conquistou mais de um milhão de votos. Nada que faça perder o sono a Sócrates. A menos de dois anos de umas legislativas que há muito quem pense estão antecipadamente ganhas, o secretário-geral socialista sabe que o perigo que corre pelo ‘ressuscitar’ do debate interno no PS é praticamente nulo. Para já, até o alivia: ninguém voltará a dizer tão depressa que o seu projecto de poder liquidou o PS.

Cristina Figueiredo

Ferro Rodrigues ‘Exilado’ em Paris desde 2005, como embaixador na OCDE, fez prova de vida com uma entrevista onde aconselha o Governo (ou parte dele) a moderar a arrogância mas, ao mesmo tempo, se distancia da esquerda conservadora - com que em tempos se identificava - para, de certa forma, aplaudir as políticas reformistas de Sócrates. Se está ou não a posicionar-se para um eventual regresso à política nacional (de que, para já, garante não ter saudades), quem sabe se numas próximas presidenciais, só o futuro dirá.

António José Seguro Podia ter disputado a liderança do PS em 2004. Essa oportunidade perdeu-se mas o homem discreto de Penamacor, distrito de Castelo Branco (o mesmo de Guterres e de Sócrates), vem demonstrando ao longo da sua paulatina carreira política que paciência é uma das suas virtudes. Aos 46 anos, cinco anos mais novo que o actual secretário-geral, estará a avaliar as condições para se fazer a um caminho que muito provavelmente o levará ao confronto com António Costa. Para já, porém, o 'céu' pode esperar.

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Socialistas dão sinais de vida

A (pelo menos) cinco anos de distância, começam a mexer-se as pedras do xadrez da sucessão de Sócrates FOTO LUIZ CARVALHO

«Eppur si muove!...». E, no entanto, move-se. A frase atribuída a Galileu pode bem aplicar-se ao PS. ‘Anestesiado’ há já quase três anos pela maioria absoluta, o partido que gravita em redor do Governo dá finalmente sinais de vida. «Eppur si muove!...». E, no entanto, move-se. A frase atribuída a Galileu pode bem aplicar-se ao PS. ‘Anestesiado’ há já quase três anos pela maioria absoluta, o partido que gravita em redor do Governo dá finalmente sinais de vida. Há duas semanas, Ferro Rodrigues quebrou o silêncio a que se remetera desde que deixou a liderança do PS, em 2004. Numa entrevista à ‘Visão’, o actual embaixador na OCDE fez as pazes com Sampaio (“passámos demasiadas coisas juntos”), elogiou Guterres (“permitiu a milhões de portugueses ascender à classe média”) e secundou Sócrates (“hoje não há esquerda se não for reformista”). Não conteve, porém, a crítica que faria os títulos da entrevista e das notícias sobre ela: quando se pedem sacrifícios à classe média, “é indispensável que isso se faça com menos arrogância e mais humildade”. Na leitura de uns, Ferro quis assim ficar de bem ‘com Deus e com o Diabo’, quem sabe se num ensaio precoce de uma candidatura presidencial (porventura já em 2011, sinalizando a sua disponibilidade para a verdadeira disputa, cinco anos depois). Na leitura de outros, não quis mais do que fazer prova de vida e dar o seu contributo para agitar as águas que mesmo membros da actual direcção socialista consideram já ser tempo de deixarem de estar paradas. Seguiu-se-lhe António José Seguro. O discreto deputado por Braga saiu do recato a que voluntariamente se remetera desde 2005 (quando levantou a voz contra o aumento do IVA) para voltar a divergir da linha oficial, desta vez quanto à não convocação do referendo ao Tratado de Lisboa. Sem querer assumir-se como rosto de uma oposição interna que sabe ser demasiado cedo para se afirmar (a verdade é que não se lhe ouviu uma palavra pública sobre o assunto, nem se confirmou o rumor de que poderia apresentar uma declaração de voto na moção de censura do BE discutida esta semana na AR), é de crer que Seguro aproveite o embalo ganho com o episódio para ir fazendo o seu caminho rumo a uma disputa pela sucessão de Sócrates... eventualmente contra António Costa. Coincidência (ou talvez não), soube-se ainda esta semana que Costa convidou para seu chefe de gabinete em Lisboa o antigo número dois de Narciso Miranda na Câmara de Matosinhos, Manuel Seabra. Amigo de Seguro desde o tempo em que este liderava a JS, Seabra é uma peça influente na secção de Matosinhos, uma das mais importantes no xadrez eleitoral interno. Na mesma semana também Manuel Maria Carrilho voltou a ser notícia, pelo regresso às crónicas semanais no ‘Diário de Notícias’. E Manuel Alegre, não obstante ter estado ao lado de Sócrates na questão do referendo, subscreveu um abaixo-assinado do BE contra a política de saúde de Correia de Campos e anunciou uma reunião do (seu) Movimento Democracia e Liberdade para Fevereiro, com o objectivo de reflectir sobre o futuro do movimento que, nas presidenciais de 2005, conquistou mais de um milhão de votos. Nada que faça perder o sono a Sócrates. A menos de dois anos de umas legislativas que há muito quem pense estão antecipadamente ganhas, o secretário-geral socialista sabe que o perigo que corre pelo ‘ressuscitar’ do debate interno no PS é praticamente nulo. Para já, até o alivia: ninguém voltará a dizer tão depressa que o seu projecto de poder liquidou o PS.

Cristina Figueiredo

Ferro Rodrigues ‘Exilado’ em Paris desde 2005, como embaixador na OCDE, fez prova de vida com uma entrevista onde aconselha o Governo (ou parte dele) a moderar a arrogância mas, ao mesmo tempo, se distancia da esquerda conservadora - com que em tempos se identificava - para, de certa forma, aplaudir as políticas reformistas de Sócrates. Se está ou não a posicionar-se para um eventual regresso à política nacional (de que, para já, garante não ter saudades), quem sabe se numas próximas presidenciais, só o futuro dirá.

António José Seguro Podia ter disputado a liderança do PS em 2004. Essa oportunidade perdeu-se mas o homem discreto de Penamacor, distrito de Castelo Branco (o mesmo de Guterres e de Sócrates), vem demonstrando ao longo da sua paulatina carreira política que paciência é uma das suas virtudes. Aos 46 anos, cinco anos mais novo que o actual secretário-geral, estará a avaliar as condições para se fazer a um caminho que muito provavelmente o levará ao confronto com António Costa. Para já, porém, o 'céu' pode esperar.

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