O CACIMBO: Mercados

08-07-2009
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– Ora, ora, viva o meu amigo! Então por aqui parado à espera que chova por estas bandas?– Exclama o Miller surpreendido.– Pois...veja o Senhor Miller: há tantos anos que vivo aqui, no sopé do Monte da Lua e nunca tinha feito uma visita ao interior do Palácio da Vila. É sempre assim, casa de ferreiro espeto de pau. – Responde o Aselha do Mar.- Ah! Ah! Muito engraçados esses vossos provérbios e muito boa ideia, essa de viajar dentro do próprio quintal. Eu já lá fui quando cheguei a Portugal há muitos anos...- responde o Miller numa mistura de ironia com cortesia.-Aí é que está! Acabei de saber que, afinal, hoje está encerrado. Assim...acho que vou na mesma até à Vila, ver como está o mercado... – Conta o Aselha.-O mercado? Qual deles o de capitais?! Pergunta sorridente e brincalhão o estrangeiro de rosto sardo e olhos azuis clarinhos.- Não, Não! Por enquanto não me meto nisso...- diz receoso o Aselha.- Eh! Eh! Não? Não me diga que não lhe interessam os negócios, os mercados líderes e as questões globais...-De facto, Senhor Miller, esses mercados de gravatas, acções e outras tentações nem sempre são fáceis e o perigo de o nagalho se partir porque se apostou no cavalo errado é enorme. É preciso ter muita arte para se ser líder com esta concorrência! Olhe...talvez se exija tanta competência como aquela que lançou para o mundo as palavras de Byron e os quadros do Van Gogh. Não me meto nisso...O Senhor lá sabe desses assuntos empresariais. Eu vou fazer uma incursão ao mercado abastecedor. A ver se arranjo umas sementes de girassol, algumas nabiças, alfaces que não tenham perdido o aroma natural na arca congeladora do hipermercado e, talvez, um pé de laranjeira para aumentar o pomar.- Muito bem. Mas veja lá, deveria interessar-se por outros mercados. Nos tempos actuais, o musgo da serra e as palavras de Byron não são produtos bem cotados como sabe....Apesar do alarido que se tem sentido nos mercados ambientais, sobre os benefícios dos líquenes na alimentação dos homens, tenho cá as minhas dúvidas. Bem, vou andando que se faz tarde e ainda acabam os jornais. Faça boa feira e tenha atenção aos valores na bolsa. Não desvalorize a arte da compra e da venda e tenha em conta os empréstimos forçados. – Despediu-se o estrangeiro com um aceno discreto desaparecendo na bruma da Várzea. O Miller lá foi para as bandas do quiosque dos jornais. Naturalmente foi comprar o Expresso, o Financial Times, o Diário Económico, talvez outros semanários e um pacote de Amphora Full Aroma para o Peterson. A seguir tomará algo no Café da Ponte e voltará ao volante do seu Jaguar para a casa apalaçada, escondida no manto verde da Serra. Passará uma tarde distinta sentado na poltrona colocada em frente da lareira da sala a meditar nas melhores estratégias de compra e venda de capitais.O Aselha do Mar tomou o eléctrico e sentou-se perto da janela para poder sentir o ar puro e húmido da manhã. Até chegar aos pintos e às bancas das alfaces, dos frascos de mel, das azeitonas, dos tremoços e outros aromas do mercado municipal, aproveitou para respirar os odores da terra e da natureza. Numa lassidão de ternura deixou-se roçar pelas folhas triangulares dos plátanos inclinados sobre a linha.Voltará no mesmo eléctrico, a respirar o aroma aveludado e mágico que combina cheiros de saloios, fumos das chaminés e outros bálsamos rurais. Quererá memorizar os perfumes das heras e das buganvílias entrelaçadas nas muralhas antigas. Guardará ainda, antes de chegar à sua Casa Sobre o Mar, os salpicos de musgos verdes fundidos e confundidos nos recantos sombrios e nos retalhos de luz daquele mercado único.


– Ora, ora, viva o meu amigo! Então por aqui parado à espera que chova por estas bandas?– Exclama o Miller surpreendido.– Pois...veja o Senhor Miller: há tantos anos que vivo aqui, no sopé do Monte da Lua e nunca tinha feito uma visita ao interior do Palácio da Vila. É sempre assim, casa de ferreiro espeto de pau. – Responde o Aselha do Mar.- Ah! Ah! Muito engraçados esses vossos provérbios e muito boa ideia, essa de viajar dentro do próprio quintal. Eu já lá fui quando cheguei a Portugal há muitos anos...- responde o Miller numa mistura de ironia com cortesia.-Aí é que está! Acabei de saber que, afinal, hoje está encerrado. Assim...acho que vou na mesma até à Vila, ver como está o mercado... – Conta o Aselha.-O mercado? Qual deles o de capitais?! Pergunta sorridente e brincalhão o estrangeiro de rosto sardo e olhos azuis clarinhos.- Não, Não! Por enquanto não me meto nisso...- diz receoso o Aselha.- Eh! Eh! Não? Não me diga que não lhe interessam os negócios, os mercados líderes e as questões globais...-De facto, Senhor Miller, esses mercados de gravatas, acções e outras tentações nem sempre são fáceis e o perigo de o nagalho se partir porque se apostou no cavalo errado é enorme. É preciso ter muita arte para se ser líder com esta concorrência! Olhe...talvez se exija tanta competência como aquela que lançou para o mundo as palavras de Byron e os quadros do Van Gogh. Não me meto nisso...O Senhor lá sabe desses assuntos empresariais. Eu vou fazer uma incursão ao mercado abastecedor. A ver se arranjo umas sementes de girassol, algumas nabiças, alfaces que não tenham perdido o aroma natural na arca congeladora do hipermercado e, talvez, um pé de laranjeira para aumentar o pomar.- Muito bem. Mas veja lá, deveria interessar-se por outros mercados. Nos tempos actuais, o musgo da serra e as palavras de Byron não são produtos bem cotados como sabe....Apesar do alarido que se tem sentido nos mercados ambientais, sobre os benefícios dos líquenes na alimentação dos homens, tenho cá as minhas dúvidas. Bem, vou andando que se faz tarde e ainda acabam os jornais. Faça boa feira e tenha atenção aos valores na bolsa. Não desvalorize a arte da compra e da venda e tenha em conta os empréstimos forçados. – Despediu-se o estrangeiro com um aceno discreto desaparecendo na bruma da Várzea. O Miller lá foi para as bandas do quiosque dos jornais. Naturalmente foi comprar o Expresso, o Financial Times, o Diário Económico, talvez outros semanários e um pacote de Amphora Full Aroma para o Peterson. A seguir tomará algo no Café da Ponte e voltará ao volante do seu Jaguar para a casa apalaçada, escondida no manto verde da Serra. Passará uma tarde distinta sentado na poltrona colocada em frente da lareira da sala a meditar nas melhores estratégias de compra e venda de capitais.O Aselha do Mar tomou o eléctrico e sentou-se perto da janela para poder sentir o ar puro e húmido da manhã. Até chegar aos pintos e às bancas das alfaces, dos frascos de mel, das azeitonas, dos tremoços e outros aromas do mercado municipal, aproveitou para respirar os odores da terra e da natureza. Numa lassidão de ternura deixou-se roçar pelas folhas triangulares dos plátanos inclinados sobre a linha.Voltará no mesmo eléctrico, a respirar o aroma aveludado e mágico que combina cheiros de saloios, fumos das chaminés e outros bálsamos rurais. Quererá memorizar os perfumes das heras e das buganvílias entrelaçadas nas muralhas antigas. Guardará ainda, antes de chegar à sua Casa Sobre o Mar, os salpicos de musgos verdes fundidos e confundidos nos recantos sombrios e nos retalhos de luz daquele mercado único.

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