O CACIMBO: Portugal e a situação na Guiné-Bissau

08-07-2009
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O Governo português acaba de anunciar que está pronto a apoiar a Guiné-Bissau em tudo o que seja necessário para manter a”ordem pública” naquele país, sem que – ao que se saiba – as autoridades guineenses o tenham pedido. Simultaneamente, também foi anunciado que, a comunidade portuguesa residente em Bissau, não esteve envolvida nem foi afectada pelos acontecimentos que levaram aos assassinatos do Chefe do Estado Maior das Forças Armadas e do Presidente da República. O primeiro, através de uma atentado à bomba, pelas 20H00 de ontem e, o segundo, pelas 4 horas da madrugada de hoje, quando a residência de Nino Vieira foi atacada por forças do exército guineense. Sabendo-se que ainda nenhuma organização internacional – da Organização de Unidade Africana, à ONU, passando pela CPLP – ainda não levantou essa hipótese, estranha-se o voluntarismo do governo português. Nesse comunicado, o Governo português indica que vai convocar nas próximas horas uma reunião de emergência da Comunidade Portuguesa de Língua Portuguesa (CPLP) para debater os acontecimentos na Guiné-Bissau. Também esta “convocação” nos parece estranha, na medida em que o Secretário-Geral da CPLP já se pronunciou sobre a questão, como, oportunamente foi publicado neste blogue. Entretanto, notei que Antoni – veterano autor de O Cacimbo – acrescentou ao meu comentário a ideia de que ninguém lhe prestaria atenção, salvo se fosse publicado como post. Pois bem, aqui fica: zigoto disse... Mais do que uma surpresa, a morte de Nino Vieira faz-me lembrar a "Crónica de uma morte anunciada".Embora, após a independência, Nino Vieira tenha assumido a presidência da República, era um militar (e não um político) que comandou no terreno a guerrilha do PAIGC como, aliás, aconteceu noutros países africanos, designadamente em Moçambique aonde Samora Machel teve o mesmo percurso.A instabilidade política e a violência têm sido uma constante naquele país, onde existem oito etnias e diversos credos religiosos.Nos últimos anos, a Guiné-Bissau tornou-se uma placa giratória do tráfico de droga, o que veio acrescentar mais problemas graves aos que já existiam.Tudo isto criou condições que faziam prever os acontecimentos desta madrugada em Bissau.Acresce que o sobre-dimensionado exército guineense tem relações estreitas - que já vêm da luta pela independência - com os militares da vizinha Guiné Conakry e, neste país, reina actualmente uma junta militar.O futuro próximo da Guiné-Bissau é uma incógnita mas não me surpreenderia que seguisse o mesmo caminho.Em África - ao contrário do que acontece na Europa - as Forças Armadas não se subordinam ao poder político: ou o partilham ou o exercem ditatorialmente.Em breve se saberá qual o desenlace de mais esta crise - que tanto pode passar por mais uma guerra civil como pela tomada pura e simples do Poder pelos militares que mataram o presidente e o chefe do Estado-Maior. 2 de Março de 2009 13:39 Do autor e companheiro deste blogue Antoni 115, recebi a seguinte sugestão a este comentário:Li com muita atenção o comentário acima e parece-me uma visao realista do que se passa na Guiné...Em vez de um comentário "escondido", que talvez poucos leiam, parece-me que deveria "ter honras" de Post..Pensa nisso, caro Zigoto... 2 de Março de 2009 22:10 Resta-me acrescentar que a ideia peregrina de prestar auxílio para manter a ordem pública (leia-se enviar tropa para o território, à revelia das instâncias internacionais competentes para o efeito, e acima referidas) me parece um completo disparate, bazófia ou pretensão de um governo que ainda não percebeu o seguinte: a Guiné-Bissau, pese a situação caótica em que se encontra, já não é uma colónia portuguesa. É um Estado soberano. As questões que afectam a comunidade dos países de língua portuguesa devem ser tratados pela CPLP . O Direito Internacional deve ser respeitado e, quando necessário, arbitrado pelo conselho de Segurança da ONU. Por tudo isso, a que título surge esta patética declaração de intenções do governo português? Neste caso, e até como Comandante Supremo das Forças Armadas, espera-se que o Presidente Cavaco Silva clarifique e corrija afirmações avulsas e gratuitas como as que têm vindo a público nas últimas horas. Para completar a súmula do que O Cacimbo tem publicado, a posição da CPLP é, por enquanto, a seguinte: Reacção da CPLP à situação na Guiné-Bissau Lisboa, 02 Mar (Lusa) - O secretário-geral da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), Domingos Simões Pereira, considerou hoje "infelizes" e "graves" os últimos acontecimentos na Guiné Bissau, que disse não o terem surpreendido, face ao que recentemente viu no país. "Não deixa de ser infeliz mais este registo verdadeiramente grave para a situação da Guiné-Bissau", disse à Lusa Domingos Simões Pereira, reagindo ao atentado à bomba que vitimou o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, general Tagmé Na Waié, e ao ataque à residência do Presidente guineense, Nino Vieira. Domingos Simões Pereira recordou que recentemente esteve no país para aferir junto das autoridades as condições de segurança em que viviam as diversas entidades. O secretário-geral da CPLP referiu ainda que se vive no país uma "situação difícil" que vem desde o último atentado a casa do presidente, em 23 de Novembro. Domingos Simões Pereira referiu ainda que a Guiné-Bissau continua a viver um momento de "fragilidade" que vai merecer o acompanhamento da situação.


O Governo português acaba de anunciar que está pronto a apoiar a Guiné-Bissau em tudo o que seja necessário para manter a”ordem pública” naquele país, sem que – ao que se saiba – as autoridades guineenses o tenham pedido. Simultaneamente, também foi anunciado que, a comunidade portuguesa residente em Bissau, não esteve envolvida nem foi afectada pelos acontecimentos que levaram aos assassinatos do Chefe do Estado Maior das Forças Armadas e do Presidente da República. O primeiro, através de uma atentado à bomba, pelas 20H00 de ontem e, o segundo, pelas 4 horas da madrugada de hoje, quando a residência de Nino Vieira foi atacada por forças do exército guineense. Sabendo-se que ainda nenhuma organização internacional – da Organização de Unidade Africana, à ONU, passando pela CPLP – ainda não levantou essa hipótese, estranha-se o voluntarismo do governo português. Nesse comunicado, o Governo português indica que vai convocar nas próximas horas uma reunião de emergência da Comunidade Portuguesa de Língua Portuguesa (CPLP) para debater os acontecimentos na Guiné-Bissau. Também esta “convocação” nos parece estranha, na medida em que o Secretário-Geral da CPLP já se pronunciou sobre a questão, como, oportunamente foi publicado neste blogue. Entretanto, notei que Antoni – veterano autor de O Cacimbo – acrescentou ao meu comentário a ideia de que ninguém lhe prestaria atenção, salvo se fosse publicado como post. Pois bem, aqui fica: zigoto disse... Mais do que uma surpresa, a morte de Nino Vieira faz-me lembrar a "Crónica de uma morte anunciada".Embora, após a independência, Nino Vieira tenha assumido a presidência da República, era um militar (e não um político) que comandou no terreno a guerrilha do PAIGC como, aliás, aconteceu noutros países africanos, designadamente em Moçambique aonde Samora Machel teve o mesmo percurso.A instabilidade política e a violência têm sido uma constante naquele país, onde existem oito etnias e diversos credos religiosos.Nos últimos anos, a Guiné-Bissau tornou-se uma placa giratória do tráfico de droga, o que veio acrescentar mais problemas graves aos que já existiam.Tudo isto criou condições que faziam prever os acontecimentos desta madrugada em Bissau.Acresce que o sobre-dimensionado exército guineense tem relações estreitas - que já vêm da luta pela independência - com os militares da vizinha Guiné Conakry e, neste país, reina actualmente uma junta militar.O futuro próximo da Guiné-Bissau é uma incógnita mas não me surpreenderia que seguisse o mesmo caminho.Em África - ao contrário do que acontece na Europa - as Forças Armadas não se subordinam ao poder político: ou o partilham ou o exercem ditatorialmente.Em breve se saberá qual o desenlace de mais esta crise - que tanto pode passar por mais uma guerra civil como pela tomada pura e simples do Poder pelos militares que mataram o presidente e o chefe do Estado-Maior. 2 de Março de 2009 13:39 Do autor e companheiro deste blogue Antoni 115, recebi a seguinte sugestão a este comentário:Li com muita atenção o comentário acima e parece-me uma visao realista do que se passa na Guiné...Em vez de um comentário "escondido", que talvez poucos leiam, parece-me que deveria "ter honras" de Post..Pensa nisso, caro Zigoto... 2 de Março de 2009 22:10 Resta-me acrescentar que a ideia peregrina de prestar auxílio para manter a ordem pública (leia-se enviar tropa para o território, à revelia das instâncias internacionais competentes para o efeito, e acima referidas) me parece um completo disparate, bazófia ou pretensão de um governo que ainda não percebeu o seguinte: a Guiné-Bissau, pese a situação caótica em que se encontra, já não é uma colónia portuguesa. É um Estado soberano. As questões que afectam a comunidade dos países de língua portuguesa devem ser tratados pela CPLP . O Direito Internacional deve ser respeitado e, quando necessário, arbitrado pelo conselho de Segurança da ONU. Por tudo isso, a que título surge esta patética declaração de intenções do governo português? Neste caso, e até como Comandante Supremo das Forças Armadas, espera-se que o Presidente Cavaco Silva clarifique e corrija afirmações avulsas e gratuitas como as que têm vindo a público nas últimas horas. Para completar a súmula do que O Cacimbo tem publicado, a posição da CPLP é, por enquanto, a seguinte: Reacção da CPLP à situação na Guiné-Bissau Lisboa, 02 Mar (Lusa) - O secretário-geral da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), Domingos Simões Pereira, considerou hoje "infelizes" e "graves" os últimos acontecimentos na Guiné Bissau, que disse não o terem surpreendido, face ao que recentemente viu no país. "Não deixa de ser infeliz mais este registo verdadeiramente grave para a situação da Guiné-Bissau", disse à Lusa Domingos Simões Pereira, reagindo ao atentado à bomba que vitimou o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, general Tagmé Na Waié, e ao ataque à residência do Presidente guineense, Nino Vieira. Domingos Simões Pereira recordou que recentemente esteve no país para aferir junto das autoridades as condições de segurança em que viviam as diversas entidades. O secretário-geral da CPLP referiu ainda que se vive no país uma "situação difícil" que vem desde o último atentado a casa do presidente, em 23 de Novembro. Domingos Simões Pereira referiu ainda que a Guiné-Bissau continua a viver um momento de "fragilidade" que vai merecer o acompanhamento da situação.

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