O CACIMBO: Conselheiro Dias Loureiro...

09-07-2009
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Em tempos que já lá vão, nem por isso muito longínquos, era um homem firme e determinado. Como ministro da Administração Interna, dava do Estado a imagem de autoridade que o então primeiro-ministro tanto prezava - à bastonada, se necessário, quando as manifestações ultrapassavam as (suas) marcas. Como secretário-geral do PSD, assegurava a disciplina reclamada pelo exercício do poder. Era temido, até pela influência que se pressentia ter sobre quem efectivamente mandava, Cavaco Silva..A certa altura, largou a política - em bom rigor, foi a política que o largou a ele, em 1995, quando o país trocou o cavaquismo de murro na mesa pelo guterrismo com aura de dialogante. Meteu-se no mundo dos negócios, alimentou a fama de gestor de sucesso, enriqueceu. Teria saído das parangonas dos jornais não fosse a crise económica precipitar o levantamento de uma parte do véu do BPN, instrumento financeiro da Sociedade Lusa de Negócios, por onde passara como administrador..Aí, redescobriu-se um Dias Loureiro bem diferente. Com lapsos de memória, pouca sensibilidade para as minudências da lei, falta de disponibilidade ou de paciência para apurar se dela foi feito gato sapato nesse universo empresarial. Nem a "contabilidade criativa" que permitiu dispersar pelas contas de diversas empresas os prejuízos dos negócios em Porto Rico lhe causou a mínima estranheza. Andava ali por ver andar os outros...."Pequeno detalhe": o homem que esta semana, a seu pedido, voltou ao Parlamento para ser ouvido no inquérito ao "caso BPN" é conselheiro de Estado. As explicações que deu sobre alegadas contradições não parecem ter convencido ninguém. Pelo contrário: provocaram a multiplicação de vozes que põem em causa a sua presença no órgão de aconselhamento do presidente da República. Mas Dias Loureiro, que não pode ser afastado nem por quem o nomeou, não arreda pé. Só aí se conserva a firmeza de outrora..A questão é política, exclusivamente política. Não se trata de, perante o caso, se vestir a pele de "julgador" que há meses Manuela Ferreira Leite recusou, senão na estrita dimensão política que o caso suscita. Na dimensão da respeitabilidade e credibilidade que um órgão como o Conselho de Estado deve preservar. Na dimensão do constrangimento em que Dias Loureiro coloca Cavaco Silva, como nota Paulo Rangel ou como antes notara Morais Sarmento..Com cada vez mais gente, no interior do seu próprio partido, a exigir que renuncie à condição de conselheiro, fragiliza-se ainda mais a posição do antigo ministro. Que deveria ser o primeiro interessado em desfazer a ideia de que se mantém no Conselho de Estado porque, graças à imunidade que proporciona, é um "escudo protector".Paulo Martinsin JN


Em tempos que já lá vão, nem por isso muito longínquos, era um homem firme e determinado. Como ministro da Administração Interna, dava do Estado a imagem de autoridade que o então primeiro-ministro tanto prezava - à bastonada, se necessário, quando as manifestações ultrapassavam as (suas) marcas. Como secretário-geral do PSD, assegurava a disciplina reclamada pelo exercício do poder. Era temido, até pela influência que se pressentia ter sobre quem efectivamente mandava, Cavaco Silva..A certa altura, largou a política - em bom rigor, foi a política que o largou a ele, em 1995, quando o país trocou o cavaquismo de murro na mesa pelo guterrismo com aura de dialogante. Meteu-se no mundo dos negócios, alimentou a fama de gestor de sucesso, enriqueceu. Teria saído das parangonas dos jornais não fosse a crise económica precipitar o levantamento de uma parte do véu do BPN, instrumento financeiro da Sociedade Lusa de Negócios, por onde passara como administrador..Aí, redescobriu-se um Dias Loureiro bem diferente. Com lapsos de memória, pouca sensibilidade para as minudências da lei, falta de disponibilidade ou de paciência para apurar se dela foi feito gato sapato nesse universo empresarial. Nem a "contabilidade criativa" que permitiu dispersar pelas contas de diversas empresas os prejuízos dos negócios em Porto Rico lhe causou a mínima estranheza. Andava ali por ver andar os outros...."Pequeno detalhe": o homem que esta semana, a seu pedido, voltou ao Parlamento para ser ouvido no inquérito ao "caso BPN" é conselheiro de Estado. As explicações que deu sobre alegadas contradições não parecem ter convencido ninguém. Pelo contrário: provocaram a multiplicação de vozes que põem em causa a sua presença no órgão de aconselhamento do presidente da República. Mas Dias Loureiro, que não pode ser afastado nem por quem o nomeou, não arreda pé. Só aí se conserva a firmeza de outrora..A questão é política, exclusivamente política. Não se trata de, perante o caso, se vestir a pele de "julgador" que há meses Manuela Ferreira Leite recusou, senão na estrita dimensão política que o caso suscita. Na dimensão da respeitabilidade e credibilidade que um órgão como o Conselho de Estado deve preservar. Na dimensão do constrangimento em que Dias Loureiro coloca Cavaco Silva, como nota Paulo Rangel ou como antes notara Morais Sarmento..Com cada vez mais gente, no interior do seu próprio partido, a exigir que renuncie à condição de conselheiro, fragiliza-se ainda mais a posição do antigo ministro. Que deveria ser o primeiro interessado em desfazer a ideia de que se mantém no Conselho de Estado porque, graças à imunidade que proporciona, é um "escudo protector".Paulo Martinsin JN

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