A Carta. Fernanda Leitão e está tudo dito

12-10-2009
marcar artigo


CARTA DO CANADÁFernanda LeitãoDE CARAS E CABEÇA LEVANTADAA LUSA, agência noticiosa estadual, paga pelos contribuintes, fez há dias um despacho que começava nestes termos: “O Congresso Nacional Luso-Canadiano (PCNC) denunciou hoje “práticas discriminatórias” nas escolas canadianas em relação a filhos de portugueses, frequentemente classificados como portadores de “deficiências de aprendizagem”.A acusação faz parte de um relatório cozinhado por várias pessoas, de que a LUSA destaca Ilda Januário, docente de língua francesa na Universidade de Toronto. Afirmando-se representante de 400 mil portugueses e luso-descentes, o relatório conclui que as crianças portuguesas são “rotuladas como portadoras de deficiência de aprendizagem” e com “menor grau de aptidões que a população em geral”, o que cria estigmas e provoca o abandono escolar. E acrescenta que “isto resulta de estereótipos, baixas expectativas escolares e avaliação incorrecta pelas instituições de ensino, baseadas nas dificuldades do domínio da língua inglesa e nas origens de classe social”. O documento termina exigindo “igualdade de oportunidades” e a “valorização da diversidade linguística”. Quanto à docente de língua francesa, adianta, segundo a notícia da LUSA, que “quando os filhos de pais portugueses vão para a escola sabem falar inglês, que aprenderam nas rua, mas têm dificuldades na escrita e na leitura” e são considerados como crianças com “deficiência de aprendizagem e colocadas em slas de ensino especial”.Em resumo: o relatório aponta o dedo acusador ao governo do Canadá e aos pais portugueses. O que muito nos surpreende, porque o Congresso Luso-Canadiano vive dos dinheiros dados pelo governo canadiano desde a sua fundação, somando já umas largas centenas de milhar de dólares, e chama implicitamente iliteratos e ignorantes aos portugueses que diz representar. Confrange-nos esta assunção pública e mesquinha de cuspir no prato onde comeu e na falsidade de pisar as pessoas concretas que são os trabalhadores com filhos nas escolas por parte de um congresso que, certamente, deseja ser credível e respeitável, sobretudo depois de, nos primeiros mandatos, ter torrado os fartos subsídios governamentais em mesas redondas pelo Canadá fora , numa espécie de “presidência aberta” atamancada e inútil.Claro que é verdade haver entre as centenas de milhar de emigrantes portugueses residentes no Canadá, um número não dispiciendo de analfabetos em estado puro e outros que correm ao chamado de analfabetos funcionais.Analfabetos e letrados, nenhum deles veio fazer turismo para o Canadá, antes se rebentaram com trabalho por largas dezenas de anos. Se vieram para o Canadá sem saber ler nem escrever ou com poucas letras, ninguém com um pingo de decência os pode acusar ou utilizar: eles não são culpados de, desde há pelo menos século e meio, os regimes e os governos que se sucederam em Portugal nada terem feito pela educação do povo, de quem só esperaram que trabalhasse como um mouro, de preferência longe, pagasse impostos, comprasse casas e terras em Portugal, mandasse remessas de dinheiro abundantes e, naturalmente, que votasse em quem os deputados da emigração queriam contra promessas de uma condecoração, um consulado honorário, uma bolsa para um filho que, coitado, se estende ao comprido nas universidades portuguesas por não dominar a língua lusa, uma filha que quer começar uma carreira auspiciosa com um tacho numa embaixada, e o grande raio que partisse os vendilhões de banha da cobra que também por cá têm abandalhado o povo com estas promessas. Só uma falta se pode e deve apontar a este povo: em vez de se revoltar, emigra. Em vez de dar um murro na mesa, conta anedotas e bebe copos.A gravidade deste relatório acusador do governo de um país que, de facto, oferece todas as oportunidades a todos os imigrantes, reside em factos muito concretos, a saber: há 10 (dez) anos atrás, um relatório que os jornais nacionais canadianos citaram abundantemente, afirmava que as crianças com pior aproveitamento escolar eram os filhos de portugueses e os de famílias negras.Nessa altura, os autoproclamados dirigentes da comunidade portuguesa, atroaram os ares com berreiros revoltados, jeremiadas, ameaças afadistadas e outras acções de requintado gosto.Passados dez anos (10), nada melhorou, sendo caso para perguntarmos em que têm sido gastos os dinheiros dados pelo governo canadiano a congressos, federações, clubes, comissões, projectos e ajuntamentos de vária ordem. Ao mesmo tempo, estando a funcionar na Universidade de Toronto um Departamento de Espanhol-Português há 57 anos, nunca ali se formou nenhum professor de português, sendo de assinalar que os jovens universitários de raíz lusa gastaram dinheiro e tempo frequentando os cursos ministrados por esse departamento, ora por um leitor, ora por uma instrutora, sem que ficassem absolutamente preparados para enfrentar universidades e estágios em Portugal. É chegada a altura de se fazerem perguntas ao Instituto Camões e à Universidade de Toronto.Não é acusando o governo canadiano, que não tem culpa de na comunidade existirem estes problemas, que se vai a lado algum. É de caras e de cabeça levantada que se pega este touro pelos cornos. Não é de cernelha nem ao estilo de toca e foge. É de frente que esta realidade tem de ser assumida, digerida e resolvida.Não é com mesas redondas para mentes quadradas que se pode inverter a descida da Língua Portuguesa para o abismo.Aqui são precisos professores competentes e cumpridores, integrados no ensino canadiano, que ganhem decentemente, que tenham turmas de tamanho razoável, que possam usufruir, ao menos de dois em dois anos, de reciclagem profissional.Há que destacar diplomatas que, acompanhados de peritos em língua portuguesa e seu ensino, desde o básico, reunam com as autoridades do país de acolhimento para se chegar ao acordo necessário e urgente: professores competentes de Portugal, pagos pelas escolas canadianas. Porque, Portugal já não dispõe de dinheiro para tão grande empresa como é esta de manter viva a Língua Portuguesa nas comunidades de emigrantes, de dar às crianças e jovens descendentes de portugueses a oportunidade de serem bons estudantes de todas as matérias.


CARTA DO CANADÁFernanda LeitãoDE CARAS E CABEÇA LEVANTADAA LUSA, agência noticiosa estadual, paga pelos contribuintes, fez há dias um despacho que começava nestes termos: “O Congresso Nacional Luso-Canadiano (PCNC) denunciou hoje “práticas discriminatórias” nas escolas canadianas em relação a filhos de portugueses, frequentemente classificados como portadores de “deficiências de aprendizagem”.A acusação faz parte de um relatório cozinhado por várias pessoas, de que a LUSA destaca Ilda Januário, docente de língua francesa na Universidade de Toronto. Afirmando-se representante de 400 mil portugueses e luso-descentes, o relatório conclui que as crianças portuguesas são “rotuladas como portadoras de deficiência de aprendizagem” e com “menor grau de aptidões que a população em geral”, o que cria estigmas e provoca o abandono escolar. E acrescenta que “isto resulta de estereótipos, baixas expectativas escolares e avaliação incorrecta pelas instituições de ensino, baseadas nas dificuldades do domínio da língua inglesa e nas origens de classe social”. O documento termina exigindo “igualdade de oportunidades” e a “valorização da diversidade linguística”. Quanto à docente de língua francesa, adianta, segundo a notícia da LUSA, que “quando os filhos de pais portugueses vão para a escola sabem falar inglês, que aprenderam nas rua, mas têm dificuldades na escrita e na leitura” e são considerados como crianças com “deficiência de aprendizagem e colocadas em slas de ensino especial”.Em resumo: o relatório aponta o dedo acusador ao governo do Canadá e aos pais portugueses. O que muito nos surpreende, porque o Congresso Luso-Canadiano vive dos dinheiros dados pelo governo canadiano desde a sua fundação, somando já umas largas centenas de milhar de dólares, e chama implicitamente iliteratos e ignorantes aos portugueses que diz representar. Confrange-nos esta assunção pública e mesquinha de cuspir no prato onde comeu e na falsidade de pisar as pessoas concretas que são os trabalhadores com filhos nas escolas por parte de um congresso que, certamente, deseja ser credível e respeitável, sobretudo depois de, nos primeiros mandatos, ter torrado os fartos subsídios governamentais em mesas redondas pelo Canadá fora , numa espécie de “presidência aberta” atamancada e inútil.Claro que é verdade haver entre as centenas de milhar de emigrantes portugueses residentes no Canadá, um número não dispiciendo de analfabetos em estado puro e outros que correm ao chamado de analfabetos funcionais.Analfabetos e letrados, nenhum deles veio fazer turismo para o Canadá, antes se rebentaram com trabalho por largas dezenas de anos. Se vieram para o Canadá sem saber ler nem escrever ou com poucas letras, ninguém com um pingo de decência os pode acusar ou utilizar: eles não são culpados de, desde há pelo menos século e meio, os regimes e os governos que se sucederam em Portugal nada terem feito pela educação do povo, de quem só esperaram que trabalhasse como um mouro, de preferência longe, pagasse impostos, comprasse casas e terras em Portugal, mandasse remessas de dinheiro abundantes e, naturalmente, que votasse em quem os deputados da emigração queriam contra promessas de uma condecoração, um consulado honorário, uma bolsa para um filho que, coitado, se estende ao comprido nas universidades portuguesas por não dominar a língua lusa, uma filha que quer começar uma carreira auspiciosa com um tacho numa embaixada, e o grande raio que partisse os vendilhões de banha da cobra que também por cá têm abandalhado o povo com estas promessas. Só uma falta se pode e deve apontar a este povo: em vez de se revoltar, emigra. Em vez de dar um murro na mesa, conta anedotas e bebe copos.A gravidade deste relatório acusador do governo de um país que, de facto, oferece todas as oportunidades a todos os imigrantes, reside em factos muito concretos, a saber: há 10 (dez) anos atrás, um relatório que os jornais nacionais canadianos citaram abundantemente, afirmava que as crianças com pior aproveitamento escolar eram os filhos de portugueses e os de famílias negras.Nessa altura, os autoproclamados dirigentes da comunidade portuguesa, atroaram os ares com berreiros revoltados, jeremiadas, ameaças afadistadas e outras acções de requintado gosto.Passados dez anos (10), nada melhorou, sendo caso para perguntarmos em que têm sido gastos os dinheiros dados pelo governo canadiano a congressos, federações, clubes, comissões, projectos e ajuntamentos de vária ordem. Ao mesmo tempo, estando a funcionar na Universidade de Toronto um Departamento de Espanhol-Português há 57 anos, nunca ali se formou nenhum professor de português, sendo de assinalar que os jovens universitários de raíz lusa gastaram dinheiro e tempo frequentando os cursos ministrados por esse departamento, ora por um leitor, ora por uma instrutora, sem que ficassem absolutamente preparados para enfrentar universidades e estágios em Portugal. É chegada a altura de se fazerem perguntas ao Instituto Camões e à Universidade de Toronto.Não é acusando o governo canadiano, que não tem culpa de na comunidade existirem estes problemas, que se vai a lado algum. É de caras e de cabeça levantada que se pega este touro pelos cornos. Não é de cernelha nem ao estilo de toca e foge. É de frente que esta realidade tem de ser assumida, digerida e resolvida.Não é com mesas redondas para mentes quadradas que se pode inverter a descida da Língua Portuguesa para o abismo.Aqui são precisos professores competentes e cumpridores, integrados no ensino canadiano, que ganhem decentemente, que tenham turmas de tamanho razoável, que possam usufruir, ao menos de dois em dois anos, de reciclagem profissional.Há que destacar diplomatas que, acompanhados de peritos em língua portuguesa e seu ensino, desde o básico, reunam com as autoridades do país de acolhimento para se chegar ao acordo necessário e urgente: professores competentes de Portugal, pagos pelas escolas canadianas. Porque, Portugal já não dispõe de dinheiro para tão grande empresa como é esta de manter viva a Língua Portuguesa nas comunidades de emigrantes, de dar às crianças e jovens descendentes de portugueses a oportunidade de serem bons estudantes de todas as matérias.

marcar artigo