Notas Verbais: António Braga. Carta do Canadá. Quem avisa, bem me quer

24-05-2009
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CARTA DO CANADÁFernanda LeitãoO CALVÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESANão fora ter, por grande acaso, tomado hoje café com dois professores de língua portuguesa e os pais de três crianças empenhados em transmitir a sua língua e cultura aos filhos, e eu não estaria agora a abusar do espaço das Notas Verbais e da paciência dos leitores. A verdade é que a conversa me incomodou e me sinto no dever de publicar o que sente esta comunidade em vésperas da visita do secretário de Estado das Comunidades, António Braga.Passo ao assunto. Garantiram-me os meus amigos que, precisamente por causa dessa visita, apareceu uma corrente querendo defender a tese de que seria melhor todo o ensino da língua portuguesa passar para o ensino integrado canadiano, de modo a fecharem-se as escolas privadas de Português e, consequentemente, lançar ao desemprego todos esses professores. A intenção seria, segundo percebi, poupar essa despesa a Portugal, o que é uma boa piada porque o Estado português não gasta um centavo com os professores das escolas privadas nem dá subsídios a essas escolas. É espantoso que se possa produzir um raciocínio tão asinino, absolutamente impróprio de quem, vivendo neste país, sabe como funcionam as escolas públicas.De facto, ao abrigo do multiculturalismo, a língua portuguesa é ministrada no ensino público: meia hora por dia, por grande coincidência o período de tempo do recreio de professores. É o que se chama uma grande lição para os perdulários que são os portugueses... E mesmo assim, só se na escola houver número considerado suficiente aos olhos da administração escolar. Sendo que os portugueses estão a mudar para outros bairros, distantes do território convencional da comunidade portuguesa, ficando até dispersos, sem constituirem bairros lusos, há escolas onde o número de alunos de ascendência portuguesa não chega para ter direito à tal meia hora (alguma vezes dada por estrangeiros que aprenderam a nossa língua). Somos, pois, ultrapassados pelas crianças das comunidades com maior número de crianças, e aí os chineses e os indianos levam a melhor, por exemplo.São em geral as famílias portuguesas continentais quem põe os filhos a aprender a sua língua na escola privada, paga mensalmente, mas onde têm mais tempo de estudo, melhor estudo, direito a exames anuais feitos no consulado para a hipótese de irem viver para Portugal ou frequentarem alguma universidade portuguesa. Se a escola não cumpre, os pais mudam os seus filhos para outra escola. Contam-se pelos dedos as crianças açoreanas que frequentam as escolas portuguesas, apesar de todos os (às vezes muito caros) actos promocionais nesse sentido do Governo Regional dos Açores. É uma opção, que se respeita, mas que deve ser conhecida para se evitarem demagogias e mal entendidos. Por tudo o que fica exposto acima e porque, repito, o governo de Lisboa não tem a menor despesa com as escolas privadas, e muito menos o Instituto Camões, que nunca se interessou minimamente pelo ensino básico, certamente porque não é essa a sua vocação e competência, e porque o ensino público é o que é, sem aparência de vir a mudar, talvez seja mais prudente pensar que este ensino integrado é uma experiência que está a chegar ao fim e, por isso, se torna necessário encarar de frente a necessidade das escolas privadas.As escolas privadas não são perfeitas, mas garantem melhor o futuro da língua portuguesa no Canadá. Podem, e devem, ser ajudadas em termos de aperfeiçoamento profissional, de reconhecimento de tempos de serviço para futuras reformas, de fornecimento de livros e jogos, se não gratuitos, ao menos por um preço razoável. É uma ilusão acreditar que a Escola Virtual será a panaceia para esta maleita. A verdade é que as escolas portuguesas particulares não dispõem de computadores, e algumas vezes os professores não estão treinados para usar este meio técnico, ao passo que as escolas públicas não autorizam a utilização dos computadores por escolas virtuais emanadas do estrangeiro.As coisas são o que são e não aquilo que gostaríamos que fossem.O senhor secretário de Estado das Comunidades é bem vindo e não se duvida que seja um governante atento e empenhado em encontrar as melhores soluções. Por isso lhe deixo esta matéria de meditação. Não estou sózinha nem apenas com aqueles amigos com quem tomei café. Posso garantir que muitos portugueses subscrevem o que acabo de transmitir ao governo de Lisboa, através da informação on line.


CARTA DO CANADÁFernanda LeitãoO CALVÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESANão fora ter, por grande acaso, tomado hoje café com dois professores de língua portuguesa e os pais de três crianças empenhados em transmitir a sua língua e cultura aos filhos, e eu não estaria agora a abusar do espaço das Notas Verbais e da paciência dos leitores. A verdade é que a conversa me incomodou e me sinto no dever de publicar o que sente esta comunidade em vésperas da visita do secretário de Estado das Comunidades, António Braga.Passo ao assunto. Garantiram-me os meus amigos que, precisamente por causa dessa visita, apareceu uma corrente querendo defender a tese de que seria melhor todo o ensino da língua portuguesa passar para o ensino integrado canadiano, de modo a fecharem-se as escolas privadas de Português e, consequentemente, lançar ao desemprego todos esses professores. A intenção seria, segundo percebi, poupar essa despesa a Portugal, o que é uma boa piada porque o Estado português não gasta um centavo com os professores das escolas privadas nem dá subsídios a essas escolas. É espantoso que se possa produzir um raciocínio tão asinino, absolutamente impróprio de quem, vivendo neste país, sabe como funcionam as escolas públicas.De facto, ao abrigo do multiculturalismo, a língua portuguesa é ministrada no ensino público: meia hora por dia, por grande coincidência o período de tempo do recreio de professores. É o que se chama uma grande lição para os perdulários que são os portugueses... E mesmo assim, só se na escola houver número considerado suficiente aos olhos da administração escolar. Sendo que os portugueses estão a mudar para outros bairros, distantes do território convencional da comunidade portuguesa, ficando até dispersos, sem constituirem bairros lusos, há escolas onde o número de alunos de ascendência portuguesa não chega para ter direito à tal meia hora (alguma vezes dada por estrangeiros que aprenderam a nossa língua). Somos, pois, ultrapassados pelas crianças das comunidades com maior número de crianças, e aí os chineses e os indianos levam a melhor, por exemplo.São em geral as famílias portuguesas continentais quem põe os filhos a aprender a sua língua na escola privada, paga mensalmente, mas onde têm mais tempo de estudo, melhor estudo, direito a exames anuais feitos no consulado para a hipótese de irem viver para Portugal ou frequentarem alguma universidade portuguesa. Se a escola não cumpre, os pais mudam os seus filhos para outra escola. Contam-se pelos dedos as crianças açoreanas que frequentam as escolas portuguesas, apesar de todos os (às vezes muito caros) actos promocionais nesse sentido do Governo Regional dos Açores. É uma opção, que se respeita, mas que deve ser conhecida para se evitarem demagogias e mal entendidos. Por tudo o que fica exposto acima e porque, repito, o governo de Lisboa não tem a menor despesa com as escolas privadas, e muito menos o Instituto Camões, que nunca se interessou minimamente pelo ensino básico, certamente porque não é essa a sua vocação e competência, e porque o ensino público é o que é, sem aparência de vir a mudar, talvez seja mais prudente pensar que este ensino integrado é uma experiência que está a chegar ao fim e, por isso, se torna necessário encarar de frente a necessidade das escolas privadas.As escolas privadas não são perfeitas, mas garantem melhor o futuro da língua portuguesa no Canadá. Podem, e devem, ser ajudadas em termos de aperfeiçoamento profissional, de reconhecimento de tempos de serviço para futuras reformas, de fornecimento de livros e jogos, se não gratuitos, ao menos por um preço razoável. É uma ilusão acreditar que a Escola Virtual será a panaceia para esta maleita. A verdade é que as escolas portuguesas particulares não dispõem de computadores, e algumas vezes os professores não estão treinados para usar este meio técnico, ao passo que as escolas públicas não autorizam a utilização dos computadores por escolas virtuais emanadas do estrangeiro.As coisas são o que são e não aquilo que gostaríamos que fossem.O senhor secretário de Estado das Comunidades é bem vindo e não se duvida que seja um governante atento e empenhado em encontrar as melhores soluções. Por isso lhe deixo esta matéria de meditação. Não estou sózinha nem apenas com aqueles amigos com quem tomei café. Posso garantir que muitos portugueses subscrevem o que acabo de transmitir ao governo de Lisboa, através da informação on line.

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