Açores 2010

20-05-2009
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“Os Simpsons” com a presença do arquitecto Frank Gehry.Os museus e as cidadesLonge da lógica do estrito coleccionismo, de onde antigamente surgiam, os museus são actualmente equipamentos públicos que se afirmam pela dinâmica que promovem nas cidades.Afastados já da perspectiva romântica que ditava o museu como o lugar do conhecimento, depósito de um espólio e de um olhar específico, os museus tendem hoje a ser entidades que encontram na sociedade a vontade de uma maior interacção.Em vez de conter, difundem. Em vez de ser um receptáculo, ou o lugar onde se mostra e agrega um determinado conjunto de objectos, os museus expandem e tendem a constituir-se como um local onde, das colecções permanentes às exposições temporárias, se cruzam vários saberes.Nessa dinâmica ou interacção com a sociedade, encontra o museu o propósito da sua reinvenção, onde mais do que afirmar, questiona.Os museus tendem assim a não ser mais o lugar das certezas, mas sim um lugar de dúvidas e possibilidades. É nessa lógica que os museus de Arte tomam algum protagonismo e merecem hoje maior atenção.Nestes últimos, a sua mudança passa sobretudo pela alteração da sua política expositiva que, embora mantendo critérios próprios, por vezes interessantes, por vezes questionáveis, é agora vista com outro fôlego e intensidade. Veja-se o surgimento de novas personagens como os comissários ou curadores e a forma como algumas exposições se reinventam ciclicamente. Mas a sua transformação passa também pela ligação ao local e à comunidade onde se inscrevem e a quem se tentam dirigir.Assim, há os museus que mantêm uma relação privilegiada com a cidade onde se formam e os outros que numa óptica distinta, se espalham por diferentes países. Um exemplo paradigmático do 1º caso é o Museu do Louvre. Paris não seria Paris, ou pelo menos a imagem que dela construímos, sem o Louvre. Ou Londres não seria Londres sem a Tate Gallery. Florença não seria a mesma sem os Uffizi ou Nova Iorque sem o Guggenheim.No entanto, museus como o Guggenheim espalham-se já por várias cidades e países, num crescimento cada vez maior. Hoje temos o de Nova Iorque, o de Las Vegas, o de Veneza, o de Berlim, e mais recentemente o de Bilbao.Mais do que o Guggenheim, pode então falar-se num Guggenheim, que independentemente do que faz ou como o faz, toma os contornos de um mundo global.Um museu marcante permite colocar uma cidade no mapa do turismo cultural. Foi o que se passou em Espanha, onde facilmente se percebeu que um equipamento daquela natureza obrigava a desenvolver a cidade de Bilbao para fora do estigma industrial e portuário, pelo qual até então era conhecida.Bilbao é hoje a cidade do Guggenheim espanhol. A sua imagem enquanto cidade mudou. Talvez não muito a sua imagem física, embora o edifício assuma contornos emblemáticos, mas mais a sua imagem simbólica. A imagem que a cidade projecta para fora e que vende enquanto tal.Neste caso, o sucesso do museu passou não só pela excelência do museu em si, mas também pela referência a Frank Gehry, o arquitecto americano que lhe deu rosto e o reinventou em Espanha.Porém, também é verdade que em paralelo a toda esta ambição, se desenvolveu um processo de marketing urbano que deu frutos nas eleições. Na verdade esta é uma estratégia que procura num edifício de excepção, um carimbo de qualidade, desenvolvimento e trabalho feito.Legitimado pela marca Frank Gehry, ou na versão nacional, a marca Siza Vieira, não há hoje autarca que não repita à exaustão esta fórmula, orgulhando-se de na sua terra também já existir um equipamento assinado pela mão do arquitecto-estrela.Por um lado há a garantia de um resultado visível e a mais valia de uma concepção informada. Por outro, há o pensar num edifício como se pensa num Rolex ou num Ferrari, o que é redutor. É correr o risco de se sobrepor com uma marca ou um artigo de luxo a tudo aquilo que o edifício e o seu programa podem oferecer, e de a sua primeira ambição não ser provavelmente a do crescimento cultural, mas sim a da visibilidade que por aí se pode ter.O papel dos museus enquanto equipamentos colectivos da cidade, da região ou do país, pela natureza do que fazem e pela forma como o fazem, promovem e estimulam o desenvolvimento cultural. Nesse sentido, sem grandes fundos, mas também sem grandes constrangimentos, o papel dos pequenos museus pode oferecer uma mais valia.Estas são estruturas que de uma forma acertiva, em conjunto ou em rede, podem construir uma relação menos mediática mas mais contínua com a sociedade a que se dirigem. Desejavelmente centradas, não num populismo imediato do entretenimento, mas antes na procura de um lento trabalho de divulgação e educação, os pequenos museus podem assim, na articulação com outras entidades (bibliotecas, auditórios, universidades, centros de cultura, associações culturais, etc.) reinventar o seu modo e o seu espaço, propondo outras formas de trabalho e naturalmente novos resultados.S.F.R. Publicado_Açoriano Oriental_10.06.2007


“Os Simpsons” com a presença do arquitecto Frank Gehry.Os museus e as cidadesLonge da lógica do estrito coleccionismo, de onde antigamente surgiam, os museus são actualmente equipamentos públicos que se afirmam pela dinâmica que promovem nas cidades.Afastados já da perspectiva romântica que ditava o museu como o lugar do conhecimento, depósito de um espólio e de um olhar específico, os museus tendem hoje a ser entidades que encontram na sociedade a vontade de uma maior interacção.Em vez de conter, difundem. Em vez de ser um receptáculo, ou o lugar onde se mostra e agrega um determinado conjunto de objectos, os museus expandem e tendem a constituir-se como um local onde, das colecções permanentes às exposições temporárias, se cruzam vários saberes.Nessa dinâmica ou interacção com a sociedade, encontra o museu o propósito da sua reinvenção, onde mais do que afirmar, questiona.Os museus tendem assim a não ser mais o lugar das certezas, mas sim um lugar de dúvidas e possibilidades. É nessa lógica que os museus de Arte tomam algum protagonismo e merecem hoje maior atenção.Nestes últimos, a sua mudança passa sobretudo pela alteração da sua política expositiva que, embora mantendo critérios próprios, por vezes interessantes, por vezes questionáveis, é agora vista com outro fôlego e intensidade. Veja-se o surgimento de novas personagens como os comissários ou curadores e a forma como algumas exposições se reinventam ciclicamente. Mas a sua transformação passa também pela ligação ao local e à comunidade onde se inscrevem e a quem se tentam dirigir.Assim, há os museus que mantêm uma relação privilegiada com a cidade onde se formam e os outros que numa óptica distinta, se espalham por diferentes países. Um exemplo paradigmático do 1º caso é o Museu do Louvre. Paris não seria Paris, ou pelo menos a imagem que dela construímos, sem o Louvre. Ou Londres não seria Londres sem a Tate Gallery. Florença não seria a mesma sem os Uffizi ou Nova Iorque sem o Guggenheim.No entanto, museus como o Guggenheim espalham-se já por várias cidades e países, num crescimento cada vez maior. Hoje temos o de Nova Iorque, o de Las Vegas, o de Veneza, o de Berlim, e mais recentemente o de Bilbao.Mais do que o Guggenheim, pode então falar-se num Guggenheim, que independentemente do que faz ou como o faz, toma os contornos de um mundo global.Um museu marcante permite colocar uma cidade no mapa do turismo cultural. Foi o que se passou em Espanha, onde facilmente se percebeu que um equipamento daquela natureza obrigava a desenvolver a cidade de Bilbao para fora do estigma industrial e portuário, pelo qual até então era conhecida.Bilbao é hoje a cidade do Guggenheim espanhol. A sua imagem enquanto cidade mudou. Talvez não muito a sua imagem física, embora o edifício assuma contornos emblemáticos, mas mais a sua imagem simbólica. A imagem que a cidade projecta para fora e que vende enquanto tal.Neste caso, o sucesso do museu passou não só pela excelência do museu em si, mas também pela referência a Frank Gehry, o arquitecto americano que lhe deu rosto e o reinventou em Espanha.Porém, também é verdade que em paralelo a toda esta ambição, se desenvolveu um processo de marketing urbano que deu frutos nas eleições. Na verdade esta é uma estratégia que procura num edifício de excepção, um carimbo de qualidade, desenvolvimento e trabalho feito.Legitimado pela marca Frank Gehry, ou na versão nacional, a marca Siza Vieira, não há hoje autarca que não repita à exaustão esta fórmula, orgulhando-se de na sua terra também já existir um equipamento assinado pela mão do arquitecto-estrela.Por um lado há a garantia de um resultado visível e a mais valia de uma concepção informada. Por outro, há o pensar num edifício como se pensa num Rolex ou num Ferrari, o que é redutor. É correr o risco de se sobrepor com uma marca ou um artigo de luxo a tudo aquilo que o edifício e o seu programa podem oferecer, e de a sua primeira ambição não ser provavelmente a do crescimento cultural, mas sim a da visibilidade que por aí se pode ter.O papel dos museus enquanto equipamentos colectivos da cidade, da região ou do país, pela natureza do que fazem e pela forma como o fazem, promovem e estimulam o desenvolvimento cultural. Nesse sentido, sem grandes fundos, mas também sem grandes constrangimentos, o papel dos pequenos museus pode oferecer uma mais valia.Estas são estruturas que de uma forma acertiva, em conjunto ou em rede, podem construir uma relação menos mediática mas mais contínua com a sociedade a que se dirigem. Desejavelmente centradas, não num populismo imediato do entretenimento, mas antes na procura de um lento trabalho de divulgação e educação, os pequenos museus podem assim, na articulação com outras entidades (bibliotecas, auditórios, universidades, centros de cultura, associações culturais, etc.) reinventar o seu modo e o seu espaço, propondo outras formas de trabalho e naturalmente novos resultados.S.F.R. Publicado_Açoriano Oriental_10.06.2007

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