LIVROS & LITERATURA: ZÉLIA GATTAI

13-10-2009
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Memorial do Amor - Zélia GattaiEste livro, que Zélia Gattai terminou de escrever aos 88 anos, em plena forma de sua espantosa juventude, foi inspirado na saudade, no amor, na amizade e na generosidade.Despedida"Sobre nossa casa, de Jorge e minha, na rua Alagoinhas, 33, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador da Bahia, muito já se disse, muito se cantou. Citada em prosa e verso, sobra-me, no entanto, ainda o que dela falar. Fico pensando se alcançarei escrever todas as histórias, tantas, de gente e de bichos que nela passaram nesses quarenta anos lá vividos. Neste momento, quando me despeço do lugar onde passei o melhor tempo de minha vida, ao deixar Jorge repousando sob a mangueira por nós plantada no jardim, mil lembranças afloram-me à cabeça. Lembro-me de coisas que para muitos podem parecer tolas, mas que para mim não são. Lembro-me, por exemplo, de duas mimosas lagartixas que viviam atrás de um quadro de Di Cavalcanti, acima da televisão da sala, e que tanto nos divertiram. Um belo dia elas apareceram, sem mais nem menos: uma toda rosada, quase transparente; a outra com listras escuras em volta do corpo. Jorge foi logo escolhendo: 'A zebrinha é minha.' A mais bonita, pois, ficou sendo a dele. A outra, que jeito? De dona Zélia. Recostados em nossas poltronas, após o jantar, para assistir aos noticiários de TV, vimos, pela primeira vez, as duas saírem de seu esconderijo, uma atrás da outra, direto para uma lâmpada acesa, do alto, reduto de mosquitos e de bichinhos atraídos pela luz. - Elas agora vão jantar - disse Jorge. Dito e feito: as duas se aproximaram docemente da claridade, estancaram a uma pequena distância da lâmpada e, imóveis, na moita, só observando. De repente, o bote fatal foi desfechado e lá se foi um dos insetos para o bucho da lagartixa de Jorge. Diante do perigo, quem era de voar voou, quem era de correr, correu, lá se foram os bichinhos, não sobrou um pra remédio, o campo ficou limpo. Estáticas, as duas sabidas aguardaram pacientes a volta das vítimas, que, inocentes, aos poucos foram criando coragem e se chegando para, ainda uma vez, cair na boca do lobo. Ainda uma vez o lobo foi a zebrinha, que, como num passe de mágica, abocanhou um mosquito. Encantado, Jorge ria de se acabar, provocando-me: 'A tua não é de nada!'. Eu protestei e ele riu mais ainda. Brincadeira boba, inocente, passou a ser nosso divertimento durante muitas e muitas noites, muitas e muitas noites voltamos à nossa infância".(Trecho do livro Memorial do Amor de Zélia Gattai, Editora Record).BiografiaAlém de Jorge Amado, as paixões de Zélia Gattai foram a fotografia e os livros. A estréia como escritora, no entanto, foi tardia, aos 63 anos. Anarquistas graças a Deus, de 1979, foi o primeiro de seus 12 títulos, entre memórias, romances e histórias infantis. Em 2000, lançou Cittá di Roma. Morando na Bahia desde 1952, quando ela e Jorge voltaram do exílio na Europa, Zélia fez do Estado um tema recorrente em sua obra. Um de seus livros mais festejados é A Casa do Rio Vermelho, no qual a escritora narra encontros curiosos ocorridos na morada do casal, na Rua Alagoinhas, 33, em Salvador. Durante suas viagens, os dois fizeram amizade pelos quatro cantos do mundo com figuras importantes da cultura internacional, o que fez de Jorge Amado um dos escritores brasileiros mais respeitados no exterior. Mais tarde, vários desses amigos passaram pela sua casa em Salvador, entre eles brasileiros ilustres como Vinicius de Moraes, Caetano Veloso e Dorival Caymmi, e estrangeiros de peso como o poeta Pablo Neruda, o cineasta Roman Polanski e o casal Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.Fonte: http://www.atarde.com.br/cultura/noticia.jsf?id=885089


Memorial do Amor - Zélia GattaiEste livro, que Zélia Gattai terminou de escrever aos 88 anos, em plena forma de sua espantosa juventude, foi inspirado na saudade, no amor, na amizade e na generosidade.Despedida"Sobre nossa casa, de Jorge e minha, na rua Alagoinhas, 33, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador da Bahia, muito já se disse, muito se cantou. Citada em prosa e verso, sobra-me, no entanto, ainda o que dela falar. Fico pensando se alcançarei escrever todas as histórias, tantas, de gente e de bichos que nela passaram nesses quarenta anos lá vividos. Neste momento, quando me despeço do lugar onde passei o melhor tempo de minha vida, ao deixar Jorge repousando sob a mangueira por nós plantada no jardim, mil lembranças afloram-me à cabeça. Lembro-me de coisas que para muitos podem parecer tolas, mas que para mim não são. Lembro-me, por exemplo, de duas mimosas lagartixas que viviam atrás de um quadro de Di Cavalcanti, acima da televisão da sala, e que tanto nos divertiram. Um belo dia elas apareceram, sem mais nem menos: uma toda rosada, quase transparente; a outra com listras escuras em volta do corpo. Jorge foi logo escolhendo: 'A zebrinha é minha.' A mais bonita, pois, ficou sendo a dele. A outra, que jeito? De dona Zélia. Recostados em nossas poltronas, após o jantar, para assistir aos noticiários de TV, vimos, pela primeira vez, as duas saírem de seu esconderijo, uma atrás da outra, direto para uma lâmpada acesa, do alto, reduto de mosquitos e de bichinhos atraídos pela luz. - Elas agora vão jantar - disse Jorge. Dito e feito: as duas se aproximaram docemente da claridade, estancaram a uma pequena distância da lâmpada e, imóveis, na moita, só observando. De repente, o bote fatal foi desfechado e lá se foi um dos insetos para o bucho da lagartixa de Jorge. Diante do perigo, quem era de voar voou, quem era de correr, correu, lá se foram os bichinhos, não sobrou um pra remédio, o campo ficou limpo. Estáticas, as duas sabidas aguardaram pacientes a volta das vítimas, que, inocentes, aos poucos foram criando coragem e se chegando para, ainda uma vez, cair na boca do lobo. Ainda uma vez o lobo foi a zebrinha, que, como num passe de mágica, abocanhou um mosquito. Encantado, Jorge ria de se acabar, provocando-me: 'A tua não é de nada!'. Eu protestei e ele riu mais ainda. Brincadeira boba, inocente, passou a ser nosso divertimento durante muitas e muitas noites, muitas e muitas noites voltamos à nossa infância".(Trecho do livro Memorial do Amor de Zélia Gattai, Editora Record).BiografiaAlém de Jorge Amado, as paixões de Zélia Gattai foram a fotografia e os livros. A estréia como escritora, no entanto, foi tardia, aos 63 anos. Anarquistas graças a Deus, de 1979, foi o primeiro de seus 12 títulos, entre memórias, romances e histórias infantis. Em 2000, lançou Cittá di Roma. Morando na Bahia desde 1952, quando ela e Jorge voltaram do exílio na Europa, Zélia fez do Estado um tema recorrente em sua obra. Um de seus livros mais festejados é A Casa do Rio Vermelho, no qual a escritora narra encontros curiosos ocorridos na morada do casal, na Rua Alagoinhas, 33, em Salvador. Durante suas viagens, os dois fizeram amizade pelos quatro cantos do mundo com figuras importantes da cultura internacional, o que fez de Jorge Amado um dos escritores brasileiros mais respeitados no exterior. Mais tarde, vários desses amigos passaram pela sua casa em Salvador, entre eles brasileiros ilustres como Vinicius de Moraes, Caetano Veloso e Dorival Caymmi, e estrangeiros de peso como o poeta Pablo Neruda, o cineasta Roman Polanski e o casal Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.Fonte: http://www.atarde.com.br/cultura/noticia.jsf?id=885089

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